Um exercício de auto crítica



Um exemplo de tratamento entre dois liberais no Brasil
A História nem sempre foi uma ciência. E ainda hoje, parece não ser uma ciência, entre nós, aqui no Brasil. Ainda mais neste período de agitação partidária, quando o espírito de rivalidade gre-nal abraça todo o território brasileiro. O hino farroupilha pegou, já que as virtudes do brioso povo da terra dos farrapos estão servindo de exemplo para toda a Pátria Educadora. Mudam somente as cores (o vermelho contra o azul), cantam músicas distintas, mas jogam o mesmo esporte: não fazem política, ficando na liberdade de mercado. A nossa política ainda não se desligou da economia, sendo por ela controlada. Daí então afirmar que a agitação é partidária, esportista, qualquer coisa, menos política. Ainda não discutimos política, pois a nossa História ainda está no patamar em que viveu o importante intelectual brasileiro Silvio Romero. A interpretação de nosso passado geralmente é a versão de quem a conta, de luta do bem contra o mal, trocando os personagens literários, hoje dos honestos contra a corrupta e seu bando, sua horda. Silvio Romero, com todos os seus limites, propunha uma ciência com total separação da religião, uma História científica, laica. Não foi seu único acerto, mas para os nossos dias, apenas este mérito seu nós não alcançamos. Ainda.

Uma das diferenças entre a ciência e a religião, é que a segunda age por meio da Certeza, da fé, do absoluto, do perfeito. Para a religião, o critério de qualidade é a perfeição. E perfeito vem do latim, aonde “per” significa “completamente, de todo, sem faltar nada” e “facere” é “fazer”. Há uma oposição de lógica, portanto, entre religião e ciência. Na lógica matemática, o um mais dois é religiosamente três. Para a História, que é hoje uma ciência, o que agora é diabólico, foi divino ontem, e poderá mudar amanhã. O liberalismo ajudou a libertar negros e indígenas da escravidão antes de ontem. Liberais como o caudilho Simon Bolívar aboliram a escravidão na América do Sul. Os revolucionários de São Domingos foram chamados de Jacobinos Negros. É bastante conhecida a pressão da Inglaterra para substituir o trabalho escravo pelo assalariado no Brasil. Hoje o liberalismo visita a Cuba Socialista, bem representado por Barack Obama. Ontem o liberalismo motivou aqui entre nós a criação de uma lista de livros proibidos, mostrando-se impuro, pois mesclado com o fascismo. Rodrigo Constantino sugeriu em seu blog uma lista de intelectuais, artistas e jornalistas para boicote devido as suas ligações com o Partido dos Trabalhadores. O liberalismo outras vezes briga consigo mesmo, como quando Kim criticou o novo mito e obteve o revide dos seguidores de Bolsonaro, entre eles Olavo de Carvalho e um professor de História. O liberalismo resulta em fatos históricos sempre novos, dependendo do lugar e do tempo. Sendo interpretado de acordo também com a subjetividade de quem opina ou analisa. A História é científica pois gira sempre em torne de Hipóteses. Trata do humano, que é sempre incompleto.

Tem sido usual pessoas socializarem através das novas mídias as suas conjeturas e opiniões, apresentadas como a verdade trazida pelo historiador. A especificidade do historiador é contemplar a realidade dos seres humanos no passado através da burocracia teórico-metodológica. É próprio do trabalho de militância política impedir as mudanças sociais, ou acelerar elas. Através da ciência elas podem ou não serem descobertas. As exceções confirmam a regra e Silvio Romero, já no Segundo Reinado “deu a morta”. Não é História nem militância política dividir os brasileiros entre petralhas e coxinhas! Mas se nem o Estado Nacional Brasileiro é de fato laico, o nosso saber histórico ainda precisa de alfabetização.



Sobre o Autor:
Rafael Freitas
Rafael da Silva Freitas: Nasceu no dia 29 de dezembro de 1982 em Santa Maria, RS. Historiador. Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na web rádio La Integracion. Colunista no Jornal de Viamão.

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