Muito se fala em “Revolução”, entretanto pouco se esclarece sobre este termo. Não se tem, muitas vezes, uma noção de como e onde aplicar o termo revolução e em que medida há, de fato, uma revolução no processo histórico de uma determinada sociedade.
Antes de mais nada, trataremos o termo “Revolução” como uma categoria. Ou seja, é um termo usado de forma ampla. Neste sentido, o sociólogo Michel Löwy faz a seguinte contribuição sobre o termo. Para ele revolução é “uma reviravolta: inverte as hierarquias sociais ou,[...], recoloca no lugar um mundo que se encontra do avesso” (LÖWY, 2009, p. 7). Partindo deste pressuposto, podemos dizer que as independências na América Latina foram revoluções: inverteram uma hierarquia, colocaram no poder os criollos que antes detinham o poder econômico mas não o poder político. A independência das Treze Colônias inglesas foi uma revolução, pois confirmou a dominação dos colonos contra as tentativas de aplicação de um mercantilismo comercial sobre a relativa liberdade comercial que vigorava até então em algumas colônias inglesas da América do Norte (principalmente na Nova Inglaterra) – recoloca no lugar o mundo que os ingleses da metrópole tentaram inverter. A Revolução de 1930, no Brasil, também pode ser considerada uma revolução, pois inverteu uma hierarquia, colocou no poder uma elite dissidente, oligarquia do Rio Grande do Sul, contra a oligarquia dominante, a paulista.
Como conceito, o termo revolução é mais “restrito”, podendo ser utilizado em diferentes contextos, de acordo com diferentes recortes e análises. Por exemplo: revolução cultural, revolução burguesa, revolução científica, revolução tecnológica, revolução urbana, revolução literária, revolução socialista – seja aos moldes marxistas ou em outros – etc.
Ainda há, neste debate sobre revolução, a polêmica entre a diferença de “revolução” e “golpe de Estado”. Uma coisa não exclui a outra. O que define se um golpe é revolucionário é seu fim imediato. Tomemos como exemplo o Brasil. Muitos ainda dizem que o movimento civil-militar de 1964 é uma revolução, quando na verdade é apenas um golpe de Estado. Foi usado o termo “revolução” apenas para dar uma outra impressão e mascarar, de fato, seu verdadeiro fim.
Porque foi um golpe de Estado e não uma revolução? Voltando a definição da categoria que buscamos no escrito de Löwy, o golpe de 1964 não inverteu nenhuma hierarquia, ao contrário, fez questão de manter hierarquias há muito estabelecidas no poder; não recolocou um “mundo virado aos avessos”, ao contrário, retrocedeu em algumas questões, como a repressão a movimentos sociais. Sendo assim, o golpe de 1964 pode ser caracterizado até como uma contra-revolução, mas não como uma revolução; nem mesmo em algum conceito mais restrito – como os elencados acima.
Referências:
LÖWY, Michael (Org.). Revoluções. São Paulo: Boitempo, 2009.
Áudio e Vídeo
Fábio Melo. Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Pesquisa sobre História Social da América e Educação na América (América Latina e Estados Unidos). Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na rádio 3w. Tem diversos textos escritos sobre educação, cultura e política.
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