Alerta, Lúcio Júnior Espírito Santo!


As tentativas de universalização do feudalismo atingiram não somente o Japão, como a Escócia, o Rio Grande do Sul, o Brasil, a América Latina. Considero indevido deduzir feudalismo de “grandes plantações de cana de açúcar para exportação” ou “capitannias hereditárias gerenciadas por nobres portugueses”, pois desta forma há uma distorção da realidade concreta brasileira, nos colocando como uma continuação da Europa. A nossa origem é de Pindorama. O colega de debates Lucio Júnior Espírito Santo está enganado. Por que razões?

Não considero os modos de produção o mesmo que mercadorias exportáveis, sim resultados de relações sociais específicas de cada lugar, em cada época. Denominar como atraso uma grande diferença em relação aos modelos europeus é eurocentrismo. Sugiro, pelo contrário, tratar o Brasil como atrasado politicamente, por exemplo, comparando com a História Política da Colômbia. Sendo assim, o modelo para comparação está situado em nosso continente. Além de eurocentrismo, há ainda um resquício de trotskismo na tese de feudalismo brasileiro, está lá em “A história da revolução russa (a queda do tzarismo)” a defesa de feudalismo no local aonde realizou-se a revolução bolchevique. Moniz Bandeira chegou a localizar em Leon Trotski a tese de feudalismo brasileiro. Algo muito semelhante está acontecendo no Brasil, aonde intelectuais, como Lúcio Júnior Espírito Santo, buscam tornar o feudalismo um modo de produção universal, chegando aos nossos trópicos, pensando promover outra revolução, com o nosso país grávido de um comunismo.

Moniz Bandeira
O feudalismo foi uma transição entre o escravismo e o capitalismo europeus, quando o modo de produção escravista romano mesclou-se com os modos de produção germânicos. Ora, os romanos e os germânicos não estiveram presentes no Brasil colonial. Sejamos criativos como foi Mariátegui, que denominou um dos elementos do regime colonial peruano de “gamonalismo”. Se no Brasil teve cambão, direito de pernadas, meação, por que voltar atrás e universalizar o feudalismo? Será a deficiente formação em História a causadora principal deste engano por Lúcio júnior Espírito santo? 

Vejamos o que o autor Clóvis Rossi nos apresentou em seu livro chamado “A contra-revolução na América-Latina” referente ao feudalismo americano: “Foi só em 1952, ano da chamada Revolução Nacional, que a Bolívia saiu do virtual feudalismo em que se encontrava para aproximar-se do século XX, com um atraso, portanto, de 52 anos em relação ao início do século. Na América Central em geral, com a possível exceção da Costa Rica e, mais recentemente, da Nicarágua, o regime sócio-político ainda está mais próximo do feudalismo do que das formas mais contemporâneas de governo e/ou participação popular.”

Sempre que foi citado o feudalismo é para comparar com o modelo europeu de desenvolvimento. Ou de opressão contra os trabalhadores. Caio Prado Júnior negou o feudalismo para o Brasil, argumentando no sentido de sua existência. E Nelson Werneck Sodré, praticou o exato oposto, ao afirmar negando. Mas, segundo alguns teóricos, o método marxista é o de negação da negação.
Alerta, Lúcio Júnior Espírito Santo!

Sobre o Autor:
Rafael Freitas
Rafael da Silva Freitas: Nasceu no dia 29 de dezembro de 1982 em Santa Maria, RS. Historiador. Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na rádio A Voz do Morro. Colunista no Jornal de Viamão.

Um comentário:

  1. Este artigo está um tanto hermético, mas de qualquer maneira penso que as diferenciações são possíveis e até necessárias, mas quando se trabalha com uma matriz marxista é impossível (e inútil) fugir de uma régua eurocêntrica.

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