Síntese de história da cultura brasileira (citação)

"Nestas rebeliões, como nas tormentas parlamentares, aparecem sempre com destaque os religiosos, padres e frades liberais, maçons, conspiradores, que usam o púlpito para as pregações políticas, destacam-se nas lides legislativas, são jornalistas destemidos e participam das conspirações e insurreições como elementos de vanguarda e que serão nelas os heróis e os mártires, figuras como Muniz Tavares e José Custódio Dias, como frei Miguelinho e Pe. Mororó, como frei Caneca e Pe. Roma. As formulações desses religiosos, como as dos jornalistas e panfletários, do tipo Soares Lisboa ou Borges da Fonseca, como as dos parlamentares, do tipo Cipriano Barata ou Gonçalves Ledo, como as dos programadores e doutrinários, do tipo Sabino Vieira ou Abreu e Lima, são calcadas em pensamento político transplantado e decorrem da confiança na força normativa da inteligência mais do que do conhecimento, ou, particularmente, da adaptação das idéias à realidade. Nesse sentido, o radicalismo de suas posições serviu às componentes mais retrógradas, permitindo-lhes, pela evidência da agitação, articular repressões e atrasar reformas. Esse descompasso entre a formulação politica avançada e o atrasado do meio, que foi a nota constante nas manifestações de rebeldia dos letrados, traduzia talvez o inconformismo com as nossas deficiências mas, de uma forma ou de outra, mostrava o traço de alienação cultural peculiar aos povos de passado colonial, enquanto não se desembaraçam da herança que esse passado deixou." (SODRÉ, 1986, p. 40-41)

Nelson Werneck Sodré


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