Para os EUA a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) foi a “boa guerra”. Isto porque foi ela que acabou definitivamente os problemas decorrentes da crise de 1929. O New Dealdo presidente Franklin D. Roosevelt “arrumou a casa”, organizou a economia e assistiu socialmente os desempregados. Foram medidas tímidas, mas sem dúvida efetivas. A economia do esforço de guerra, voltou todo o parque industrial para manter os custos das batalhas na Europa; os EUA não sentiram em seu território – exceto na base naval de Pearl Harbour, no Hawaii – a destruição de cidades e de seu parque industrial. Sendo assim, a guerra manteve em alta a produção industrial, aumentando os lucros e empregando os desempregados. De acordo com o historiador Sean Purdy a guerra foi tão essencial para recuperar a economia estadunidense que o diretor da General Motors da época teria dito que um cenário de gurra permanente seria o ideal para a economia estadunidense.
A política interna dos EUA durante a guerra foi a de “guerra total”. A ideia de que os EUA lutavam pela liberdade e pela democracia, contra o fascismo e o totalitarismo, despertaram nos cidadãos o sentimento nacional. Essa, entretanto, era a visão oficial, a do governo. Sendo assim, qualquer atividade, seja sindical ou até mesmo artística, que não fosse direcionada pelos ideais oficiais seria tida como “antiamericana” e sujeita a penalização. Houve, nesse período, uma onda de preconceito contra japoneses; pois o Japão atacou os EUA no Hawaii.
Nos anos pós-guerra, a política interna se concentrou em criar uma imagem de guerra contra o comunismo. O “marcarthismo” é a expressão da política interna dos EUA, que num contexto global seria chamada de “Guerra Fria”, de combate e contenção ao comunismo. O marcarthismo se caracterizava pela repressão a todo e qualquer cidadão que expressasse alguma simpatia pelo socialismo, ou pela URSS; era a chamada “caça as bruxas”, entenda-se “bruxa” como comunistas. O nome marcarthismo se deve ao senador Joseph McCarthy, famoso pelo seu Comitê de Investigação de Atividades Antiamericanas. O governo manteve uma política de “bem-estar social” (oriunda da época do New Deal), devido aos resultados “benéficos” para os EUA da guerra européia/mundial. Nos anos de 1950, o conservadorismo predominou na vida dos estadunidenses. Os ideais de consumo e de prosperidade familiar foram retomados após a guerra dar um fim a Depressão.
No cenário externo, os EUA se apresentaram como os “salvadores do mundo”. A guerra fora boa para sua economia e política. Mas era necessário a estabilidade para manter a economia ativa, entretanto isso só teria bons resultados se tivesse um estado de guerra permanente. Essa ambiguidade foi resolvida com a criação da Guerra Fria: uma guerra entre “capitalismo e comunismo”, mas que é, na verdade, uma guerra entre países do Norte (ditos desenvolvidos e/ou industrializados) contra os do Sul (em desenvolvimento e/ou em processo de industrialização). A evolução da política externa estadunidense para a Guerra Fria pode ser entendida através da mudança de paradigma: da Doutrina Roosevelt para a Doutrina Truman.
Ainda durante a guerra, algumas conferências entre os países aliados foram realizadas. Uma delas, em Yalta (na URSS), contou com a presença do presidente Roosevelt; além de Stalin e Churchill (primeiro-ministro inglês). Nesta conferência ficou “acordado” uma “divisão” do mundo sob a hegemonia das três potências: EUA, URSS e Inglaterra. Roosevelt, ao contrário de Churchill, defendia que a URSS deveria se inserir na “Nova Ordem Mundial” que estava se desenhando com a derrota do fascismo. Mas Roosevelt não viveu até o fim da guerra, sua saúde estava muito debilitada há anos. Em seu lugar assumiu o vice Harry Truman que divergia quanto ao papel da URSS nesta “Nova Ordem Mundial”. Para Truman, a URSS deveria ser “contida”; a influência comunista não poderia ultrapassar as fronteiras do seus territórios. Esta Doutrina Trumanfoi responsável pela expressão “cortina de ferro” cunhada por Chirchill, e, posteriormente, pelo incentivo às Doutrinas de Segurança Nacional nos países da América Latina, responsável pela articulação dos regimes ditatoriais dos anos 1960/1970 – que foram estrategicamente apoiados pelos EUA[1]
Com o discurso de ameaça comunista, os EUA se tornaram os “xerifes do mundo”; governantes e políticos conseguiram inculcar em alguns políticos e governantes do mundo (através dos serviços de segurança e informações – como FBI e CIA) a ideia de que eles eram os “guardiões” da liberdade e da democracia no mundo Ocidental. Para se manter nesta posição foi essencial e estratégico o papel da ONU e da criação do Estado de Israel. A ONU deveria ser um conselho onde cada país resolveria seus problemas através do diálogo e da negociação, sem ser necessário o uso da força. Os EUA, seus aliados na Europa e a URSS acabaram por ficar no comando da ONU, sendo membros do mais alto órgão da instituição, o Conselho de Segurança. O Estado de Israel também teve um papel importante para a consolidação da política externa dos EUA. Isto porque, a criação de um Estado financiado pelos EUA no Oriente Médio seria a base para que o governo estadunidense tomasse um “vácuo” deixado pela Inglaterra na região, e assim ter contato direto com a principal região produtora de petróleo do mundo.
Outros pontos estratégicos da política internacional dos EUA neste período são o Plano Marshall e a criação da OTAN. O Plano Marshall estadunidense serviu para a reestruturação econômica da Europa Ocidental, arrasada na guerra. Para os EUA investirem seus capitais na recomposição econômica era necessário que os países europeus se alinhassem às políticas e aos ideais de liberdade e democracia dos EUA (Doutrina Truman). Assim, os países que quisessem se beneficiar do plano de reestruturação dos EUA deveriam se alinhar às políticas de contenção ao comunismo; em alguns casos até reprimindo partidos e movimentos de trabalhadores. O aspecto militar desta integração dos países europeus com os EUA, sob a égide da contenção ao comunismo, foi a criação da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) em 1949.
Notas:
[1] Todo aparelho repressor dos governos ditatoriais na América Latina foi estimulado pelos EUA e sua “Escoladas Américas”, uma instituição criada pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos, criada em 1946 el localizada no Panamá (até 1984). Esta escola militar foi uma verdadeira escola de torturadores, pois em seu currículo se ensinava a torturar. Basta citar que os ditadores Hugo Banzer, da Bolívia, e Rafael Videla, Argentina, constaram entre seus “alunos” para se ter uma ideia da influência que as doutrinas lecionadas na Escola tiveram na política de muitos países.
REFERÊNCIAS:
KARNAL, Leandro (org.). História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. São
Paulo: Contexto, 2011.
HUBERMAN, Leo. História da Riqueza dos EUA (Nós, o povo). São Paulo: Brasiliense,
1987.
LOHBAUER, Christian. História das relações internacionais II:O século XX: do declínio
europeu à Era Global. Petrópolis: Vozes, 2005.
VIZENTINI, Paulo. História do século XX. Porto Alegre: Leitura XXI, 2007.
Fábio Melo. Membro
Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata.
Pesquisa sobre História Social da América e Educação na América
(América Latina e Estados Unidos). Produtor e radialista do programa
"História em Pauta" na rádio La Integracion. Tem diversos textos escritos sobre
educação, cultura e política.
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