RESENHA DO LIVRO: “A invenção da natureza” de Andrea Wulf.

 

Livro: A invenção da natureza: a vida e as descobertas de Alexander von Humboldt

Autora: Andrea Wulf

Editora: Crítica

Ano: 2019


Alexander von Humboldt (1769-1859) foi, sem dúvida, uma figura excepcional dentro de sua realidade histórica. Pioneiro nas áreas da geografia e ambientalismo, foi o primeiro a desenvolver a ideia de como as atividades humanas alteram a natureza.


O livro da historiadora Andrea Wolf tem um texto agradável. A obra traz toda a vida, as obras mais importantes do estudioso alemão e os principais cientistas/exploradores influenciados por Humboldt. Nascido na Prússia (quando ainda não havia a Alemanha unificada), e desde cedo muito curioso, Humboldt se tornou próximo a Goethe, grande expoente literário da época. Após trabalhar algum tempo como inspetor de minas, Humboldt planejou uma grande viagem de exploração para a América. E foi justamente durante suas viagens pelo continente americano, entre 1799 e 1804, que Humboldt desenvolveu as teorias com as quais se tornou famoso: a ideia da natureza como uma teia de relações entre seres vivos e meio ambiente e os impactos das modificações nas paisagens naturais através das atividades econômicas humanas. Sua influência foi tão grande a ponto da corrente oceânica que ocorre no litoral do Chile e Peru levar o nome de “corrente de Humboldt”.

Além de explorar e documentar muitos lugares interessantes da América do Sul, Central e Estados Unidos, Humboldt não deixava de lado os acontecimentos políticos e sociais de sua época. Humboldt conheceu e influenciou importantes políticos como o revolucionário Simom Bolívar e o presidente estadunidense Thomas Jefferson, com o qual divergia sobre a escravidão nos Estados Unidos. Já na área científica, as ideias e livros de Humboldt influenciaram Charles Darwin, Henry David Thoreau e os precursores do conservacionismo e preservacionismo, George Perkins Marsh e John Muir.

Apesar de ser um liberal antiescravista, Humboldt era amigo dos monarcas prussianos, chegando a receber renda como uma espécie de “cortesão”. Ele se colocou ao lado dos movimentos revolucionários de 1848, contra o absolutismo ainda presente em seu país, a Prússia (futura Alemanha).


Alguns trechos do livro:

“Na medida que descreveu o modo como a humanidade estava alterando o clima, inadvertidamente Humboldt tornou-se o pai do movimento ambientalista. Humboldt foi o primeiro a explicar as funções fundamentais da floresta para o ecossistema e o clima: a capacidade das árvores de armazenar água e enriquecer a atmosfera com umidade, sua proteção do solo e seu efeito resfriador. Ele falou também do impacto das árvores no clima através da liberação de oxigênio. Os efeitos da intervenção da espécie humana já eram ‘incalculáveis’, Humboldt insistiu, e poderiam se tornar-se catastróficos se o homem continuasse a perturbar tão ‘brutalmente’ o mundo” (p. 99).


“Diferente da maioria dos europeus, Humboldt não considerava os povos indígenas como bárbaros, mas ficou encantado por sua cultura, crenças e línguas. A bem da verdade, falou da ‘barbárie do homem civilizado’, depois de constatar a forma como os nativos eram tratados pelos colonos e missionários” (p. 116).


“A instituição da escravidão é antinatural, disse Humboldt – porque ‘o que é contra a natureza é injusto, mau e sem validade’. Ao contrário de Jefferson, que acreditava que negros eram uma raça ‘inferior aos brancos, tanto em seus dotes de corpo como de mente’, Humboldt insistia que não existiam raças superiores ou inferiores” (p. 166).


“Humboldt havia previsto que a luta sul-americana por independência seria sangrenta, porque a sociedade colonial estava dividida por profundas fissuras. Durante três séculos os europeus tinham feito de tudo para cimentar o ‘ódio de uma casta por outra’, disse Humboldt a Jefferson. Criollos, mestiços, escravos e tribos indígenas não eram um povo unido, mas viviam distantes entre si e desconfiavam uns dos outros” (p. 226).


“Em Miass [Rússia], em 14 de setembro [de 1829], Humboldt celebrou seu aniversário de 60 anos na companhia do boticário local, um homem de quem a história se lembraria como avô de Vladimir Lenin” (p. 304).


“A natureza, explicou Humboldt, tinha de ser descrita com exatidão científica, mas sem ‘que por meio disso seja privada do vivificante bafejo da imaginação’. O conhecimento não ‘esfria meus sentimentos’, porque os sentidos e o intelecto estavam conectados” (p. 370).



Sobre o autor:
 
 
Fábio Melo: Historiador. Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata (GEACB). Pesquisa sobre História Social da América e Educação. Produtor e radialista do programa "História em Pauta", que já passou por rádios comunitárias de Porto Alegre e Alvorada. Professor de História e Geografia. Tem diversos textos escritos sobre educação, cultura e política.

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