Ernesto Guevara de la Serna (1928-1967)

Ernesto Guevara foi um médico e político de origem argentina. Associado à revolução cubana, tornou-se um símbolo mundialmente conhecido dos anos 60. Seu apelido “Che” lhe foi dado devido a esse vocativo que significa “cara” e que é utilizado pelos gaúchos no Brasil. Como os centro-americanos não conhecem esse termo, o termo virou seu apelido.


Guevara acreditava e vivia o sonho do igualitarismo socialista. Morou durante muito tempo em uma casa em ruínas na Bolívia, casa cuja mobília era somente um prego na parede onde ele colocava suas roupas. Em Cuba, morou em uma mansão praticamente sem nada na parede e sem mobília: desprendido, ele passava tudo adiante para pessoas pobres. A esposa lhe pedia um carro oficial, mas ele mandava que ela fosse às compras de ônibus “como uma pessoa qualquer”.


Che Guevara com o Madureira em Cuba

Sua relação com as mulheres e com a comida era a seguinte: durante algum tempo passava namorando, fumando e bebendo intensamente, sensualmente, mas posteriormente passava longos períodos em jejum praticamente franciscano.

A partir de suas primeiras viagens pela América Latina, retratadas no filme Diários de Motocicleta, Che tomou conhecimento de vários latino-americanos que viviam exilados de seus países. Conheceu pessoalmente o presidente da República Dominicana, Juan Bosch, posteriormente deposto em 1965.

Juan Emilio Bosch Gaviño foi um político, historiador, escritor, ensaísta, educador e, por um breve período, o primeiro presidente a ser eleito em eleições livres na República Dominicana desde 1914

Antes de viajar para Cuba, Ernesto deteve-se anos na Bolívia, Guatemala e no México. Integrado aos cubanos exilados no México numa rede de amizade, topou seguir para a expedição que o tornou famoso. É importante observar que Che era marxista, mas que o movimento guerrilheiro de Sierra Maestra era muito mais inspirado em José Martí, um liberal e nacionalista cubano, do que em Marx e Lênin.

A formação política de Guevara ocorreu em meio à revolução nacionalista boliviana de 1952. Não foi à toa que ele retornou à Bolívia em 1967 para tentar fazer a guerrilha. Seu batismo de fogo ocorreu na Guatemala do presidente nacionalista Jacobo Arbenz, quando, depois da queda do presidente, teve que fugir para o vizinho México, pois sua vida corria risco de vida. Na Guatemala Guevara convenceu-se da necessidade da luta armada, mas acreditava que antes era preciso que as soluções institucionais estivessem acabado.

Vivendo em Cuba, no início dos anos 60, buscava sistematizar a chamada “teoria do foco” em livros como “Guerra de Guerrilhas”. O alinhamento de Cuba com a União Soviética (que propunha coexistência pacífica) paulatinamente afastou Guevara de Castro e o fez aproximar-se dos trotsquistas e dos maoístas. Guevara chegou a ir até a China de Mao e, chegou a levar para Bolívia o livro A Revolução Traída, de Leon Trotsky. Guevara estava convicto que o caminho do alinhado com a URSS comprometia a revolução cubana, pois o país permanecia dependente, sem indústrias e na condição de exportador de produtos primários. Pouco antes de morrer, Guevara estava planejando um curso para os guerrilheiros baseado no livro de Regis Debray.

Regis Debray - Revolução na Revolução

Igualmente, passou a simpatizar como o peronismo armado. Comprovadamente, Perón, em seu exílio espanhol, apresentou simpatia pela revolução cubana e foi aventada a possibilidade de que trocasse a Espanha por Cuba. Esse fator foi igualmente decisivo no apoio de Guevara a uma guerrilha peronista, liderada por Jorge Ricardo Masseti Blanco (criador da Prensa Latina em Cuba e grande amigo de Guevara), o “Comandante Segundo” (o primeiro era Che), comandante do Exército Guerrilheiro do Povo. Iniciada em 1963, quando o país ainda vivia um regime militar que bania o peronismo, ficou abalado com uma eleição em 1964 que elegeu Arturo Illia, presidente civil, embora sem permitir que os peronistas competissem nas urnas.

A guerrilha, porém, foi um fracasso. O EGP vagou pela selva meses até mandar uma carta desafiadora ao presidente Arturo Illia, carta que não teve grande repercussão, mas que lançou polícia e exército contra os jovens guerrilheiros, que dentro em pouco tempo foram cercados e chacinados. Ao escapar do cerco, Massetti desapareceu na selva do norte da Argentina, abalando a fé de Che na teoria do foco. Não foi à toa que Che Guevara rumou a seguir para a Bolívia, vivendo drama semelhante ao de Massetti: sua esperança era envolver também a Argentina no movimento guerrilheiro, daí que a guerrilha peronista partiu da Bolívia.

Uma vez na Bolívia, Guevara fracassou nos contatos com o partido comunista boliviano de linha pró-soviética e pacifista. O partido, dirigido por Mario Monje, reivindicou a direção da guerrilha e Che não aceitou. Até hoje Fidel Castro lamenta essa decisão, alegando que mesmo o nome Bolívia se deve a Bolívar e que os comunistas bolivianos deveriam ter esse espírito internacionalista. 

Na Bolívia, Che Guevara contou com o auxílio do filósofo Régis Debray, filho de um senador ligado a De Gaulle e autor de A Revolução na Revolução, livro em que a teoria do foco foi sistematizada. Regis Debray abandonou a guerrilha e foi preso na Bolívia, possivelmente tendo falado demais e ajudado a comprometer a guerrilha. Hoje Debray renegou o marxismo e se fez teórico moderno da mídia e gaullista.


Bibliografia:

Jorge Masseti. Jorgemassetiblogspot.com

ROJO, Ricardo. Meu Amigo Che. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968.


Sobre o Autor:


Lúcio Junior Espírito Santo. Graduado em Filosofia. Mestre em Estudos Literários/UFMG. Blog: revistacidadesol.blogspot.com). Bom Despacho, Minas Gerais. Nascido em Uberaba, 1974.

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