O dia 10 de agosto de 2019 vai entrar para a história como o “Dia do Fogo”, um protesto de latifundiários por meio de um crime contra a humanidade. Neste dia, grupos ruralistas (até agora não identificados oficialmente) iniciaram coordenadamente uma série de queimadas no Estado do Pará[1].
Registro do “Dia do Fogo”, provocado pelos latifundiários no Brasil
O “Dia do Fogo”, foi divulgado na imprensa brasileira a partir do dia 5 de agosto pelo jornal Folha do Progresso, da cidade paraense de Novo Progresso, em uma reportagem surpreendente, nela dizia que "(Os produtores) querem o dia 10 de agosto para chamar atenção das autoridades. (...) Na região, o avanço da produção acontece sem apoio do governo. 'Precisamos mostrar para o presidente (Jair Bolsonaro) que queremos trabalhar e o único jeito é derrubando. Para formar e limpar nossas pastagens é com fogo'". Mesmo com provas, o presidente apontou como prováveis culpados do crime ambiental, os “ongueiros”.
Vídeo do canal “Meteoro” sobre o “Dia do Fogo”
Houve reação no Brasil e em outros países, ao descaso do governo federal do Brasil quanto o “Dia do Fogo”, aumentando a visão mundial negativa sobre o mais extenso país da América do Sul. O movimento ambiental Rebelião da Extinção, que surgiu em 2018, na Inglaterra, convocou atos contra o avanço das queimadas no Brasil, que resultou em protestos em Berlim, Munique, Londres, Paris, Dublin, Madrid, Barcelona, Amsterdã, Nápoles (Itália) e Berna e Genebra (Suíça), em Mumbai, na Índia; Quito, no Equador; e Cali, na Colômbia.
Não surpreende, portanto, que o governo de Jair Bolsonaro (PSL) e seu Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles (Partido Novo) logo foram responsabilizados por tais práticas incendiárias. Afinal, o governo federal, que deveria zelar pelas nossas riquezas naturais, aplica uma política de destruição da natureza, sob a esdrúxula justificativa de que seria para o “bem da modernização e da economia brasileira”.
Prática de incêndios florestais em conjunto pelos latifundiários, uma boa definição do “Dia do Fogo”
Consideramos muito válida a nota do MST, que afirmou sobre a competência do Bolsonaro e seus correligionários para a aniquilação da natureza: "Desde o governo de transição, os discursos vindos de Brasília atacaram o licenciamento ambiental e o controle e monitoramento do Estado sobre as atividades agropecuárias e minerárias – justamente elementos que poderiam ter evitado os crimes de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais. Ao mesmo tempo, o governo entregou o Serviço Florestal Brasileiro para representantes ruralistas, implementou uma intervenção militar no Instituto Chico Mendes (ICMBio) e proibiu ações de fiscalização pelo IBAMA, além de atacar publicamente servidores de todos esses órgãos. O quase total contingenciamento dos recursos, impostos pela política neoliberal comandada pelo ministro Paulo Guedes, tornou a situação completamente insustentável."[2]
Mas não podemos esquecer que é histórico o desprezo da natureza pelos governos brasileiros. Desde a invasão europeia (a partir do século XVI), a natureza brasileira é cobiçada para fazer a fortuna da Metrópole. hoje não é muito diferente. Afinal, dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mostram que os anos mais críticos de queimadas no Brasil estão no período entre 2003 e 2007. Nesta época, o governo Lula (PT) se apoiou numa forte política de exportação de commodities (tais como soja e carne bovina – só para se ter uma ideia, na década de 2005 e 2015, houve uma grande expansão da soja pelas regiões Centro-Oeste e Norte, justamente em direção à Amazônia). Nosso objetivo aqui não é fazer o discurso canalha da direita: “mas na época do PT!”. Não! Mostramos os dados apenas para compreendermos o fenômeno histórico das queimadas. Mas, esteja sempre alerta para uma grande diferença: se o governo do PT foi parceiro dos latifundiários que destruíram a floresta e os biomas brasileiros, o governo de Bolsonaro chega ao extremo de militar contra o meio ambiente.
Vimos que a destruição do meio ambiente brasileiro é um projeto político do governo federal, porque faz o desmonte de órgãos que ajudam a fiscalizar e combater as queimadas ilegais[3]. O “Dia do Fogo”, expõe a necessidade de entendermos o governo do Bolsonaro enquanto o que ele de fato é: um falso patriotismo que detesta e ataca tudo o que caracteriza o Brasil, e a Amazônia é um dos alvos.
Referências
[1]https://www.bbc.com/portuguese/brasil-49453037
[2] Toda a nota pode ser lida no link: https://www.brasildefato.com.br/2019/08/24/via-campesina-queimar-a-amazonia-e-
crime-contra-a-humanidade/
[3]https://www.oeco.org.br/blogs/salada-verde/ibama-lanca-carta-aberta-com-medidas-contra-o-desmonte-do-orgao/
Sobre o Autor:
Fábio Melo: Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Pesquisa sobre História Social da América e Educação na América (América Latina e Estados Unidos). Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na rádio A Voz do Morro. Tem diversos textos escritos sobre educação, cultura e política.
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Sobre o Autor:
Rafael da Silva Freitas: Nasceu no dia 29 de dezembro de 1982 em Santa Maria, RS. Historiador. Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na rádio A Voz do Morro. Colunista no Jornal de Viamão.
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