REVISITANDO NOSSAS REFERÊNCIAS

É comum falar-se na Europa como referência para as ciências históricas e sociais. Acreditamos que o continente europeu tenha dado ao mundo uma grande contribuição para as ciências humanas. Contudo, precisamos aprender a buscar nossos próprios pensadores. O Brasil, ainda está “de costas” para o que se produz cultural e socialmente nos demais países da América Latina. Neste sentido, este breve texto traz alguns pensadores latino-americanos que pouco são lembrados quando o assunto em questão é a própria América Latina.

Caio Prado Júnior

Caio Prado Júnior (1907- 1990). Historiador, geógrafo, escritor, político e editor brasileiro. Para ele, nosso país foi mesmo depois da Independência, colonial. As críticas contra o autor apontando para um capitalismo brasileiro anterior ao europeu são infundadas e fruto de leitura superficial de seu amplo repertório interpretativo. Pelos títulos de suas obras, pode-se ter uma ideia da sua riqueza bibliográfica: Evolução política do Brasil (1933), URSS - um novo mundo (1934), Formação do Brasil Contemporâneo (1942), História Econômica no Brasil (1945), Dialética do Conhecimento (1952), Evolução Política do Brasil e Outros Estudos (1953), Diretrizes para uma Política Econômica Brasileira (1954), Esboço de Fundamentos da Teoria Econômica (1957), Introdução à Lógica Dialética- Notas Introdutórias (1959), O Mundo do Socialismo (1962), A Revolução Brasileira (1966), Estruturalismo de Lévi-Strauss - O Marxismo de Louis Althusser (1971), História e Desenvolvimento (1972), A Questão Agrária no Brasil (1979), O que é Liberdade (1980), O que é Filosofia (1981), A Cidade de São Paulo (1983).

Sérgio Buarque de Holanda

Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982). Crítico literário, sociólogo weberiano, historiador cultural, modernista, professor, jornalista brasileiro. Conhecido por difundir a polêmica categoria do “homem cordial”, originária do poeta brasileiro Ribeiro Couto. Defendia o uso de preceitos adequados à realidade brasileira para a sua interpretação, como arma de transformação social. Obras: Raízes do Brasil (1936); Monções (1946); História Geral da Civilização Brasileira (coautor – 1961).

Nelson Werneck Sodré

Nelson Werneck Sodré (1911-1999). Historiador e militar brasileiro. Considerava-se apenas um “repetidor”, embora tenha construído uma obra monumental, abordando diversos aspectos da formação social brasileira. Imprensa, economia, política, literatura, cotidiano, mentalidade, ditadura civil e militar de primeiro de abril, neoliberalismo, geopolítica, patriarcado, exército, educação, foram alguns dos seus objetos de pesquisa. Sua trajetória foi marcada por protagonismo em grupos de estudos como o nosso GEACB, entre eles Grupo de Itatiaia e Instituto Superior de Estudos Brasileiros.

Leopoldo Zea

Leopoldo Zea (1912-2004). Filósofo mexicano. Um dos grandes incentivadores da premissa que toda filosofia tem maior relevância quando levam em consideração o contexto histórico e cultural de uma determinada região. No nosso caso, a filosofia latino-americana deve se deter aos problemas latino-americanos. Obras: O Pensamento latino-americano (1965); América Latina no mundo (1968).

Darcy Ribeiro

Darcy Ribeiro (1922-1997). Antropólogo brasileiro. Analisou a sociedade brasileira de forma criativa e revolucionária. Foi um dos idealizadores da Universidade de Brasília (que nasceu como um projeto ousado de educação) e o grande mentor do projeto educacional no governo de Leonel Brizola no Rio de Janeiro: os Centros Integrados de Educação Publica, CIEP. Principais obras: Universidade necessária (1969); As Américas e a Civilização: processo de formação e as causas do desenvolvimento cultural desigual dos povos americanos (1970); O Processo Civilizatório (1978); O povo brasileiro: desenvolvimento e sentido do Brasil (1995).

Luis Vitale

Luis Vitale (1927- 2010). Historiador argentino, porém naturalizado chileno. Professor universitário no Chile, Alemanha, Colômbia, Venezuela, e outros países. Destacamos as suas seguintes obras: Contribución a la Historia de Anarquismo en América Latina (2002), De Bolívar al Che. La larga marcha por la Unidad y la Identidad Latinoamericana (2002), Contribución al Bicentenario de la Revolución por la Independencia de Venezuela (2002) Balance de dos décadas de Neo-liberalismo (2001), Interpretación Marxista de la Historia de Chile. 8 Tomos (1967 a 2000), Historia Social Comparada de los Pueblos de América Latina (1998), De Martí a Chiapas, balance de un siglo (1995), Introducción a una Teoría de la Historia para América Latina (1992), La Mitad Invisible de la Historia. El Protagonismo Social de la Mujer Latinoamericana (1988), Historia General de América Latina, 9 Tomos (1984).

Enrique Dussel

Enrique Dussel (1934). Filósofo argentino que vive no México desde 1975, onde trabalha na famosa Universidade Autônoma do México (UNAM). Sua “filosofia libertadora” pretende libertar o conhecimento latino-americano: não importando solução eurocêntricas aos problemas de nosso continente como solução universal. Principais obras: Filosofia da libertação: Crítica à Ideologia da Exclusão (1995); Teologia da Libertação - Um panorama do seu desenvolvimento (1999); Ética da Libertação - Na idade de globalização e da exclusão (2002).

Edgardo Lander

Edgardo Lander (1942). Sociólogo venezuelano. Tem dedicado seus estudos em desvendar a América Latina e como se produz o conhecimento social moderno, a partir de bases coloniais. O nosso dever é quebrar essa lógica. Principais obras: Modernidade e Universalismo. O pensamento crítico: um diálogo inter-regional (1991); Neoliberalismo, sociedade civil e democracia. Ensaios sobre a América Latina e Venezuela (1995); Democracia em ciências contemporâneas da América Latina sociais (1997); A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais (2000).

Atílio Boron

Atílio Boron (1943). Sociólogo e cientista político argentino com doutorado em Harvard. Tem uma profunda influência marxista. O capitalismo de Estado e democracia na América Latina (1991); Império e Imperialismo (2204 – vencedor do prêmio Casa das Américas); Socialismo do Século XXI. Existe vida após o neoliberalismo? (2008); América Latina Geopolítica do imperialismo (2012).

Caio Prado Júnior, Sérgio Buarque de Holanda, Nelson Werneck Sodré, Leopoldo Zea, Darcy Ribeiro, Luis Vitale, Enrique Dussel, Edgardo Lander e Atílio Boron, são alguns dos referencias teóricos que estimulam as análises e as pesquisas do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Desse modo seguimos nos guiando pelas ideias formadoras de nosso "Manifesto Americanista", que preconizava: "A colonialidade do conhecimento que nos é imposta é algo que vamos quebrar. Fomos colonizados brutalmente pela Europa, mas ainda hoje nossa mentalidade é de colonizados. Poucas pessoas sabem sobre a historiografia americana, cabe a nós americanistas trazer estas produções ao público."





Sobre o Autor:
Fábio Melo
Fábio Melo: Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Pesquisa sobre História Social da América e Educação na América (América Latina e Estados Unidos). Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na rádio A Voz do Morro. Tem diversos textos escritos sobre educação, cultura e política. 

Sobre o Autor:
Rafael Freitas
Rafael da Silva Freitas: Nasceu no dia 29 de dezembro de 1982 em Santa Maria, RS. Historiador. Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na  rádio A Voz do Morro. Colunista no Jornal de Viamão.

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