Introdução à revolução brasileira (resenha)




Nome: Introdução à revolução brasileira
Autor: Nelson Werneck Sodré
Editora: Ciências Humanas
Ano: 1978


Resenha

Entre 1930 e 1960 no nosso país diversos intérpretes do Brasil debatiam em partidos políticos, nas universidades e em outros lugares sobre a categoria revolução brasileira. As controvérsias pairavam em torno de assuntos como o desenvolvimento do capitalismo, a ampliação da democracia, as possibilidades da transição socialista e um dos protagonistas desta batalha de idéias foi Nelson Werneck Sodré. O tema revolução brasileira era uma regra em quase toda a sua vasta bibliografia. Portanto, Sodré interpretava a história brasileira para alterar o seu processo em curso, durante a sua militância.


A primeira edição de “Introdução à revolução brasileira” foi lançada em 1958. A segunda edição aconteceu em 1965, quando a seção aonde ele abordava a evolução militar foi subtraída, resultando no livro “História militar do Brasil”. A quarta edição foi publicada em 1978, dividida em sete partes. São elas: evolução da sociedade- as classes sociais no Brasil; evolução da economia- formação da economia nacional; evolução da cultura- elaboração da cultura nacional; evolução racial- a miscigenação e a sociedade; evolução política; evolução popular- quem é o povo no Brasil? e perspectivas.

A palavra evolução pode ser entendida como as mudanças que ocorreram no Brasil desde a sua colonização por Portugal até o período da revolução brasileira iniciada em 1930 e que prosseguiu dentro da ditadura civil e militar de primeiro de abril, também apesar dela e ao mesmo tempo contra ela. Apesar de Sodré repetidas vezes afirmar o feudalismo no Brasil, nesta obra há diversos argumentos que confrontam esta ideia. A revolução comercial europeia, o alvorecer da idade moderna teriam liquidado as relações sociais que caracterizariam o feudalismo. E a administração lusitana que trouxe ordenamentos jurídicos feudais, ao realizar a colonização da América, produziu uma realidade escravista.

Duas palavras correntes neste livro são “fisionomia” e “necessidade”. A primeira refere-se as mudanças ou evoluções ocorridas na sociedade brasileira, sempre decorrentes das “necessidades” de classe. Bastante ilustrativa é a análise feita pelo autor referente a Lei Áurea, uma abolição do trabalho escravizado que respondia a uma “necessidade” da classe dos proprietários rurais. A “fisionomia” mudou, mas a hierarquia social manteve-se intacta essencialmente. A “fisionomia” é a aparência. Essa que evoluiu, para avanços históricos, ou para retrocessos.

O Brasil é entendido como um produto da revolução comercial europeia. E aí está uma limitação do livro. Afinal, o Brasil foi colonizado por Portugal, foi invadido por outros países europeus sim, por outro lado antes estavam aqui os indígenas, e o “povoamento” em maior escala foi realizado por imigrantes, mesmo forçados, que vieram da África. Portanto, para entender a formação histórica do Brasil, deve-se também pesquisar a América Original e os africanos. Mesmo nestas condições, o livro representou uma realização no sentido de um avanço científico no campo da História com perspectiva das classes trabalhadoras. O livro contribuiu no aprofundamento da teoria da revolução brasileira, e este é o seu tema geral. E apenas uma introdução, como revelou Sodré desde o título.

A atualidade de “Introdução a revolução brasileira” é a relação entre racismo e as lutas de classes, ou a contribuição do negro na formação social do Brasil. Aspecto de nossa História ainda polêmico. O livro é uma reunião de conferências pronunciadas pelo autor no instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) entre 1954 e 1956. São ensaios escritos fora da academia, propondo uma revolução especificamente brasileira, levando em consideração o nosso processo histórico.

Sobre o Autor:
Rafael Freitas
Rafael da Silva Freitas: Nasceu no dia 29 de dezembro de 1982 em Santa Maria, RS. Historiador. Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na web rádio La Integracion. Colunista no Jornal de Viamão.

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