O período conhecido como “Regencial”, de 1831 (abdicação de d. Pedro I) até 1840 (maioridade de d. Pedro II), testemunhou grandes movimentos de revolta em todo Brasil – seja por parte da elite descontente com a centralização imposta pelo império (como a guerra civil dos farrapos, no Rio Grande do Sul), seja por parte da população mais humilde, sem direitos políticos.
A Cabanagem foi uma das mais populares revoltas regenciais. De acordo com o historiador Caio Prado Junior: “foi o mais notável movimento popular do Brasil. O único em que as camadas mais inferiores da população conseguem ocupar o poder de toda uma província com certa estabilidade. (...) primeira insurreição popular que passou da simples agitação para uma tomada efetiva de poder.”
O nome Cabanagem vem de cabanos, que são os pobres habitantes de palafitas – cabanas – às margens dos rios da região do Grão-Pará, província ao norte do Brasil [1]. Foram, entretanto, esses cabanos, em sua maioria mestiços, índios e escravizados, os principais protagonistas do movimento; que se estendeu de 1835 até 1840– só perdendo em longevidade para a guerra civil dos gaúchos (que por terem mais recursos – pois os líderes farrapos eram estancieiros e donos de escravizados – tinham mais condições de manter seu movimento).
Ilustração sobre a Cabanagem |
O governo central enviou uma armada que bombardeou Belém. Os mais abastados conseguiram fugir, foram os cabanos revoltados os principais alvos dos ataques.
Mesmo após sofrer estas violências, alguns cabanos conseguiram se reunir na floresta e sob o comando de Eduardo Angelim, um jovem de 21 anos, prepararam um ataque à capital Belém.
Angelim e os cabanos venceram os legalistas e chegaram e formar um breve governo, de cunho popular, mas foram derrotados novamente e severamente perseguidos. Houve uma grande carnificina. Mas os latifundiários voltaram a dormir em paz.
Ao fim e ao cabo, os cabanos se levantaram contra o governo em busca de melhores condições de vida e de trabalho. A miséria era uma constante nas populações cabanas. Esta população, com o governo de Angelim, teve uma efêmera vitória. Mas o discurso de amplas reformas e abolição dos escravos que pegassem em armas a favor do governo cabano acabou por assustar as classes mais ricas, os donos de latifúndios e de trabalhadores escravizados. Em pouco tempo uma nova ofensiva imperial destroçou o governo cabano. Os apoiadores do governo rebelde foram perseguidos e fuzilados. Um terço da população local foi praticamente dizimada – a camada mais pobre.
OBSERVAÇÃO : NÃO CONFUNDIR CABANAGEM (GRÃO-PARÁ)COM A GUERRA DOS CABANOS(PERNAMBUCO).
Notas:
[1] Hoje a região se divide em Amazonas, Amapá, parte do Maranhão, Pará e Roraima.
Referências:
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2012.
RECCO, Claudio. O povo no poder. In: Revista desvendando a História: Revoltas brasileiras. São Paulo: escala educacional, 2008.
SCHMIDT, Mario. Nova História Crítica. São Paulo: Nova Geração, 2002.
Áudio e Vídeo
Fábio Melo. Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Pesquisa sobre História Social da América e Educação na América (América Latina e Estados Unidos). Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na rádio 3w. Tem diversos textos escritos sobre educação, cultura e política.
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