BLUES: Breve história de 1910 a 1930

1 INTRODUÇÃO

O blues estadunidense é, sem dúvida, uma das mais criativas manifestações culturais e artísticas do século XX. A gama de músicos influenciada por este estilo musical é vastíssima; até hoje músicos de renome internacional trazem em seus espetáculos as raízes do blues estadunidense.

O blues é primeiramente uma música rural. Os grandes latifúndios dos Estados do sul dos EUA foram o palco da sua criação. Muitos dos negros que foram libertados após a guerra civil estadunidense, passaram a viver com seus antigo senhores, mas agora como empregados. Assim, continuavam nos campos, mas não tinham terras próprias e ainda enfrentavam uma segregação racial. Desta forma, os antigos cantigos que entoavam em seus árduos trabalhos agora tomavam novas formas. E, à medida que se conseguiam alguns instrumentos, eles se incorporaram à música; pois em suas origens era cantada sem acompanhamento instrumental. O blues surge exatamente nestas áreas rurais: é o contry blues. Este chega às grandes cidades, como New Orleans, Chicago e New York através de cantores itinerantes: os blues-singers.

As décadas de 1910 até 1930, são colocadas como a época “áurea” do blues nos Estados Unidos. Isto porque é neste período que entram em cena dois fatores que contribuem para a divulgação deste estilo musical: os folcloristas e os discos de vinil. Os folcloristas passam a viajar pelo interior dos E.U.A pesquisando sobre os mais variados temas. Desta forma contribuem para que o blues seja divulgado e se torne popular.

Os discos de vinil surgem nesta época e muitos cantores de blues, por influência dos folcloristas, começam a gravar suas músicas. Assim, estas décadas são importantes por que é neste período que temos, de fato, um material confiável e registrado sobre os blues. Nestes anos também que os blues-singers passaram a se apresentar nas cidades grandes.

Com efeito, o blues se cristaliza como um estilo musical, diferenciado do jazz. 

Robert Johnson
Os negros que viviam como trabalhadores escravizados nos grandes latifúndios, uma vez libertos, vivem sob uma severa segregação racial. É exatamente nestes tempos difíceis, que o blues se torna uma musica popular nas comunidades negras. E, em poucas décadas, o blues se torna uma música conhecida não só nos E.U.A., mas também em outros países da América, como o México, e na Europa.

Desta forma, o blues não passa apenas por um simples ritmo musical, é também um importante movimento cultural e social. Isto porque engloba não só canções de temas tristes mas a possibilidade de fuga, que pode ser entendida como uma insubmissão ao que a realidade brutal e as condições de vida impõem aos sujeitos que fazem, que cantam, o blues. Assim, o blues marca em uma esfera cultural, pois é essencialmente um estilo musical. Segundo o historiador inglês Eric J. Hobsbawm, “o ponto importante a respeito do blues é que marca uma evolução não apenas musical, mas também social: o aparecimento de uma forma particular de canção individual, comentando a vida cotidiana (1990, p.56)”.

Este trabalho não buscou ser um estudo definitivo, nem mesmo tem a pretensão de esgotar o assunto, pois há muito material que pode ser analisado e servir para as mais diversas interpretações. Além do que, um estudo mais aprofundado do blues merece um trabalho de maior folego. Sendo assim, este artigo apenas elenca as origens, temas específicos, músicos e contextos sociais para a compreensão daquela realidade que proporcionou o desenvolvimento do blues estadunidense.

2 AS ORIGENS: OS WORK SONGS E OS SPIRITUALS

O blues e o Jazz tem uma raiz musical em comum que são os work songs e os spirituals. 

Os work songs são os cantigos dos negros escravizados que trabalhavam nos latifúndios do sul dos Estados Unidos. São musicas que falam do trabalho que era realizado (worksignifica trabalho em inglês). Suas origens se estendem desde antes da guerra civil de 1861-1865.Enquanto os escravizados trabalhavam, eles entoavam sozinhos, ou em conjunto, canções sobre sua difícil vida, sobre o trabalho e o local onde ele se realizava. Estas canções entoadas pelos trabalhadores escravizados se disseminavam facilmente. Eram passadas de geração para geração de forma oral. A oralidade, deste modo, é um importante difusor de cultura, sabedoria e tradição.

Os spirituals são canções que tinham algo de religioso, mas não chegavam a ser exatamente uma oração. O spiritual tinha origens remotas, que chegam na Europa do século XVIII. Provavelmente, alguns colonos chegaram na América com estas canções e logo se disseminaram. Os spirituals são uma espécie de lamento cantado – um lamento que vem do âmago do indivíduo, portanto, do espirito. Seus temas dizem respeito a fuga para um lugar melhor, uma terra prometida de liberdade. Alguns spirituals tinham uma linguagem própria, que só os negros escravizados entendiam. Desta forma, muitas vezes serviam como uma espécie de código para uma possível fuga.

Com o tempo, estes dois tipos de canção, o work songs e o spiritual, se tornaram famosos entre os trabalhadores escravizados, principalmente dos estados de Louisiana, Mississipi, Alabama, Carolinas e Geórgia. Após o turbulento período da guerra de secessão dos Estados Unidos, houve uma grande segregação racial nos estados do sul. Os negros foram libertados de seu trabalho escravizante mas em compensação foram excluídos da sociedade – via Black Code se as chamadas leis Jim Crow; cuja máxima era “separados mais iguais”.

Esta exclusão acabou levando as comunidades negras a uma espécie de resgate de suas raízes culturais que, mesmo estando sob a condição de escravizados, eles conseguiram criar e preservar.

Assim, houve uma “releitura” dos antigos work song se spirituals com um sentido de dar uma identidade a esta parte excluída da população; uma identidade que não fosse veiculada culturalmente a dos brancos. Desta forma, os work songs e os spirituals se fundiram e deram origem ao blues e o jazz. A diferença básica entre estes dois estilos musicais é que o blues é geralmente tocado com um tema bem definido, mas que cabe uma boa dose de improvisação; o jazz é muito mais improviso instrumental e muitas vezes não tem um tema vocal nesta improvisação.

Já no final do século XIX e início do século XX, algumas figuras do blues já começam a se destacar com suas composições. Ainda assim, muitas destas figuras remotas não merecem tanta atenção neste trabalho, pois algumas histórias que rondam estes personagens são muitas vezes lendas e variam de região para região.

3 OS TEMAS DO BLUES

Os temas das músicas de blues são dos mais variados. Entretanto, todos tem algo em comum: relatam a vida dos seus cantores, os blues-singers. Situações difíceis na vidas de homens e mulheres que ganham a vida em meio a um contexto racista dos final dos século XIX e início do XX. Segundo Paul Oliver, “Alguns blues descrevem desastres ou incidentes pessoais; crimes, prostituição, jogatina, álcool e aprisionamento têm sido sempre temas destacados. Alguns blues são mais suaves mas poucos revelam uma réplica à natureza; longe disso, expressam um desejo de mudar-se ou escapar por trem ou pela estrada para uma imaginada terra melhor” (1989, p.51-52).

Como explica o autor acima, a vida dura e um contexto repleto de incertezas refletem nas canções de blues. E são geralmente os mais sofridos os que mais faziam sucesso. Não é a toa que a palavra “blue” em inglês possui um duplo significado: alem da cor azul, blue quer dizer tristeza. Certamente, estes temas mais pesados são de um período que se aproxima do auge do blues, anos 1920-1930. O coutry blues, citado acima, tinha temas mais parecidos com os work songs, sobre os trabalhos no campo e solidão. Os temas citados por Oliver são, de fato, os de um blues já distante das suas raízes rurais do work songs e já se configurando como algo novo na música negra dos Estados Unidos. Uma nova realidade se molda de acordo com o processo histórico. Assim, o cantor de blues desta nova geração dos anos de 1910-1930 têm uma nova realidade, mais urbana, onde os temas do antigo blues rural já não se fazem tão presentes. 

Os cantores de blues passam a ter uma vida itinerante se apresentando pelas cidades e estes fatos se tornam os temas mais recorrentes de suas canções. Com efeito, o que parece mais relevante é que o tema intrínseco do blues é a vida destes homens e mulheres que cantam suas músicas. 

Se no início temos as canções ancestrais, vinculadas ao work-songs e ao spirituals, no blues o que se solidifica é uma angústia vinculada às experiências de vida e a realidade sempre presente como uma grande, se não a maior, fonte de inspiração para os temas. É o blues-singer cantando sobre si mesmo e sua vida, suas viagens e seus amores.

4 A TRISTE FIGURA DOS BLUES-SINGERS

A figura dos blues-singers (ou “cantadores de blues” no português literal), é, sem dúvida, uma das partes mais interessantes da história do blues. Após o country blues(blues rural) chegar nas grandes cidades, muitas vezes pelas mãos dos folcloristas, uma grande leva de músicos que já faziam pequenas apresentações locais, em cidades pequenas ou nas fazendas, foram tentar a sorte na cidade grande e quem sabe ter a oportunidade de mudar de vida. Muitos destes músicos, acabaram por encontrar a prostituição a jogatina e o álcool; que se tornaram os temas de suas canções.

Dentre as cidades que se destacam neste cenário do blues nos anos de 1920 e 1930 estão: New Orleans, Chicago, New York e Detroit. Os blues-singers em evidência nesta época são provenientes dos estados do sul dos E.U.A e desde cedo já entoavam as canções de seus ancestrais. Conforme estes músicos iam viajando pela região, novas ideias surgiam para eles colocarem sob o cantar triste do blues.

O interessante é que os primeiros blues-singers a fazer sucesso nesta época foram mulheres. Gertrude “Ma” Rainey (1886-1939), a chamada “Mãe do blues”, e Bessie Smith (1894-1937) a “Imperatriz do blues”, se apresentavam de forma itinerante nas cidades. Elas gravaram os primeiros discos de blues que se tem notícia. Apesar disto, elas usavam em seu repertório músicas que existiam desde as ultimas décadas do século XIX.

Embora estas cantoras tenham dado um impulso considerável para que o blues se popularizasse, outros blues-singer itinerantes como Leadbelly, “Blind Lemon” Jefferson e Robert Johnson também se tornaram personagens intrigantes e influentes do blues.

Lead Belly


Huddie Leadbetter, ou simplesmente Leadbelly (1885-1949), teve uma vida cheia de percalços. Acusado de homicídio, passou longos anos na penitenciária de Angola, na Geórgia. Desde muito cedo, Leadbelly esteve ligado às tradições do blues. Seus temas estão mais próximos as antigas raízes rurais, mas nem por isso ele deixa de explorar um blues mais urbano. Leadbelly rodou por muitas localidades e foi descoberto no final dos anos 1930 na penitenciária pelo folclorista Alan Lomax. Este fez com que Leadbelly gravasse algumas canções, que hoje constituem o material mais bem preservado de um cantor de blues daquela época.

“Blind Lemon” Jefferson (1883-1930) é outro típico músico itinerante de blues. Cego deste criança, começou sua carreira de blues-singer acompanhando Leadbelly pelo interior dos estados do sul dos Estado Unidos. “Blind Lemon” Jefferson esteve algum tempo em Chicago onde gravou alguns clássicos do blues. Estas gravações foram feitas na década de 1920; tornando-o bastante influente após sua morte.

A figura mais instigante e mítica do blues desta época é sem dúvida Robert Johnson (1912-1939). Johnson é considerado um “inovador”. Ele faz uma ponte entre as tradições rurais do blues, muito forte em seus predecessores de “Ma” Rainey até “Blind” L. Jefferson, com uma nova tradição urbana que surge neste instante e que ainda não possuía um terreno fértil. Muitos diziam que Robert Johnson tinha um pacto com o demônio e se apresentava de costas para a plateia, pois as notas que ele fazia em seu violão eram guiadas pelo demônio e ninguém podia vê-lo de frente, porque estaria possuído. Lendas e mitos à parte, Johnson teve uma considerável influência nos músicos de blues que iriam se destacar nas décadas seguintes. Mais do que isso, a música de Johnson tem uma forte influência não só nos E.U.A mas também na Inglaterra, onde o som dele será redescoberto em diversas releituras por músicos dos anos de 1960 e 1970, entre os quais Eric Clapton e os Rolling Stones.

Estes três blues-singers, Leadbelly, Jefferson e Johnson, foram responsáveis por influenciar muitos outros cantores de blues que apareceram nas próximas décadas. Muitos daqueles tornariam a cantar as músicas de seus mestres do blues. A tríade citada, no entanto, é importante pois surgiu e se manteve na ativa justamente nos anos em que o blues se tornava popular, saindo das comunidades negras, nas décadas de 1910-1930.

Portanto, não seria apenas por causa dos folcloristas como Alan Lomax que estas músicas se tornariam conhecidas, mas também a seriam devido a seus próprios interpretes e criadores. 

Naturalmente este potencial artístico do blues irá se tornar um grande negócio para as gravadoras que surgiriam alguns anos mais tarde. Entretanto, parece que neste primeiro momento os músicos não tinham nenhuma veiculação com grandes empresários de negócios musicais. Embora se tornando popular, o blues não abandonou a suas raízes. Pelo menos até o fim deste período “áureo”.

5 AS MÚSICAS

Acima foram descritos os temas do blues. A vida e as andanças dos blues-singers, são basicamente a inspiração para suas canções de blues. Com os temas de blues bem definidos, e com a explicação de quem são estes cantores de blues, os blues-singers, passaremos para as músicas que se tornaram os verdadeiros clássicos desta geração que fez suas apresentações e fama entre os anos de 1910 e 1930. 

Os anos delimitados aqui representam a “época de ouro” do blues por algumas razões, que já citamos, mas cabe elenca-las novamente. A primeira é que foram nestes anos que os cantores itinerantes do blues começaram a gravar suas canções. Os discos de vinil, possibilitaram importantes registros desta geração. Eles gravavam muitas vezes por influência dos folcloristas estadunidenses, que nesta época percorriam o interior se seu país registrando as mais variadas formas da cultura popular. Como o famoso folclorista Alan Lomax, citado anteriormente.

Por tanto, temos um período em que esta música é disseminada por cantores itinerantes e por folcloristas; ao mesmo tempo em que as gravações constituem um importante registro não só da produção da época, mas também de antigas canções que ganham vida através de seus interpretes.

O mais importante compositor de blues, no início do século XX, é William Christopher Handy (1873-1958). Ele é o autor de Saint Louis Blues, um clássico do gênero e que seguidamente é interpretada pelos mais variados artistas, dentro ou fora do blues. Robert Johnson tem uma conhecida versão desta música, que mais tarde (nos anos 1960) seria gravada por Eric Clapton.

A cantora “Ma” Rainey também teve suas canções de sucesso. Counting the Blues, Jelly Beans Bluese Leve e Camp Moan são seus maiores sucessos já na década de 1910-1920. 

É, contudo, em meados dos anos 1920 que Bessie Smith começa a ascender no cenário musical. As canções You´ve Been a Good Ole Wagone A Good Man is Hard to Find, deram a Bessie uma repercussão que ultrapassou as barreiras dos E.U.A mas sua canção mais famosa, Careless Love, não é uma canção de sua autoria. É mais uma destas canções de origem remota e cujo verdadeiro autor pode ter sido uma ou várias pessoas, pois vem de uma tradição oral.

Bessie Smith

Leadbelly tem em seu repertório muitas composições próprias, mas também algumas que remetem ao ancestral contry blues. House of the Rising Suntem um tema bem peculiar de blues, fala sobre um local (“casa do sol nascente”) onde os jovens perdem suas vidas na jogatina. Um lugar onde os vícios e o pecado estão por toda a parte. Mas a letra desta música serve também a outras interpretações, como a vida difícil de uma família que trabalha mas não consegue se livrar da sociedade segregacionista. Além desta canção há também as canções Cotton Fields, esta provavelmente mais antiga que remete aos trabalhos nos campos de algodão, Where You Did Sleep in Last Night e Blind Lemon blues.

Leadbelly inspirou “Blind Lemon” Jefferson, como já foi dito, portanto não é de se admirar que muitas das canções deste tenham uma forte influência daquele. O própria canção de Leadbelly Blind Lemon Blues foi regravada por Jefferson. “Blind Lemon” gravou no final dos anos 1920 em Chicago, músicas como Black Snake Moan, com um forte apelo sexual na letra, Folk Bluese Riverside125; que constituem um importante registro deste final de década.

Já no começo dos anos 1930 entra em cena Robert Johnson. A produção musical de Johnson foi muito influente, antes e depois de sua morte. Enquanto vivo ele influenciara músicos como Elmore James e Muddy Waters, após a morte suas músicas seriam “redescobertas” na Inglaterra por jovens músicos que tocam na Londres dos anos 1960. É de autoria de Johnson clássicos do blues como Crossroads e Love in Vain, ambas regravadas mais tarde, a primeira fez sucesso interpretada por Eric Clapton e a segunda pelos Rolling Stones. Além das músicas citadas, destacamos Traveling Riverside Blues e Kindharted Woman. Fora estas músicas que tem temas mais relacionados a própria vida de Johnson, seu repertório possui temas relacionados a um lado mais místico que envolve até mesmo pactos com o demônio. Por esses temas mais chocantes para a época, não é estranho que os músicos do Rock and Roll, principalmente o rock inglês dos anos 1960,farão o resgate às músicas de Robert Johnson. Um dado curioso é que, mesmo tendo grande influencia, o repertório de Johnson não é tão vasto, tendo gravado apenas 29 em sua vida.

Com efeito, mesmo que estas músicas tenham sido gravadas, e de fato foram, muito se questiona se foram ou não estes artistas que as compuseram realmente.

É muito difícil saber ao certo se quem gravou estas músicas realmente as compôs, visto que muitas das antigas canções eram transmitidas de geração para geração sem que houvesse um instrumento que registrasse o modo como seriam executadas. Assim, temos uma incrível variedade de músicas que muitas vezes poderiam ter uma raiz em comum. Seria mais ou menos como brincar de “telefone sem fio”. O que é dito no começo muitas vezes ganha um outro sentido no fim. Neste caso os sentidos mudam e outros elementos são acrescentados de geração em geração.

6 A EVOLUÇÃO DO BLUES: ENTRA EM CENA O JAZZ

Como foi dito acima, o blues e o jazz tem suas raízes em comum, o work-songs e os spirituals. Também foi ressaltado que a diferença básica entre os dois estilos é que o blues possui um tema fixo que tem suas variações durante as músicas, já o jazz não tem um tema fixo e as variações instrumentais tomam conta de toda a canção.

Entretanto, o jazz se configurou desta maneira por algumas circunstâncias especificas e que merecem ser abordas. Isto porque o jazz é tido uma uma espécie de “evolução do blues”, e as raízes desta evolução estão exatamente neste período áureo do blues nos Estados Unidos. 

À medida que a vida dos negros estadunidenses vai melhorando, há a possibilidade destes adquirirem instrumentos como pianos, baterias, guitarras. Ao longo dos anos estes músicos vão se reunindo nas localidades para tocar suas canções. Muitos passam a se apresentar em conjunto de seis a sete músicos – diferente do blues tradicional onde um cantor raramente se apresenta com mais de um acompanhante. Assim, no começo dos anos 1920 já se tem o aparecimento das Big-Bands. O som destas bandas, embora muito influenciado pelo blues é mais barulhento, intenso e frenético, e as improvisações se estendem da meia-noite até o nascer do sol (daí a contração “JAM” para designar um ensaio de bandas de música, ou músicos que tocam sem uma preocupação, por diversão ou mero acaso. As iniciais de “jam” do inglês Jazz After Midnight, significam “jazz após a meia-noite”). Nos primeiros discos gravados por estas Big-Bands já aparece o nome “Jazz” ou “Jass”, que tem significado controverso, mas é associado a “barulho” e “diversão”.

Estes músicos de jazz, geralmente tocam as músicas de blues. Loius Armstrong, trompetista famoso do estilo jazz, começou tocando numa destas Big-Bands como Saint Louis Blues, de W.C. Handy. A medida em que o jazz foi crescendo os músicos passaram a compor seus próprios estilos de tocar e também suas canções.

Com efeito, é somente após os anos 1920 que o jazz se torna de fato um estilo consolidado, capaz de “andar com suas próprias pernas”. Embora a influência do blues sempre esteja presente, os artistas do jazz acabam por dar ao estilo novos contornos, o que afasta o jazz de sua principal raiz musical que é o blues.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O blues é um estilo popular de música. Oriundo dos Estados Unidos, o blues tem suas raízes mais profundas em canções entoadas por trabalhadores escravizados nas imensas propriedades de terra. Com o fim da guerra civil dos Estados Unidos (1861-65) e a “melhora” relativa das condições de vida dos negros, estes passaram a resgatar suas tradições e dar a elas novas feições. Assim, o blues surge com suas características mais peculiares, com temas relacionados a vida dura dos negros e um tom melancólico que predomina na execução dos instrumentos.

O avanço tecnológico dos gravadores, gramofones, e outras tecnologias, possibilitou que estes artistas que cantavam blues, já no inicio dos anos 1910, fizessem seus primeiros registros gravados. Desta forma, o período que vai de 1910 a 1930 representa o uma “época áurea”; são as primeiras gravações de antigas canções folclóricas, que se transmutaram em blues, e também canções compostas pelos próprios blues-singers da mesma época. A própria figura dos blues-singers merece um destaque. Cantores itinerantes que compõe temas relacionados a suas vidas que surgem em pequenas comunidades rurais e que logo ganham os palcos em espetáculos nas grandes cidades.

Com efeito, o blues se torna popular já no início do século XX. Desde então, suas influências na música moderna são quase intrínsecas. Muitos cantores estadunidenses, e de todas as partes do mundo, volta e meia, fazem suas releituras do blues. Nos anos de 1920 em diante, o próprio jazz, com suas Big-Band se seu som frenético é influenciados pelo blues e suas raízes antigas, o work-Songse o spirituals. Entretanto, o próprio jazz é considerado uma espécie de evolução do blues.


REFERÊNCIAS

BURKE, Peter. História e Teoria Social. São Paulo: Unesp, 2002.

CHASE, Gilbert. Do Salmo ao Jazz.Porto Alegre: Globo, 1957.
HOBSBAWM, Eric J. História Social do Jazz. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.

KARNAL, Leandro [et al.].  História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. São
Paulo: Contexto, 2007.

OLIVER, Paul; et al. Gospel, Blues e Jazz. Porto Alegre: L&PM, 1989.

Sobre o Autor:
Fábio Melo
Fábio Melo. Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Pesquisa sobre História Social da América e Educação na América (América Latina e Estados Unidos). Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na rádio 3w. Tem diversos textos escritos sobre educação, cultura e política. 

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