MOVIMENTO DE LIBERTAÇÃO NACIONAL – TUPAMAROS

Bandeira dos Tupamatos

O portal de notícias “Opera Mundi”, em um artigo de 2009, classifica o Movimento de Libertação Nacional – Tupamaros, do Uruguai, como a guerrilha mais eficaz da América do Sul: “Os Tupamaros foram, de longe, a guerrilha urbana mais bem organizada, mais estruturada e mais eficaz do continente. De 1963 ao começo de 1968, os Tupamaros limitaram-se a reunir recursos materiais e armamentos, valendo-se de assaltos a banco, às lojas de armas e a empresas privadas. O objetivo era fazer o governo parecer impotente na defesa de seus partidários, obrigando-o a reações desmesuradas e inábeis.”[1]

É no ano de 1963 que surge o Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros, sob a liderança de Raul Sendic (1926-1989). Sendic foi um advogado de ideias socialistas que inspirado pela vitória da Revolução Cubana decide, junto com outros membros de seu partido (o Partido Socialista do Uruguai), ingressar na luta armada para instalar o socialismo. Em pouco tempo, muitos militantes de outros partidos, inclusive dos tradicionais partidos Blanco e Colorado, passaram a ingressar no movimento; um dos militantes oriundos do Partido Blanco (de centro- direita) que lutou com os tupamaros foi o ex-presidente José Mujica.

Durante os anos 1950 e 1960, o Uruguai vivia uma fase de “euforia econômica” devido aos lucros das exportações do período da guerra de 1939-1945. Contudo, estes lucros só serviram para a manutenção das classes dominantes (principalmente os latifundiários e grandes comerciantes), que por suas vez eram ligados aos dois partidos hegemônicos da política uruguaia – o Partido Blanco e o Partido Colorado. Sem um projeto de industrialização e modernização da economia, este período de “euforia” se esgotou muito rápido; os governos gastaram suas reservas financeiras importando produtos que só os mais ricos podiam comprar. Com isto, abria-se um período de crise política.

“A exemplo da maioria dos grupos guerrilheiros da América do Sul, os Tupamaros começaram como uma organização política que optou deliberadamente pelas táticas da luta armada, recrutando seus membros no seio da classe média – a maioria estudantes e trabalhadores qualificados. Como os demais movimentos urbanos armados, organizavam-se, por razões de segurança, em pequenas células de quatro ou cinco homens chamados de ‘grupo de atiradores’, sendo o líder do grupo o único contacto com outras células.”[2]

Sendic e seus companheiros passaram a ações práticas com o objetivo de passar a imagem de que o governo corrupto que comandava o país, era ineficaz. Em alguns casos, os tupamaros roubavam mansões dos magnatas uruguaios e distribuíam para os pobres o dinheiro. O objetivo era, chamar a atenção. Com estas ações, o governo passou a caçar os tupamaros – já dentro da ideologia de segurança nacional do período da Guerra Fria. Muitos foram presos e torturados. Como meio de libertar seus companheiros, os tupamaros iniciaram uma tática que passou a ser vista com desconfiança entre setores da classe média: eles sequestrava diplomatas e utilizavam como moeda de troca para libertar os tupamaros presos. “Em setembro de 1969, sequestraram um importante banqueiro e o mantiveram preso por dez semanas, como apoio à greve de bancários. Em julho de 1970 ocorreu o mais espetacular sequestro, que acabou sendo retratado no festejado filme de Costa Gavras, “Estado de Sítio”: Dan Mitrione, um agente da CIA, especialista em arrancar confissões de presos mediante tortura e que havia prestado seus serviços a policiais em Belo Horizonte, e o cônsul brasileiro, Aloízio Gomide, foram mantidos em cativeiro para servirem de resgate em troca de prisioneiros. Quando o governo se recusou a negociar com os Tupamaros, mataram Mitrione, uma ação que teve notório custo político. No primeiro semestre de 1971, o embaixador britânico, o procurador-geral e o ex-ministro da Agricultura foram sequestrados. Ulises Pereyra foi raptado pela segunda vez.”[3]

À medida que as ações dos tupamaros cresciam, outros movimentos de questionamento ao modelo político econômico também ganhavam cada vez mais relevância. E a partir do governo do colorado Pacheco Areco. “A política de Pacheco Areco acentuou a crise. O uso indiscriminado de leis de exceção, as Medidas Prontas de Seguridad, antecipou a gestação de um Estado repressivo inédito. Seu 'ministério de empresários' loteou o Estado entre os grupos que representavam. O congelamento de salários e a repressão contra trabalhadores foram uma marca da sua administração. Assumindo o discurso anticomunista da Doutrina de Segurança Nacional, todos os 'focos' de questionamento ao seu governo e sua política econômica foram acusados de subversivos e duramente atacados”.[4]

Com a intensificação da repressão, as forças de esquerda são obrigadas a se unir. E em 1971 surge a Frente Ampla, sob a inspiração do colorado de esquerda Liber Seregni. Em pouco tempo, a Frente Ampla agrega militantes socialistas, tuparamos e até as esquerdas dos partidos tradicionais Blanco e Colorado.

“Há um fato curioso: no Uruguai, precisamente entre esses políticos tradicionais (e, mais frequentemente, entre os que estão no governo que entre os dirigentes de uma oposição que, na pobreza comum, vê sobretudo a promessa de uma próxima revanche eleitoral), tem eco aqueles apelos a um golpe de Estado militar, os quais, até agora, não encontram mais que escassa ressonância entre os chefes do exército.”[5]

Em 1973 se instala de fato a ditadura no Uruguai sob o comando do tecnocrata Juan Maria Bordaberry – do Partido Colorado.



Notas:

[1]http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/1730/conteudo+opera.shtml

[2]http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/1730/conteudo+opera.shtml

[3]http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/1730/conteudo+opera.shtml

[4]PADRÓS, Enrique Serra. A ditadura brasileira de Segurança Nacional e a Operação 30 horas: intervencionismo ou neocisplatinização do Uruguai? In: Ciências & Letras, no 37: Brasil: Sociedade e Política. Porto Alegre: FAPA- Faculdade Porto-Alegrense, 2005, p. 228.

[5]DONGHI, Tulio Halperin. História da América Latina. São Paulo: Círculo do Livro, s/d, p. 410.





Sobre o Autor:
Fábio Melo
Fábio Melo: Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Pesquisa sobre História Social da América e Educação na América (América Latina e Estados Unidos). Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na rádio La Integracion. Tem diversos textos escritos sobre educação, cultura e política. 

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