BRAÇOS CRUZADOS, MÁQUINAS PARADAS (Longa Metragem, 1978, Brasil)

 


O filme é um documentário de dois então estudantes de cinema da USP (Roberto Gervitz e Sérgio Toledo Segall) a respeito de uma eleição no sindicato dos metalúrgicos de São Paulo. Os estudantes realizaram o documentário no estilo do cinema de intervenção política então praticado nos anos 60 e 70, embora repensando alguns pontos de sua estética.

 

 

O documentário capta um momento histórico: a crise econômica surgida com as crises do petróleo e o endividamento externo do regime militar brasileiro. Aparece o operário Santos Dias, posteriormente assassinado pela ditadura militar. O filme encerra com cenas da repressão de um protesto diante de uma Igreja Católica.

 


Passeata dos grevistas no bairro Pará em direção ao centro da cidade: mobilização

É curioso que o filme evita o recurso da voz em off, chamada “voz de Deus”. Ele prefere seguir a trajetória da eleição, tomando nitidamente o partido da “chapa 3”, oposição no sindicato. A “voz de Deus”, tida como a voz do saber, foi usada em poucos minutos (ao todo uns quatro). Dado o contexto, pode-se supor que a chapa 3 é embrião do PT e da CUT, a Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo (OSMSP), a chapa 2 era composta por dissidentes do PCB, MR8 e PC do B e a chapa 1, vencedora, era comandada pelo famoso Joaquinzão, originalmente tido como o mentor de Lula. Joaquinzão discursa contra o marxismo, dizendo fazer a “nossa liberdade” e não “importar modelos”, referindo-se aos modelos do socialismo real, crítica que até hoje é repetida e foi repetida por Lula em outra ocasião. E diz também não importar o “modelo yankee”. No entanto, o regime militar ao qual Joaquinzão estava ligando era grande importador de modelos yankees, a exemplo do acordo MEC/USAID.

 

Na realidade, Joaquinzão representou os patrões e os jogos sujos que eles realizam para continuar no poder. É bem curioso esse documentário, uma vez que hoje sabemos que Lula, criado no sindicalismo pragmático de Joaquinzão, passou para essa proposta sindical da chapa 3, mas posteriormente, em 2005, elogiou Joaquinzão, fundador da Força Sindical e com quem Lula aprendeu um sindicalismo de resultados e pragmático. Joaquinzão chegou a candidatar-se pelo PCB e pelo PTB antes de 64, mas apoiou o golpe. Posteriormente, nos anos 70 e 80 aliou-se pontualmente ao PC do B contra o PT, ao PSDB e ajudou a criar a Força Sindical e a CGT.

 

A narrativa deixou bastante claro uma maior simpatia pela chapa que os convidou, a chapa 3. O trotsquismo surgiu, nesse momento, apresentando-se como “consciência revolucionária e crítica” da esquerda que conciliava com o sistema, o PCB, bem como opondo-se ao regime militar.

 

O foco da crítica do filme, curiosamente, não é o regime militar e sim a estrutura sindical herdada de Getúlio Vargas, que logo de início é comparada à estrutura do fascismo de Mussolini. Um desavisado poderia até pensar que a ditadura vigente ao período era uma ditadura varguista e não um movimento originado militar que foi, originariamente, surgido a partir dos dilemas e ambições do governador udenista de Minas Gerais, Magalhães Pinto.

 

A crítica do filme direciona-se para a estrutura sindical herdada da Era Vargas, daí as imagens do “pai dos pobres” no início do filme, que estão ali para serem desconstruídas. Ao final, a voz em off de Othon Bastos anunciou, em tom esperançoso, que a estrutura sindical brasileira começou a cair. Não há como deixar de pensar de, se de fato ela caiu de lá para cá, foi pior e criou um novo “peleguismo”.

 

No decorrer dos debates, a legislação trabalhista é acusada de ser fascista, acusação muito recorrente nesse período, acusação rebatida por Leonel Brizola, que defendia que a legislação é que possibilitou a organização de greves, mesmo em um período de ditadura militar em que o direito de greve tinha sido proibido.

 

Cenas do filme:

 



 Filme completo:




 

BIBLIOGRAFIA:

 

PAZZANESE, Regina Egger. Braços Cruzados, Máquinas Paradas: uma análise fílmica sobre o cinema militante paulista dos anos 1970<<http://www.snh2015.anpuh.org/resources/anais/39/1439071090_ARQUIVO_paper_anpuh_jul2015_revisado_posapresentacao.pdf>>

 

VENCESLAU, Paulo de Tarso. Primeiro de Maio Virou Festa de Pelego.

<http://www.jornalcontato.com.br/221/passagem/index.htm>

 

Sobre o autor:


 

Lúcio Junior Espírito Santo: Graduado em Filosofia. Mestre em Estudos Literários/UFMG. Blog: revistacidadesol.blogspot.com. Bom Despacho, Minas Gerais. Nascido em Uberaba, 1974.

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