JOHN BROWN E A ABOLIÇÃO RADICAL

Para muitos historiadores a abolição da escravidão nos Estados Unidos foi obra do “grande estadista” Abraham Lincoln, através de sua “boa vontade”, e “espírito humanista” em assinar a 13a Emenda na Constituição de 1787. Sem desmerecer completamente o papel do presidente Lincoln, vamos tratar neste texto de um dos principais líderes do movimento abolicionista radical nos Estados Unidos: John Brown. Este movimento radical foi responsável por alguns episódios importantes na luta pelo fim da escravidão nos Estados Unidos; embora poucos historiadores tratem dele.

Você já leu sobre John Brown em algum livro didático?

Antes de mais nada é preciso esclarecer que na América escravidão e capitalismo não foram completamente antagônicos. E nos Estados Unidos isto fica muito claro. Num contexto global, é possível dizer que a escravidão proporcionou o “impulso” necessário para a Revolução Industrial e para o estabelecimento do capitalismo como um processo mundial.

JOHN BROWN
John Brown nasceu no ano de 1800 em Torrington, Connecticut. Em 1820 casou-se e comprou um pedaço de terra na Pennsylvania onde instalou um curtume. Adepto do puritanismo, Brown acreditava que só através das ações pessoais os homens poderiam encontrar a justiça. Em 1837 um fato mudou a vida de Brown. O pastor Elijah Lovejoy, um ardoroso defensor da abolição, foi morto por um grupo de escravistas. Com a morte do amigo, John Brown prometeu a si mesmo acabar com a escravidão.

Após falir com seu negócio de curtume (devido a uma crise econômica chamada na história dos EUA de “pânico de 1837”), Brown e sua família mudam-se para a cidade de Springfield, Massachusetts, onde se envolveu com comunidades religiosas locais, também adeptas do fim da escravidão. Acabou se tornando um ativista conhecido na causa da abolição.

Foi nas reuniões de militantes antiescravistas que surgiu a ideia de transformar o estado da Virgínia livre da escravidão através de um levante de trabalhadores escravizados. Para Brown: “a escravidão é um estado de guerra!”

A partir de então grupos de abolicionistas entravam nas fazendas e libertavam os trabalhadores escravizados. Obviamente, estas ações encontravam resistências por parte dos fazendeiros e havia conflitos.

O movimento radical de Brown causava pânico não só aos fazendeiros escravistas do sul, mas também a muitos nortistas; inclusive daqueles que se organizavam em sociedades abolicionistas mais moderadas. A lógica dos abolicionistas moderados, contrários aos métodos de Brown, é muito simples: se houver abolição da escravidão, que seja feita sob o comando dos brancos e na mais absoluta paz e tranquilidade. O próprio Brown dizia que estes abolicionistas moderados eram muito das palavras, enquanto era preciso ações.

Em 1856, no então território do Kansas, ocorreu o “massacre de Pottawatomie”. A cidade de Lawrence foi fundada em 1854 por antiescravistas no intuito de tornar o Kansas um “estado livre” da escravidão. Um grupo de defensores da escravidão atacou a cidade no dia 21 de maio, com o objetivo de arruinar a cidade. John Brown organizou uma força guerrilheira para ajudar os colonos de Lawrence e num conflito 5 escravistas morreram. Obviamente o termo “massacre” foi cunhado pelos escravistas – se 5 deles morreram, quantos trabalhadores escravizados morriam diariamente nos trabalhos exaustivos nas fazendas e nas lutas por sua liberdade?

Compromisso do Missouri

A partir deste episódio uma série de outras lutas entre abolicionistas radicais e escravistas aconteceu no Kansas, estes eventos ficaram conhecidos como “Kansas Sangrento” (Bleeding Kansas); houve mortes de ambos os lados. Como resultado destas lutas, o “Compromisso do Missouri” (1820 – que dispunha sobre a permissão da escravidão nos novos estados que vinham se formando no oeste), foi anulado.

Em 1859, Brown e seu grupo de abolicionistas radicais tentaram invadir o arsenal da cidade de Harpers Ferry, na Virgínia. Seu objetivo era armar um grande levante de trabalhadores escravizados na região. As tropas nortistas venceram os abolicionistas radicais e capturaram Brown, gravemente ferido no conflito. No mesmo ano, ele foi condenado como “traidor da pátria” e enforcado; nenhum negro pode participar a cerimônia. Mesmo após a sua morte, o espírito de uma revolta popular abolicionista ainda pairava sobre muitos Estados. Um dito popular da época dizia: “o corpo de John Brown repousa em paz na sua cova, seu espírito continua marchando”.

Um ano mais tarde, foi eleito o moderado Abraham Lincoln, pelo Partido Republicano, para presidente dos Estados Unidos. Ele lamentou a morte de Brown, mas o fim da escravidão não era uma prioridade de seu governo. Defensor dos interesses nortistas, Lincoln não pode evitar a guerra civil que se estendeu de 1861 até 1865 e o fim à escravidão – com o início do segregacionismo.

Sobre o Autor:
Fábio Melo
Fábio Melo. Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Pesquisa sobre História Social da América e Educação na América (América Latina e Estados Unidos). Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na rádio La Integracion. Tem diversos textos escritos sobre educação, cultura e política. 

Um comentário:

  1. Excelente. OBSERVAÇÓes pouco conhecidas. Faltam revereñcias.Parabéns.

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