Simón Bolívar por Karl Marx (resenha)




Nome: Simón Bolívar por Karl Marx
Autor: Karl Marx
Editora: Martins Fontes
Ano: 2008



Resenha:

Charles Dana, diretor do “New York Daily Tribune” contratou o “maduro” Karl Marx em 1857 para colaborar com a “New American Cyclopaedia” produzindo verbetes sobre história militar, biografias e outros assuntos. Marx dividiu seus afazeres com Engels. O nome do artigo marxiano atacando Bolívar levou o nome de “Bolívar Y Ponte”, e as fontes utilizadas foram, principalmente, memórias de dois inimigos declarados de Bolívar. Marx interpretou Bolívar como autoritário e bonapartista, defendeu que o “Libertador” recusou-se a participar do exército revolucionário da Venezuela, após ser convencido pelo “generalíssimo” Miranda a inserir-se no mesmo para buscar apoio do governo inglês. 

Marx descreveu uma fuga de combate de Bolívar que levou a derrota do exército venezuelano e a devolução da Venezuela à Espanha. Denunciou que Simon Bolívar conspirou contra Miranda e com o seu grupo entregou-o ao inimigo Monteverde, que o aprisionou. Miranda morreu no cativeiro, enquanto Monteverde concedeu determinados privilégios a Bolívar. Marx considerou, ainda, a maioria dos venezuelanos como “avesso a qualquer esforço prolongado”. Afirmou que Bolívar possuía um “poder cambaleante”, autoritarismo e covardia, sendo cruel e mentiroso. Perdeu a maioria das batalhas que participou, o seu destino foi sempre guiado por “acontecimentos fortuitos” e todas as suas atitudes foram guiadas por influências de alguém que o convenceu. 

Os seus manifestos de Bolívar foram, para o criador do materialismo histórico, sempre redigidos com palavras de efeito e com mentiras, divulgados para justificar seus atos de covardia e os seus fracassos, um dos manifestos nesta linha foi o “Manifesto de Cartagena”.

No processo revolucionário sul-americano que Bolívar participou, Marx não o elogiou jamais e destacou o papel dos europeus, que financiaram a causa de Bolívar. Não há menção, no escrito, ao apoio dos revolucionários haitianos à campanha militar do líder venezuelano. Os combatentes de Bolívar eram, aliás, muito indisciplinados. Mais de uma vez, Marx destacou o auxílio da legião britânica, chegando a afirmar que os poucos êxitos militares de Bolívar aconteceram graças aos oficiais ingleses. 

Segundo Marx, a legião de Bolívar formada por estrangeiros era “mais temida pelos espanhóis do que dez vezes o mesmo número de colombianos”, mostrando um surpreendente eurocentrismo. Bolívar foi, para Marx, um comandante supremo apenas na aparência e manipulou eleições nos congressos aonde ele participava, cinco vezes demitiu-se com estratégia bem sucedida para tomar o poder como ditador. Usou as insurreições como pretexto para derrubar constituições e assumir autoritárias anarquias militares. O seu “código boliviano” foi uma imitação do “código napoleônico”, que serviu para dar livre curso as suas inclinações ditatoriais. 

Para Karl Marx, o projeto bolivarista era “transplantar este código para o Peru e deste para a Colômbia, a fim de manter estes Estados subjugados às forças colombianas, e manter a Colômbia submetida mediante a legião estrangeira e dos soldados peruanos”. Através da força e da intriga ele teve êxitos breves, tendo o seu auge em 1823. 

E qual seria o sonho de Bolívar, para Marx? O chamando de terrorista, afirma que a sua utopia era “ligar meio mundo a seu nome”. O conhecimento de Marx sobre os personagens da revolução sul-americana era fenomenal, chegando a definir os pensamentos dos combatentes, como quando as tropas de Paez e Bolívar iriam se enfrentar, em 1830, nas palavras de Marx: “Tão logo soube que Paez tinha em mente um combate sério, Bolívar viu a coragem desmoronar. Por um momento chegou a pensar em se submeter a Paez “. Bolívar, segundo Marx, faleceu após ser obrigado a exilar-se recebendo uma pensão anual e ter iniciado uma conspiração para tomar o poder.

Percebe-se, através do livro, que Bolívar foi um caudilho que liderava guerrilhas, pois, segundo Marx, as tropas eram indisciplinadas, e Bolívar constantemente se acovardava e perdia batalhas. A guerrilha é uma estratégia que difere-se da guerra regular, As fugas são constantes, um meio para outro ataque com possibilidades de vitória e a disciplina é distinta da presente em exércitos regulares nacionais. As batalhas empreendidas por grupos guerrilheiros não são decididas rapidamente, ou em um único conflito, esse entendimento faz-se necessário para analisar a crítica marxiana, quando mencionou o embate das forças de Bolívar contra o exército de Paez. A disciplina de um exército regular tipicamente europeu foi o parâmetro marxiano para desqualificar as tropas irregulares de Bolívar. 

Os objetivos de Bolívar eram, em primeiro lugar, políticos, de emancipar a América em relação a Espanha, criar um novo homem americano, destruir as instituições coloniais, e, depois, acumular vitórias militares. O modelo de guerra admirado por Marx era diverso da guerra efetuada naquele momento na América. As guerrilhas são formações políticas armadas típicas de regiões aonde existem grandes desigualdades sociais, como caracterizava-se a América colonial e escravista, diferenciando-se da Europa aonde Marx vivia, aonde a burguesia já havia promovido o progresso social através das revoluções burguesas. 

Ao afirmar que Bolívar era inseguro ao agir sempre motivado por opiniões de outras pessoas, contraditoriamente, Marx possibilitou o entendimento de que Bolívar não era autoritário. Se o fosse, agiria sempre sem ouvir a alguém. Nas suas forças reuniram-se indígenas, negros, setores da população americana insatisfeita e disposta a mudanças. Faltou ao Marx, além de perceber o elemento popular presente nas guerras de independência lideradas por Bolívar, levar em consideração em sua análise quem foram os autores que utilizou como fontes principais, e a quais interesses eles estiveram ligados.


Sobre o Autor:
Rafael Freitas
Rafael da Silva Freitas: Nasceu no dia 29 de dezembro de 1982 em Santa Maria, RS. Historiador. Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na rádio comunitária A Voz do Morro. Colunista no Jornal de Viamão.

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