Guerra dos Cacos (verbete)

O Caribe é formado por vinte e sete ilhas (isoladas umas das outras, e divididas em Grandes e Pequenas Antilhas), quatro territórios em terra firme e trinta e dois países. A região que hoje é conhecida como República Dominicana, inicialmente era colonizada pela Espanha e levava o nome de Hispaniola. A invasão europeia, que resultou em um regime de despovoamento entre 1493 e 1529, obrigou os espanhóis a trazerem negros africanos para trabalharem no cultivo de cana de açúcar e na busca por metais preciosos. Quando foram encontrados ouro e prata na Mesoamérica e nos Andes, os espanhois desativaram parcialmente a colonização de Hispaniola, abandonando a região oeste da ilha, aonde hoje é o Haiti. Os franceses passaram a ocupar o território, que foi cedido a eles pelos espanhóis. Desde 1795, o Haiti foi francês.

O Haiti tem uma história peculiar, proclamando a sua independência em 1804, após uma luta iniciada em 1791. O país se libertou do colonialismo francês e de forma revolucionária aboliu a escravidão. Essa vitória dos negros, arrasando e eliminando os brancos da ilha de São Domingos, estimulou várias revoltas em outras ilhas, fazendo a Grâ-Bretanha abolir a escravidão em suas colônias desde 1830. A Independência foi revolucionária, pois o Haiti se tornou um pequeno país de pequenos produtores livres e a constituição proibia a compra de terras por estrangeiros. Mas a nova classe dominante, pressionada pelo bloqueio econômico das potências europeias e dos Estados Unidos da América, além de pagar uma “indenização” para ter a independência reconhecida internacionalmente, começou um processo que tornou-se crônico, de endividamento e instabilidade política. Nesse contexto, os EUA invadiram o Haiti, para combater grupos rebeldes armados, foi o advento da Guerra dos Cacos.



Entre corpos de haitianos assassinados, um estadunidense faz pose para fotografia, durante ocupação .

Em 1917 foi imposta pelos Estados Unidos uma nova constituição, quando o presidente haitiano Philippe Sudre Dartiguenave dissolveu o legislativo para aprová-la. A classe dominante aliou-se aos invasores para derrotar os guerrilheiros, almejando impor uma agricultura capitalista de super exploração, expropriando os pequenos agricultores. A recolonização executada pela ocupação estadunidense de 1915 foi um episódio de uma profunda contra revolução social e ambiental. O povo haitiano, do campo e da cidade, não aceitava o retrocesso histórico. Em 1918, uma ampla guerrilha de resistência dos rebeldes conhecidos como cacos reunia quarenta mil combatentes. O líder Gendarmere Péralte foi assassinado e tornou-se o mártir dos rebeldes cacos. O combate, mais uma vez, tornou-se racial, pois os marines tiveram atitudes racistas com os haitianos, incluindo as mulheres e os ricos. No mínimo dois mil guerrilheiros foram mortos e a resistência armada acabou em 1921.

Corpo de Gendarmere Péralte exposto após sua morte

Como parte da vingança do Ocidente contra a insurgente República Negra, pouco após a extinção da Guerra dos Cacos, os marines mataram no mínimo dez camponeses durante um protesto por melhores condições de trabalho. Os marines, Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos, tiveram um prolongado histórico de invasões na América Central e no Caribe. Ocuparam a Nicarágua de 1912 a 1925, a República Dominicana entre 1916 e 1930, estiveram em Cuba em 1912, 1917 e 1921. Ocuparam o Haiti entre 1915 e 1934. A Guerra dos Cacos foi uma tentativa malograda de resistência negra armada a recolonização do Haiti. François Duvalier continuou a contra revolução, quando em abril de 1969, instituiu a lei anticomunista, que considerava crime, passível de pena de morte, a defesa do comunismo, verbal ou escrita, pública ou privada.


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Sobre o Autor:
Rafael Freitas
Rafael da Silva Freitas: Nasceu no dia 29 de dezembro de 1982 em Santa Maria, RS. Historiador. Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na rádio comunitária A Voz do Morro. Colunista no Jornal de Viamão.

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