MAZOMBOS: A sociedade colonial brasileira

No Brasil, colônia de Portugal, também existiam elites. Primeiramente foi a elite vinculada a produção de açúcar (os senhores de engenho) em seguida ao ouro (os fidalgos do ouro).

Os descendentes de portugueses no Brasil se consideravam legítimos portugueses, mas por não terem nascido em Portugal eram chamados pejorativamente de mazombos; assim como na América hispanizada eram chamados criollos. Contudo, o Brasil não era habitado somente pelos portugueses e seus descendentes. A maioria da população, nos séculos XVI e XVII era indígena ou mestiça. Nos séculos seguintes, XVIII e XIX, negros africanos vieram em massa para o Brasil, como trabalhadores escravizados.

A economia brasileira, no final do século XVI e ao longo do XVII, foi organizada em torno dos engenhos para produção de açúcar. Ao longo do litoral nordeste até o sudeste brasileiro foram plantados canaviais. Com o passar do tempo, as plantações se expandiam cada vez mais para o interior. E foi nas regiões interiores do Brasil, chamadas de sertões, que a atividade pecuária se desenvolveu. A pecuária teve início na Zona da Mata nordestina e se estendeu até o vale do rio São Francisco. Além da carne, o couro também era extraído dos animais. A pecuária se desenvolveu para suprir os engenhos.

Diferente da política espanhola, centralizada, burocratizada e muitas vezes prejudicial com os próprios criollos, no Brasil os mazombos não eram tão molestados. Havia o governo geral em Salvador. Havia também o governo do Estado do Maranhão (um estado separado do Brasil que só foi incorporado a este em 1775). Mas estes governantes não passavam de “figuração”; quem mandava no Brasil eram os senhores de engenho – claro que dentro do sistema colonial, mas numa perspectiva mais “autônoma” que os criollos espanhóis.

Esta situação se modificou no início do século XVIII. Foi descoberto ouro no Brasil e isto obrigou a Coroa portuguesa a tomar medidas semelhantes as adotadas pela Espanha dois séculos antes: centralização administrativa exclusivamente nas mãos dos funcionários da Coroa. Todo o território das Minas Gerais foi cercado por funcionários da Coroa e só entrava e saia gente (escravizados ou não) após uma revista minuciosa.

Muitos senhores de engenhos, que se viam cada vez mais com dificuldades devido à concorrência do açúcar caribenho, decidiram tentar a sorte nas recém-descobertas minas no Brasil. Eles pegaram a riqueza que podiam, seus trabalhadores escravizados, e foram para as Minas Gerais. Chegando lá, muitos conseguiram se estabelecer como fidalgos do ouro: donos de minas.

Nesta época, já havia se consolidado o modelo da “família tradicional brasileira”: brancos, descendentes de europeus, cristãos e donos de escravizados.


O período, que vai de 1700 até mais ou menos 1770, é o auge do ouro no Brasil. Do ouro e da escravidão: o número de trabalhadores escravizados subiu vertiginosamente. O núcleo da economia se muda do nordeste para o sudeste: como atesta a mudança da capital de Salvador para o Rio de Janeiro em 1764.

Junto com os mineradores, uma série de serviços eram necessários para manter quem vivia na região das Minas. Como a região só era utilizada para a extração de ouro, era preciso trazer gado e carne salgada do sul. Para carregar sacas e mais sacas de ouro para os portos era preciso animais de carga como as mulas. Quem fazia estas atividades de trazer produtos e animais eram os tropeiros – indivíduos que com sua tropa levavam para as minas itens que não era produzido nesta região.

A riqueza arquitetônica que vemos atualmente nas igrejas e nas cidades de Ouro Preto, São João del Rei e outras foram construídas durante este período da exploração aurífera. Mas a beleza arquitetônica mostra apenas um lado da realidade daquela época. Poucos ficavam com o ouro, a maioria da sociedade formada nas Minas Gerais era de gente a beira da miséria. A ilusão de encontrar ouro e enriquecer, fez com que levas de migrantes do Brasil todo chegassem nas Minas Gerais. Para a maioria foi só uma amarga ilusão...

Em fins do século XVIII, as Minas Gerais já não rendiam tanto para a Coroa portuguesa. O contrabando, desviava muitos quilos de ouro dos cofres portugueses para os bolsos de contrabandistas ingleses; mesmo tendo uma forte vigilância dos funcionários, que, muitas vezes, eram subornados para que permitissem que ouro saia da região das Minas.

Com a decadência da extração do ouro, uma nova atividade produtiva começou a ganhar mercados internacionais: o café. Inicialmente cultivado por fazendeiros do Vale do Paraíba – como uma atividade paralela ao açúcar – no Rio de Janeiro, a partir de 1760. No século XIX o café se tornou um produto muito prestigiado no mercado mundial, isto estimulou os fazendeiros a plantar mais café, ampliando a sua área de cultivo. Ao longo de todo o século XIX, o café brasileiro vai se expandir em vastas regiões do Sudeste, transformando-se no principal produto de exportação do Brasil.


Mapa econômico do Brasil colonial


O trabalhador escravizado segue sendo torturado nestas vastas plantações de café. E os barões, serão os donos da política no país.

Com a capital em Salvador o governo centralizado quase não tinha tanta ingerência sobre os grandes proprietários do Nordeste e Sudeste. Nas Câmaras Municipais, ou Senado da Câmara, os mazombos se reuniam para debater e discutir sobre a administração regional. Tinham a função semelhante aos cabildos na América espanhola. Somente proprietários de terra participavam da câmara municipal; escravizados, mestiços, hereges e cristãos novos (judeus convertidos ao cristianismo) não podiam participar. A primeira grande tentativa de centralização ocorreu com a criação dos “juízes de fora” em 1692, nomeados diretamente pelo rei de Portugal. Com a mudança para o Rio de Janeiro, as tendências centralizadoras da Coroa cresceram. Os governadores-gerais, ou vice-reis, agora passaram a ter poderes de caráter absolutista, sendo superados apenas pelo monarca português.


REFERÊNCIAS


CALDEIRA, Jorge. História da riqueza no Brasil. Rio de Janeiro: Estação Brasil, 2017.

DONGHI, Túlio Halperin. História da América Latina. São Paulo: Círculo do Livro, sem data.

FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2012.

LOSURDO, Domenico. Contra-história do liberalismo. Aparecida: Ideias & Letras, 2006.

RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a evolução e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

SCHWARTZ, Stuart; LOCKHART, James. A América Latina na época colonial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.

TODOROV, Tzvetan. A conquista da América: a questão do outro. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

WILLIAMS, Eric. Capitalismo e escravidão. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.



Sobre o autor:
 
 
Fábio Melo: Historiador. Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata (GEACB). Pesquisa sobre História Social da América e Educação. Produtor e radialista do programa "História em Pauta", que já passou por rádios comunitárias de Porto Alegre e Alvorada. Professor de História. Tem diversos textos escritos sobre educação, cultura e política.





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