POSITIVISMO : História e influência

*Daiane A. Steakel

Fábio P. Melo

Guilherme A. Roque

Mateus Rosa

Definição geral

O positivismo é um sistema filosófico e político criado no século XIX por Auguste Comte. O pensamento positivista comteano é baseado na ascensão da sociedade industrial na Europa, notadamente na França após a Revolução Francesa e o período napoleônico. O cientificismo da época trouxe a pretensão de que todos os males da sociedade seriam resolvidos através da ciência e do progresso da sociedade industrial. Para Comte, somente quando todas as ciências atingirem o “método científico” – objetivista e semelhante a matemática – poderão resolver os problemas da sociedade moderna. Neste sentido, Comte propõe uma nova ciência, a sociologia, que teria por objetivo analisar a sociedade e resolver os problemas, tensões e revoluções, que, de acordo com a analise de Comte, são prejudiciais para o desenvolvimento da indústria e das ciências – só a ordem traz o progresso. Comte, propôs, então, uma teoria em que o espirito humano passaria por três estágios – teológico, metafísico e positivo. No estágio teológico a sociedade seria dominada por uma mentalidade religiosa e militarista; tal como no feudalismo europeu. O estágio metafísico, representa as incertezas de uma sociedade que está se modificando, deixando de ser regrada pelo militarismo e pela teologia e ingressando num patamar científico e industrial – como na própria França no período em que Comte esboça seu pensamento. Neste estágio, as ideias estariam se transformando e a sociedade é suscetível a revoluções, pois seria um período de transição: do estágio teológico para o positivo. No estágio positivo todos os fenômenos e relações sociais seriam explicados através de leis gerais, que solucionariam os problemas e as contradições; essas leis seriam elaboradas pela sociologia, a ciência positiva por excelência.

Auguste Comte (1791-1857)

Auguste Comte

Fundador e principal teórico do positivismo. Auguste Comte nasceu em Montpellier e ainda jovem estudou na Escola Politécnica (École Polytechnique), daí a origem da crença inabalável de Comte na ciência e na indústria. Em 1816 a Escola foi fechada, por suspeita de jacobinismo, em meio a restauração pós-napoleônica. Auguste Comte, para se sustentar, passou a dar aulas particulares de matemática. Nesta época entrou em contato com Claude Henry de Rouvroy, o conde de Saint-Simon, que influenciou profundamente o pensamento de Comte no sentido da transformação da sociedade.

Costuma-se dividir o pensamento de Auguste Comte em duas fases: a primeira que vai de 1825 até 1845 temos a elaboração do pensamento positivista como uma filosofia. Os escritos mais importantes de Comte nesta fase são: Curso de Filosofia Positiva e Discurso sobre o espírito positivo. A segunda fase do pensamento comteano vai de 1845 até sua morte em 1857 e é marcado por dois momentos: primeiramente, o pensamento positivista de Comte deixa a teoria e a filosofia e passa para uma aplicação política. As obras Sistema de política positivista e O conjunto do positivismo, representam a tentativa de reorganizar a sociedade política e moralmente através dos ensinamentos do positivismo. O outro momento que marca esta fase é a paixão de Comte por Clotilde de Vaux. Comte sente profundamente a morte desta em 1846 e seu sentimento se transforma num verdadeiro culto, que acabaria por ser a “religião da humanidade”, uma nova religião para os novos tempos.

Clotilde de Vaux.

O pensamento de Comte não é revolucionário, é, sim, reformador. “Comte, reformador, não é um doutrinário da revolução ao modo de Marx [...] é um doutrinário da ciência positiva e da ciência social” (ARON, 2008, p. 86). A ciência seria a grande salvação, que acabaria com os males e implantaria a justiça social. Para Comte, as revoluções só serviriam para atrapalhar na reforma social que chegaria, cedo ou tarde, através da ciência e do estado positivo.

A influência do Positivismo

O positivismo de Auguste Comte, teve uma grande influencia em parte da intelectualidade do século XIX, alcançando até mesmo países cuja história e a realidade social eram muito diferente da França – como o Brasil republicano e o México porfirista.

Entre os intelectuais franceses que se destacam por terem influência do positivismo estão o sociólogo Émile Durkheim e o filósofo e lexicografo Émile Littré.

Émile Littré

Émile Durkheim

No Brasil, a influência do positivismo se nota em setores militares, representados por Benjamim Constant, e civis, principalmente políticos gaúchos como Júlio de Castilhos e Pinheiro Machado.

 José Pinheiro Machado

José Pinheiro Machado

No México, o longo governo do caudilho Porfírio Díaz (1876-1910) foi, igualmente, influenciado por intelectuais e políticos positivistas – os chamados científicos.

Émile Durkheim: sociologia e positivismo

Durkeim nasceu em Épinal, região da Lorena na França em 15 de Abril de 1858. Faleceu em 1917, com 59 anos, em fins da Primeira Guerra mundial. Sua família era judaica e seu pai rabino, por isso, em sua infância, obteve conhecimentos místicos, porém tornou-se agnóstico após ter ido estudar em Paris. Formou-se em filosofia e ministrou aulas de filosofia em liceus, também pedagogia e ciências sociais na Faculdade de Lettres de Bordeaux. É interessante ressaltar que Durkheim não teve conhecimento das obras de Weber, pois ambos os filósofos foram responsáveis por reorganizar a sociologia moderna.

Muitos autores consideram Comte como o criador da sociologia e Durkheim como o criador do positivismo. Suas teorias baseiam-se em fenômenos morais criados pelo convívio social, na qual, são explicadas através do método cientifico. Por ser uma ciência metódica, onde seus experimentos estão nas leis sociais, na moral e no convívio do homem com o homem, Durkheim chama de ciência positiva, pois acreditava que a sociologia aproximava-se das ciências exatas.

Durkheim se preocupava com o saber cientifico. Queria criar padrões para a construção de uma ciência sociologia, transformando a sociologia em um saber científico, assim como outras áreas da ciência: biologia, química, física etc. Para isso, estudou os “fatos sociais” que seriam as atitudes humanas, na qual, a interação entre o homem com o homem criam falsas expectativas para explicar tudo que os rodeia, como a religião.

As principais obras de Durkheim são: A divisão do trabalho social (1893) – As regras do método sociológico (1895) – O Suicídio (1897) – As formas elementares da vida religiosa (1912).

O Positivismo X Igreja Católica

O Positivismo era um adversário direto da Igreja Católica. Segundo Comte, os fiéis de Deus não estavam preparados para governar o mundo bem como, a adoração ao divino era fruto do desconhecimento científico sendo então, quando a ausência do conhecimento levaria os indivíduos a crerem em fantasiosas explicações fornecidas pelas religiões. Ainda segundo Comte, o Estado, voltado a cientificidade deveria por sua vez, buscar ser laico ou seja, em separação com a religião. Assim, Augusto Comte teve seus livros listados no INDEX, a lista de leituras proibidas pela Igreja bem como tornou-se persona non grata ao Vaticano. No Brasil, a constituição de nossa primeira República, fortemente influenciada por maçons positivistas acabou por proclamar o Brasil laico e afastado da Igreja o que na verdade, não ocorre de maneira prática pois, em muitos de nossos currículos escolares, ainda contamos com ensino religioso e assuntos afins. Segundo algumas correntes, essa renovação católica e da Igreja em nossa educação teria se reiniciado com Getúlio Vargas que teria sido pressionado pela CNBB para realinhar o Estado com a mesma.

O Positivismo como resquício ideológico nos Séculos XX e XXI

A presença do positivismo nos dias atuais além do clássico “Ordem e Progresso”, impresso no centro de nossa bandeira ainda, temos a presença muito forte do mesmo em nossa educação. Hoje voltada à um viés construtivista freiriano, ainda apresenta a organização em disciplinas, claramente positivista. Na década de 1970/80, tivemos uma forte influência através das escolas tecnicistas que se propagaram com intensidade em nosso país e que, ainda hoje, recebem forte incentivo na formação tecnicista de jovens.

Observando por outros pontos de abordagem, podemos perceber diretamente também a influência do positivismo nas disciplinas de Sociologia e Filosofia porém, no Direito sua força é bem considerável. Diante de sua ordenação científica para o meio social, têm-se a observância da influência do meio sobre o individuo. Seguindo uma correte interna no campo do Direito, a lei passa a observar algumas alterações sociais para enfim, adaptar-se às mesmas. Como teóricos jurídicos que acompanham o positivismo podemos citar o congresso de Viena que desde então, nos herdou sua concepção de provar para julgar. Ver para crer.

Também como grande influência positiva no Brasil, podemos analisar a literatura de Aloísio de Azevedo, por exemplo, na qual o determinismo social e “racial” é evidente em contos como “O Mulato” e “O Cortiço”.

É interessante notar que após a chamada República Velha (1889-1930) e mesmo após os anos que se seguiram à Revolução de 1930 e o período varguista, o positivismo se manteve relativamente influente no Brasil. Um selo de 1957 dos correios, faz uma singela homenagem ao centenário de morte do fundador do positivismo.

Selo A. Comte

Eis o selo “comemorativo”. Será que ele diz algo sobre a época que foi emitido? Seria apenas uma homenagem a um pensador que influenciou profundamente muitos políticos ou um resquício de que o positivismo ainda é (ou era) influente no Brasil?

Referências

ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

RODRIGUES, José Alberto. Émile Durkheim: Sociologia. São Paulo: Ática, 1988.

SELL, Carlos Eduardo. Sociologia Clássica: Marx, Durkhein e Weber. Vozes: Itajaí, 2001.

http://www.igrejapositivistabrasil.org.br. Acesso em 03/3/2013.

http://www.uel.br/pos/mestredu/images/stories/downloads/docentes/conheca_leoni_arq9.pdf.

Acesso em 30/3/2013.

http://membres.multimania.fr/clotilde/contacts/arthur/ateismo.xml. Acesso em 30/3/ 2013.

http://sociologiadodireitounesp.blogspot.com.br/2012/04/o-positivismo-na-atualidade.html.

Acesso em 30/3/2013. 

http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAr6cAE/positivismo-educacao. Acesso em 30/3/2013.

http://filosofiasocialepositivismo.blogspot.com.br/2012/04/mitos-difundidos-pela-igreja-

catolica.html. Acesso em 30/3/2013.