A REVOLUTA DE TUPAC AMARU

Tupac Amaru II
No final do século XVIII, um evento serviu para estremecer a elite dominante do vice-reino do Peru: o levante indígena de Tupac Amaru. Em 1780, os altos impostos pagos pelos mestiços e indígenas causaram a revolta de alguns grupos locais. José Gabriel Condorcanqui (1739-1781), um indígena, cacique de um povo já assimilado pelos criollos, tomou a frente dos descontentes, dando início a um verdadeiro movimento reformista.

Condorcanqui adotou o nome de “Tupac Amaru II” e se tornou um caudilho dos explorados. O nome indígena Tupac Amaru provinha de um antigo inca que nos primeiros anos da colonização espanhola resistiu bravamente ao invasor europeu. O preço que pagou por esta resistência foi a morte: teve a cabeça cortada e exposta na Plaza Mayor de Cuzco. Condorcanqui, se apropria do nome; como se estivesse dando um recado aos setores dominantes: a resistência não terminou.

O movimento reformista de José “Tupac Amaru” Condorcanqui buscava diminuir os impostos mas em nenhum momento tocou na questão do sistema colonial. O principal alvo era a forma que a administração tratava os índios e mestiços, cobrando altos tributos conseguidos à custa de exaustivo trabalho. Uma prova deste trabalho exaustivo é que até mesmo crianças de oito anos de idade eram obrigados a trabalhar 16 horas! Quem não trabalhasse, era punido com pancadas. Neste sentido, além da questão dos impostos, Tupac Amaru queria acabar com as brutalidades exercidas sobre o trabalho indígena, seja nas minas ou nas fabriquetas locais, conhecidas como obrajes.

“A grande rebelião explodiu na província de Tinta. Montado em seu cavalo branco, Tupac Amaru entrou na praça de Tungasuca e, ao som de flautas e tambores, anunciou que condenara à forca o corregedor real Antonio Juan de Arriaga, e determinou a proibição da mita de Potosí.”[1]

A independência não era o objetivo do movimento de Tupac Amaru. Ainda assim ele era perigoso para a elite local. Afinal, a maioria da população era indígena. Se a revolta se estendesse os criollos ricos e funcionários enviados da Espanha estavam perdidos.

As adesões ao movimento de Tupac Amaru foram intensas, principalmente entre os indígenas e criollos pobres. De 1780 até 1781 (fim da revolta) Tupac Amaru II e seus seguidores dominaram vastas regiões perto de Cuzco, importante cidade do vice-reino – e antiga capital do império inca.

Claro que uma revolta destas proporções não ficaria assim. As elites locais trataram de se mexer para sufocar o movimento. A elite transformou uma revolta por menos impostos em uma revolta de índios contra não-índios. Era como se os ricos dissessem aos desinformados: “cuidado com a revolta de Tupac, pois é uma revolta de índios contra brancos, sejam eles pobres ou ricos”. Sacou a jogada? Nota-se que a manipulação de informações não é algo novo. Assim, criollos pobres e mestiços ficaram ao lado da elite, pois pensavam que seriam mortos pelos indígenas se a revolta chegasse até eles.

Com amplo apoio social, a elite facilmente acabou com o movimento. O líder Tupac Amaru foi preso. Acusado de “alta traição” cortaram sua língua e esquartejaram seu corpo em praça pública, tal qual seu antepassado de mesmo nome. Esta morte violenta deveria servir para que os outros não seguissem seu exemplo, pois teriam o mesmo fim. Mas se os funcionários coloniais e governadores achavam que acabando com o movimento de Tupac Amaru poderiam dormir sossegados se enganaram! Tupac se tornou uma referência para todos os indígenas que ainda sofriam nas mãos daqueles que estavam veiculados ao sistema colonial.


Notas:

[1]GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina. Porto Alegre: L&PM, 2013, p. 72.


REFERÊNCIAS:

GALEANO, Eduardo. As caras e as máscaras. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.________. As veias abertas da América Latina. Porto Alegre: L&PM, 2013.

SCHWARTZ, Stuart; LOCKHART, James. A América Latina na época colonial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.

Sobre o Autor:
Fábio Melo
Fábio Melo. Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Pesquisa sobre História Social da América e Educação na América (América Latina e Estados Unidos). Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na rádio 3w. Tem diversos textos escritos sobre educação, cultura e política. 

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