Primeiros anos de escravidão no Brasil: Escravidão indígena

Com a chegada dos portugueses nas terras aonde hoje chama-se Brasil, a motivação dominante era poder extrair o máximo de vantagens e tesouros que pudessem encontrar nelas. Só que com as primeiras explorações realizadas, já foi possível constatar que a única fonte de riqueza que estava visível era o valioso pau-brasil uma árvore que dava um corante de cor vermelha muito utilizada na Europa para tingir roupas.

Além do pau-brasil os colonizadores encontraram clima agradável, natureza exuberante, habitantes cordiais e inocentes. Esses mesmos habitantes foram logo nos primeiros anos da descoberta fonte alternativa de obtenção de lucro, embora não haja muitos estudos sabe-se que os indígenas eram levados para a Europa para serem vendidos nos mercados europeus, esses índios eram capturados ou por meio de troca com outros indígenas ou enganados pelos colonizadores ao levarem o pau-brasil para as embarcações. 

Com o começo da indústria açucareira aparece a preocupação de quem irá trabalhar nas fazendas que exigia duras, longas e ininterruptas jornadas de trabalho. Era necessário encontrar braços abundantes e baratos para os engenhos, roças e plantações; porém a contratação do braço assalariado era impossível naquele momento. A grande maioria dos trabalhadores europeus não largaria a sua vida na Europa para trabalhar em condições piores de trabalho no chamado Novo Mundo, os que viessem poderiam acabar abandonando seus empregos e ir morar em terras ainda desabitadas por europeus no imenso litoral brasileiro, se sustentando através de agricultura de subsistência. Nesse momento a mão-de-obra escrava era a melhor alternativa para a indústria canavieira, sendo um direito do dono de capitania escravizar os nativos.

Os primeiros índios a serem utilizados como escravos foram os chamados índios de corda, que eram adquiridos através de trocas com as tribos que aprisionavam outros índios em suas guerras tribais que ao longo do tempo eram estimuladas pelos colonos portugueses que fomentavam a inimizade entre as aldeias nativas. Um índio capturado por uma tribo rival da sua acabava tendo três destinos: era incorporado como hóspede na tribo rival, sacrificado em rituais antropofágicos, ou era negociado com os colonos e acabava sendo escravizado. Não era fácil para os colonos conseguir índios para escravizar, os índios capturados por outras tribos eram poucos e eles não gostavam de ceder todos para os portugueses em troca das poucas valiosas ferramentas.

Com o desenvolvimento das plantações e a necessidade de mais trabalhadores, os colonos pressionavam cada vez mais as comunidades aliadas para capturarem índios de corda. A luta pelos escravos acaba mudando a convivência entre os nativos e os colonos. De um lado um grupo de pessoas que pensa apenas em lucrar cada vez mais, e do outro uma população não acostumada com bens materiais e imposição alheia, isso acaba gerando diversos conflitos entre os dois grupos que vem a resultar em guerras e matança dos dois lados. 

Em poucos anos o indígena acabou sendo massacrado pelas guerras travadas entre as tribos indígenas e os colonizadores, além das doenças trazidas pelo homem branco que dizimou a grande maioria da população indígena, fazendo com que se tornasse cada vez mais difícil a captura de novos índios, para a escravidão. Com a falta de mão-de-obra indígena e o interesse da coroa portuguesa em trocar o indígena pelo negro fez com que o comércio de trabalhadores negros escravizados se tornasse a melhor alternativa para os donos de engenhos e para a Coroa que lucrava através do comércio triangular. 

Assim podemos compreender que a escravidão do índio foi um dos fatores que levou a colonização do Brasil a ser um sucesso, a partir de sua mão-de-obra a metrópole portuguesa conseguiu explorar as terras de uma forma que ao mesmo tempo em que trazia riquezas, protegia o território contra as outras nações europeias.



Referências
BERTA, G.Ribeiro.O Índio na historia do Brasil. São Paulo:Global,1983
GOMES, Mércio Pereira.Os índios e o Brasil. Petrópolis:Vozes, 1988
KLEIN,S Herbert.O comercio atlântico de escravos: quatro séculos. São Paulo :Replicação,2002
MAESTRI, Mario.O escravismo no Brasil. São Paulo:Atual,1994
MAESTRI, Mario.Uma historia do Brasil colônia.São Paulo :Contexto,2002
MESGRAVES, Lima. O Brasil que os europeus encontraram.São Paulo:Contexto,2002
PINSKY, Jaime. A escravidão no Brasil. São Paulo:Contexto, 1988
SERGIO Buarque de Holanda.Historia geral da civilização brasileira .Rio de janeiro:Bertrand Brasil,2008.




Áudio e Vídeo




Sobre o Autor:
Felipe Carreira. Historiador e técnico em informática. Especialista em uso de mídias e tecnologias em educação. Estuda sobre a pirataria no Atlântico com ênfase no século XVII e XVIII. Criador deste espaço virtual para o GEACB. Produz vídeos e documentários sobre a História da América,.

5 comentários:

  1. "Além do pau-brasil os colonizadores encontraram clima agradável, natureza exuberante, habitantes cordiais e inocentes". Acho que esta é uma afirmação bastante essencialista especialmente tendo em consideração que o escrito busca fazer uma reivindicação da história dos indígenas do Brasil.

    Não podemos simplesmente assumir que os indígenas são inocentes já que foram esse tipo de convicções as que justificaram o trato dos nativos como crianças durante nossa história. Além disso, sería ridículo pensar que os seres humanos são puros e inocentes até a chegada dos européios que simplesmente corrompem os nativos. De fato, no mesmo escrito é mencionado que algumas tribos vendíam os seus rivais como escravos aos colonizadores, por tanto existe uma contradição.

    Em comentário não necessariamente relacionado. Aonde estão as fontes utilizadas para a construção desses textos? É muito importante saber sobre que tipo de autores se basearam os fatos e opiniões expressados aqui para que os leitores saibam de onde vêm estas idéias, tenho quase que absoluta certeza de que estas não são idéias novas e que existem muitos historiadores e acadêmicos que já escreveram sobre a conquista portuguesa e espanhola da América Latina, e contribuíram com essas mesmas idéias.

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    1. Rusty Rockets, agradeço a comentário. Realmente sempre que se produz um texto devemos colocar nossas fontes, o que não fiz até o momento por entender que essa seção do nosso blog seja voltada para um auxilio a aprendizagem da história focando principalmente em atividades. Devido ao seu comentário coloquei as fontes é pretendo sempre que possível coloca-las nessa seção. As ideias colocados no texto são realmente de autores quase que em sua totalidade, a nossa preocupação foi de ser o mais didático possível de acordo com a proposta.

      Nosso blog conta com uma seção textos americanista que é voltada para textos com ideias mais originais do grupo.

      Realmente os nativos não são "inocente" (puros), e não vejo a contradição colocada por você no texto, já que fica bem nítido que os português sempre se utilizaram dos índios de corda para conseguir escravos. Todas as sociedades tem suas características e as sociedades indígenas não eram diferentes as divergências histórias entre essas tribos sempre foram instigadas pelos português para obter o que desejavam. Utilizar de argumentos tipo os índios eram canibais, os africanos escravizam africanos etc.. para justificar atrocidades históricas não é correto.

      A principal intenção do texto e desmistificar de uma forma didática que os índios não eram vagabundos é que na verdade eles só foram trocados por escravos africanos pela dificuldade de obter indígenas e principalmente pelo interesse da coroa portuguesa de lucrar com o comércio triangular.

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    2. "Além do pau-brasil os colonizadores encontraram clima agradável, natureza exuberante, habitantes cordiais e inocentes". A afirmação está correta, Rusty Rockets, porém pode ser melhor interpretada. Não está dito ali que todos os indigenas foram cordiais e inocentes, mas não pode-se negar que muitos deles foram sim coridiais, porque inocentes. Afinal não podemos cobrar deles o conhecimento de como a a história do Brasil se desenvolveria. Que houve genocídio! Ganância! Mentiras! Por outro lado, também não podemos ter uma visão romanceada e ufanista de nosso passado, pois houve uma parcela de indígenas que se beneficiou com as invasões europeias! E houve também resistência! E indígenas que foram sim corrompidos! A realidade, tu sabes, é contraditória. Uma descrição do passado deve conter estas contradições, caso contrário não é História ali denunciada!
      No mais, obrigado por criticar! Estamos aqui para isso, através de erros e acertos, estudar a História da América!

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  2. A nível de curiosidade os Tupiniquins foram um dos povos indígenas que manteriam atitudes cordiais com os primeiros colonizadores inclusive com Cabral. Daí vem um dos pseudos nomes da seleção brasileira seleção Tupiniquim.

    Temos que entender que as guerras entre os índios eram guerras já travadas a anos quando os europeus aqui chegaram os indígenas não tinham nada contra eles, começaram a ter após suas atitudes de destruição.

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  3. ‪#‎ÍNDIOFOBIA‬ DA SOCIEDADE - ASSINA A PETIÇÃO: SECRETARIA NACIONAL DOS POVOS INDÍGENAS, 95% VIVEM NAS RESERVAS. E O HOMEM SÓ DESTRÓI A CULTURA INDÍGENA E AS FLORESTAS. JUSTAMENTE QUANDO O ÍNDIO QUER EVOLUIR...
    http://lnkd.in/bwvqDi8

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