Revolução Cubana (Verbete)

A revolução cubana foi um dos eventos mais importantes do século XX e foi um momento decisivo para todos os americanos. Para os cubanos, a revolução de 1959 foi a verdadeira independência, completando finalmente a revolução de 1898 que pôs fim ao domínio espanhol, ao finalizar também a dominação norte-americana na ilha, uma condição humilhante imposta em 1902.

A revolução cubana foi essencialmente uma revolução democrática de velho tipo, ou seja, uma revolução mais ao modo da francesa, nacional e democrática, do que ao modo da chinesa, uma revolução democrática que transitou ao socialismo.

O movimento que gerou a revolução cubana não foi um movimento marxista-leninista e nacionalista democrático. O pequeno grupo armado de doze barbudos de Sierra Maestra agiu apenas como uma ponta de lança para inúmeros outros movimentos sociais que agiam nas cidades e que, atuando pacificamente, não poderiam derrubar a ditadura de Batista.

Fidel Castro é, antes de ser marxista, um seguidor de José Martí, um nacionalista. Sua adesão ao “marxismo” ocorreu porque, sem o apoio da União Soviética, não havia como manter-se no poder e fazer as reformas prometidas durante a campanha de derrubada de Batista. O grupo de Fidel pôde avançar significativamente porque os USA mesmo passaram a buscar aproximar-se desse grupo, deixando de lado a ditadura de Batista. A busca dos USA era cooptar Castro e o setor nacionalista que ele representava, tornando-o um gestor confiável da condição semicolonial. No entanto, os interesses da burguesia nacional que apoiou Castro entraram em choque com os interesses norte-americanos e, para avançar estatizando as empresas estrangeiras, o grupo de Castro precisou do apoio da União Soviética social-imperialista. Pode-se dizer que o castrismo é um nacionalismo pintado de vermelho. Assemelha-se a um Vargas ou Perón que faz discursos sobre marxismo-leninismo.

As mudanças que Fidel Castro fez, reforma agrária e estatização de multinacionais, estiveram presentes também em revolução de velho tipo como foram a revolução líbia que levou ao poder Khadafi em 69 e um movimento semelhante que deu poder a Saddam Hussein. Essas transformações, radicais para um país como o Brasil, não configuram, na verdade, uma revolução socialista.

Che Guevara e Fidel Castro, já primeiro-ministro cubano, na década de 60
Sendo assim, a sistematização que foi feita da revolução cubana nos textos de Regis Debray foi falsa. O foco não funciona, pois um pequeno grupo não pode enfrentar um exército como o norte-americano. A guerra revolucionária é guerra popular, é guerra de massas, nunca é obra de um grupo de super-homens, ideia fora da realidade que é reforçada por Debray. Fidel Castro também fez bravatas nesse sentido, chegando a dizer: “eu, sozinho, posso fazer a revolução no Brasil”.Debray já renegou essa teoria do foco e Cuba também já aderiu, há décadas, ao pacificismo e ao revisionismo oportunista como política internacional para buscar seus interesses nacionais, daí seu apoio ao Partido dos Trabalhadores brasileiro, por exemplo.

Pode-se dizer que o regime de Castro obteve avanços democráticos, mas pouco ou nada avançou no rumo do socialismo: o país permaneceu como colônia da União Soviética e seu bloco, permanecendo como país produtor de produtos primários. Além de bons indicadores nos serviços públicos, Cuba criou vários mecanismos de democracia direta, mas pode-se dizer que o poder na verdade está na cúpula do partido comunista e na burguesia associada ao estado. Esses mecanismos são mais consultivos do que deliberativos.

A classe dominante ainda é a burguesia nacionalista. O grande dilema que permanece agora é se o regime permanecerá estável ou avançará no sentido da volta do capitalismo clássico.


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Sobre o Autor:


Lúcio Junior Espírito Santo. Graduado em Filosofia. Mestre em Estudos Literários/UFMG. Blog: revistacidadesol.blogspot.com). Bom Despacho, Minas Gerais. Nascido em Uberaba, 1974.

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