GUERRAS CIVIS NO MÉXICO

Assim como em outros países da América Latina no século XIX, no México também havia a disputa entre duas facções políticas: liberais e conservadores. A princípio, pode parecer que não há muita diferença entre estes dois grupos, ambos eram, em sua maioria, fazendeiros e grandes comerciantes. O que de fato diferenciava os liberais dos conservadores é que os primeiros lutavam por uma política laica e por algumas reformas sociais, enquanto os segundos lutavam pela manutenção dos seus privilégios, e os da Igreja.

Após a sua independência, o México foi governado por uma facção conservadora. Esta facção, sempre que tinha sua hegemonia política abalada, recorria ao famoso caudilho Antônio Lopez de Santa Anna (1795-1877)[1] para assegurar seu poder. Mas as coisas mudaram após o México entrar em guerra com os Estados Unidos. A questão do Texas foi o estopim para o início das hostilidades entre os dois países da América do Norte. A derrota do México nesta guerra foi, também, a derrota dos conservadores na política. Enquanto isso os liberais arregimentavam para sua causa cada vez mais os setores populares da sociedade mexicana excluídos da política: como os trabalhadores das grandes cidades.

A guerra das reformas

Outra consequência da guerra com os Estados Unidos (nas décadas de 1830 e 1840) foi a perda de mais da metade dos territórios do país. As perdas territoriais refletiram imediatamente no governo do conservador general Santa Anna, que perdeu apoio político e saiu do poder em 1855.

Com tantos camponeses sem terra e com tantas terras perdidas para os Estados Unidos era necessário alguma reforma para garantir a estabilidade social. Por outro lado, os grandes proprietários também tinham seus interesses em estender o latifúndio sobre as comunidades e pressionavam o governo. A alternativa possível para essa tensão era confiscar terras da Igreja, que naquela época era unida ao Estado. Acontece que a Igreja teve um papel bem influente e participativo durante a independência mexicana, portanto, sempre foi uma grande aliada do governo. Com isto, a Igreja do México cresceu muito, obteve ou conseguiu, através do governo, terras e acumulou bens. Relatos da época dizem que no México existiam mais sacerdotes do que professores (inclusive a educação era monopólio da Igreja na época). Os liberais, que queriam o desenvolvimento do Estado num sentido de promover industrialização, viam na Igreja uma verdadeira barreira aos seus projetos.

Após a queda de Santa Anna, os liberais se reuniram em torno de Juan Alvaréz e elaboraram um plano, chamado Plano de Ayutla, que previa a elaboração de uma constituição para o país (de caráter federalista e liberal) e tomaram o poder após uma revolta contra os conservadores. Uma vez no governo, os liberais colocaram em prática uma série de leis (como a Lei do Matrimonio Civil, Lei Orgânica do Registo Civil, Lei da Liberdade de Culto e até mesmo as escolas saíram das mãos da Igreja), que tinham um caráter explicitamente laico.

A guerra da reforma aconteceu em três anos

Mas, uma questão aparentemente contraditória se colocou: o governo liberal iniciou o processo de extinção dos ejidos – comunidades indígenas que sobreviviam em regime comunal desde a época da colonização. Na lógica liberal a terra deveria ser “modernizada”. Quando a constituição mexicana ficou pronta em 1857, os conservadores não aceitavam as leis de “reforma” dos liberais, e arregimentaram os indígenas iniciando uma guerra civil conhecida como “Guerra da Reforma”. Durante essa guerra, os conservadores tomaram a capital (Cidade do México) e o governo liberal teve que se refugiar em Vera Cruz.

Em 1860, os liberais vencem a guerra e Benito Juarez (1806-1872) é eleito presidente do México. Juarez foi um advogado de origem humilde e de ideias liberais que se tornou um político muito popular anos anos de 1850 e 1860 devido a suas atitudes enérgicas, misturando nacionalismo e reformas sociais. Foi ministro da justiça em 1855 e eleito vice-presidente em 1857.

A intervenção francesa

A dívida externa do México havia crescido durante a “Guerra da Reforma”, mas o governo Juarez não queria pagar a dívida que os conservadores deixaram (e aumentaram). Para Juarez era um absurdo manter o México submisso aos interesses da Europa; isso seria manter o estado colonial. Os credores (França, Espanha e Inglaterra), por sua vez, não queriam saber quem tinha feito a dívida, queriam que o governo mexicano a pagasse. Os conservadores, aproveitavam a situação para atiçar uma invasão européia no México, que lhes ajudasse a restaurar o seu poder. Mas somente a França, sob o governo de Napoleão III, aceitou o desafio de invadir o país. Com o apoio da Igreja e dos conservadores, os franceses invadiram o México, tomaram a capital e instalaram um nobre austríaco, Maximiliano, como “Imperador do México”.

Ocorre que, para o desespero dos conservadores, Maximiliano passou a simpatizar com os liberais – inclusive negando a restituição de terras à Igreja. No interior do país, os juaristas iniciaram uma intensa guerrilha contra o invasor e contra os conservadores. Foi somente em 1867 que mais esta guerra terminou. Maximiliano I foi capturado e fuzilado. Benito Juarez foi reconduzido à presidência e governou até sua morte, em 1872.

Após tantos anos de guerra civil entre conservadores e liberais, o regime republicano liberal e federalista parecia ter se consolidado. Mas um grupo de militares junto com alguns liberais dissidentes e conservadores, acusou o governo de não conseguir estabilizar o país. Em 1876, esse grupo tomou o poder. Seu líder também era um mestiço, tal como Juarez; seu nome: Porfírio Diaz.

Notas:

[1]Para saber mais sobre Santa Anna ver o artigo Caudilhos e caudilhismo na América Latina. Disponível em: http://geaciprianobarata.blogspot.com.br/2014/08/caudilhos-e-caudilhismo-na-america.html


REFERENCIAS:

BETHELL, Leslie (Org.). História da América Latina: da independência a 1870. São Paulo: EDUSP, 2001.

CHAUNU, Pierre. História da América Latina. São Paulo: DIFEL, 1983.

DOZER, Donald M. América Latina: uma perspectiva histórica. Porto Alegre: Globo, 1974.

GALEANO, Eduardo. As caras e as máscaras. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

HALPERIN DONGHI, Tulio. História da América Latina. São Paulo: Circulo do Livro, sem data.

Sobre o Autor:
Fábio Melo
Fábio Melo. Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Pesquisa sobre História Social da América e Educação na América (América Latina e Estados Unidos). Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na rádio La Integracion. Tem diversos textos escritos sobre educação, cultura e política. 

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