“Quando
ouço Michelle Perrot, uma das historiadoras de vanguarda na França,
dizer numa entrevista que a sociedade pós-moderna é uma sociedade em que
as possibilidades de expressividade individual se multiplicam, que o
impacto do sistema político e os modelos culturais têm sido exagerados e
que afinal de contas as pessoas ainda têm sua vida privada, que suas
faculdades críticas são cada vez mais desenvolvidas porque um maior
número de pessoas são educadas, eu me pergunto se de fato essa
observação se aplica às camadas populares tanto nos países periféricos
quanto no centro. Mas quando Perrot afirma que a sociedade pós-moderna é
uma sociedade em que as pessoas têm um respeito muito maior umas pelas
outras, eu me pergunto em que mundo ela tem vivido. Racismo, torturas,
massacres de lideranças, guerrilhas, esquadrão da morte, problemas de
sobrevivência que afetam o dia a dia de homens e mulheres das
periferias, a violência do cotidiano, a manipulação da mídia, esses e
tantos outros problemas que são o dia a dia de milhares de pessoas nas
periferias do mundo não parecem ter entrado no universo de Michelle
Perrot e de muitos outros intelectuais de vanguarda dos países
desenvolvidos.”
EMÍLLIA VIOTTI DA COSTA
COSTA, Emíllia Viotti. A dialética invertida e outros ensaios. São Paulo: Unesp, 2014, p.31-32.
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