As bases do pensamento pedagógico defendido pelas FARC-EP remontam aos tempos da Independência, ao pensamento bolivariano que posteriormente foi desenvolvido com propriedade por Marti e posto em prática na atualidade pelo Estado Socialista Cubano.
FARC-EP |
No pensamento de Bolívar, a universidade deveria preparar integralmente os estudantes, que deveriam cursar obrigatoriamente a língua francesa e inglesa, gêneros literários e ciências físicas. Bolívar se esforçou para que a universidade fosse o centro de estudos da realidade nacional, dos problemas essenciais e concretos dos jovens sul-americanos. O decreto bolivariano sobre a criação da universidade na cidade de Quito considerava, além do estudo das mais importantes línguas europeias, o ensino do idioma indígena Quechua.
A atividade de Bolívar na esfera da educação se baseou na concepção de um estado avançado com seus habitantes bem letrados, o qual realizaria uma política dirigida a educar seus cidadãos no espírito de uma moral elevada e de ideais patrióticos. Para criar um estado baseado nos princípios de associação, a educação e ilustração das massas estavam nos planos de Bolívar.
O estudo da obra do Libertador no campo da educação conduz inevitavelmente a Simon Rodriguez. A educação por meio do trabalho e a educação dentro da produção laboral foi a premissa didático-pedagógica que Bolívar compartilhou com Simon Rodriguez, seu mestre e amigo: para o desenvolvimento da mesma em final de 1825, Bolívar emitiu o decreto sobre a designação de Simon Rodriguez como diretor geral para assuntos da educação popular no recém criado Estado da Bolívia.
No ápice da atividade pedagógica reformadora de Rodriguez, ele criou uma escola experimental na cidade boliviana de Chuquisaca, com o princípio de desenvolver uma educação por intermédio do trabalho. Nela estudaram e trabalharam centenas de brancos, índios e mestiços, homens e mulheres.
Rodriguez se esforçou para educar pessoas de um novo tipo, não apenas úteis para a sociedade, mas também unidas por ideais sociais comuns. Rodriguez quis criar um sistema de educação que não se limitaria simplesmente a instrução dos alunos, mas além disso prepará-los para a sociedade, baseando-se nos princípios de associação e solidariedade.
Na criação da nova escola, Simon Rodriguez viu um meio efetivo de evitar que na América Latina, as classes dominantes encurralassem em casas de trabalho as massas de gente pobre e despossuída.
Conhecendo as concepções pedagógicas de Bolívar, seu apaixonado compromisso com as ideias gerais de educação popular, é impossível perceber o grau de influência delas nos magnânimos ideais de Rodriguez. Não é casual que seu trabalho sobre os problemas de sua pedagogia, “Sobre a instrução pública”, foi escrito, como se supõe, em 1825, ou seja, em um período de frutífera colaboração de Bolivar com seu mestre e amigo.
Os intentos de estabelecer a educação popular para garantir a transformação social, técnica e moral dos homens fracassaram, a ela se impôs a escola tradicional. Esta proposta de educação tem raízes profundamente populares e humanistas que não foi do agrado das elites, principalmente dos comerciantes. A educação popular democrática e sem distinção de qualquer condição social, orientada para a capacitação social igualitária, por meio do trabalho, para todas as crianças e jovens da República, ricos ou pobres, foi vista com horror.
Simon Rodriguez foi pioneiro na combinação do estudo com trabalho. Bolivar foi um defensor do ensino da ciência e da formação do espírito científico. Ele compreendia com clareza como o fanatismo e a ignorância conduz ao atraso, a miséria, a opressão e ao servilismo.
O conceito bolivariano sobre as finalidades da educação defendem que elas devem adequar-se com a idade, iniciações, gênio e temperamento das crianças. Considera que o ensino da História e dos idiomas deve principiar-se pelo contemporâneo. O ensino de geografia, cosmografia e estatística também seriam importantes.
O Libertador era contrário aos castigos corporais e se mostrava adepto dos métodos que estimulassem o aluno a superar-se. A educação deveria ser integral e planejada.
Educação fariana |
A educação, para as FARC-EP deverá ser gratuita, popular e democrática, sem distinção de nenhuma condição social, orientada a uma capacitação igualitária, por meio do estudo-trabalho e investigação, como conceberam Simon Rodriguez e Bolívar! Todas as alterações devem ser discutidas incluindo o debate sobre a escola e a sociedade colombiana. A escola deve ser dialogada, democratizar o saber, compartilhar culturas. Entre os elementos metodológicos práticos, está o trabalho sobre o pensamento político e História colombiana e pré-colombiana, apreensão e reconhecimento da realidade concreta para de acordo com ela definir a forma e os conteúdos que devem ser ensinados.
Outros objetivos são criar um idioma comum a todos os latino-americanos, proteger as línguas indígenas, socializar o conhecimento universal, superar o analfabetismo, ilustrar as massas, e retomar o pensamento de intelectuais americanos como Bolivar, Marti, Mariategui, Simon Rodriguez, Antonio Garcia, para pensar criticamente sobre a realidade colombiana e mundial. Todas as academias científicas devem interagir, através de uma Instituição Coordenadora.
Acima colocamos o que nos chamou a atenção sobre as ideias sobre educação que as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia- Exército do Povo defenderam na publicação Nueva Colombia, nª 3, em dois textos, denominados “Concepção bolivariana de educação, POPULAR!!” e “Apontamentos sobre o sistema educativo para o Novo Governo”. Vimos que as FARC-EP enfatizam a educação em suas lutas políticas. Outro exemplo de educação fariana foram as experiências dos cabildos populares nos municípios de Magdalena Medio, aonde a população construiu um segundo poder através de assembleias e fiscalização populares, e os projetos políticos ali criados eram difundidos de casa em casa. Em poucos meses, as atividades para-militares nesta região assassinaram os ativistas políticos, voltando estes municípios ao poder monopolizado por políticos liberais e conservadores.
As FARC-EP mostram, através de suas ideias sobre a educação, que integram a teoria com suas práticas, pois “las directrices y formas concretas de trabajo entre las masas no pueden ser las mismas em todos los periodos, circunstancias y lugares”!
Rafael Freitas. Graduado em História na FAPA, Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Tem interesse de pesquisa em História Social da América e Tendências Pedagógicas Contra-hegemônicas. Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na web rádio La Integracion. Colunista no jornal "A Folha" de Alvorada, RS.
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