Talvez filho de uma comunidade massacrada por bandeirantes paulistas. Talvez um dos únicos sobreviventes da família de um cacique local, toda exterminada. Ou até mesmo nada disso, apenas um homem simples. Porém, sendo justamente isso que importe: um homem. Um homem no qual podemos nos inspirar com a sua coragem. Quem pode ter certeza?
Talvez, apenas talvez. Pois não há certeza nenhuma, exceto de que este Mandu Ladino foi criado numa pequena comunidade por padres jesuítas. Como acontece a muitos personagens históricos que em seu inicio eram totalmente ignorados por serem pessoas que ninguém acreditava que teriam qualquer importância atual ou futura. Mas que contrariando a este julgamento pré-determinado ele marcou um grande impacto na história do Piauí colonial e até mesmo do Nordeste brasileiro. E como era mesmo o seu nome? Mandu Ladino. Como? Mandu Ladino? Que grande vulto é esse que nunca antes ouvi falar?
Pois é, alguns grandes personagens ainda continuam injustiçados ao não terem um pouco mais de visibilidade, enquanto outros têm a sua menção repetida até a exaustão, como é o caso de Tiradentes ou de Zumbi dos Palmares. Não que as ações destes homens não mereçam reconhecimento. De modo algum imaginar esta incoerência. Contudo, há muito mais pessoas que lutaram por um mundo melhor, de um jeito ou de outro e que por esta razão também poderiam figurar em homenagens, estudos históricos, livros escolares, etc.
Figuras históricas que não defendo que ofusquem a outras, quando sim que exaltemos menos a alguns poucos escolhidos e vejamos mais amplamente a todo o mosaico de grandes lutadores que podem fazer com que muito mais pessoas se identifiquem com os seus exemplos e nada mais. Não para os idolatramos, mas para neles nos inspirarmos.
Claro que no pátio do Jardim da História, que fica dentro da Central de Artesanato da capital piuaense, Teresina, há uma estátua (retratada logo abaixo) em cerâmica que mostra aos que visitam o local que este interessante protagonista existiu.
Mandu Ladino feito de barro |
Tanto como intelectuais, entre eles, Anfrísio Neto Lobão Castelo Branco, já conseguiram resgatar muito da sua visibilidade, ao menos entre a população do Piauí. Mas e fora do Piauí? Se vermos mais atentamente, perceberemos no Maranhão e no Ceará o seu nome também possui algum prestigio. Certo, mas e fora da região Nordeste? Nisso, talvez já seja o momento de contar um pouco do que foi a vida e a obra deste Mandu Ladino que tanto digo que merece ser conhecida.
Um homem desprovido de tudo, até da própria liberdade, uma vez que por anos fora escravo de um criador de gado. Trabalhador dedicado a tal ponto que como condutor de animais ganhou a confiança de seu patrão, viajando por diversas regiões com os seus rebanhos. Até que chega o determinante ano de 1712. E por que? De um incidente banal. Bárbaro, brutal, covarde, mas ainda assim banal. Pelo menos numa sociedade em que a lei do mais forte é a única realmente obedecida à risca. No caso em questão, soldados portugueses violentando e depois matando a uma mulher índia.
A gota d'água para um homem que perdeu sua liberdade, perdeu sua família e até o direito à sua cultura, pois ele fora escravizado após fugir da sua comunidade por não suportar mais a implicância dos padres com as crenças da sua gente. História semelhante a de outras pessoas que também se viram acossadas pelo avanço da marcha dos grandes criadouros de gado. O que explica por que ele conseguiu em pouco tempo reunir a vários indígenas e massacrar a tão prevalecida guarnição militar.
O próximo a pagar pelos seus abusos seria o fazendeiro Antônio da Cunha Souto, linchado por causa de todo o ódio que semeou com a sua crueldade. Ação esta que as autoridades não poderiam deixar passar impune. Que por sua vez, permitiu que a rebelião crescesse e afetasse também ao Maranhão e ao Ceará, reunindo tupis e cariris. Onde, apesar da sua precariedade bélica, as forças coloniais não conseguiram lhes submeter de pronto.
Nem mesmo quando uma força conjunta do Maranhão e da capitania do Piauí partiram para debelar o conflito em 1716, Mandu se abateu. Conseguindo lhes despistar e mantendo a luta por ainda mais três anos, quando ele encontra a morte, ironicamente, não necessariamente pelas armas inimigas, ao se afogar nas águas do rio Parnaíba. Ainda que fora um tiro de bacamarte a causa de seu afogamento. Morrendo ali, neste mesmo instante a sua rebelião que quase tornou toda a região um enclave completamente livre da presença portuguesa.
Contudo, morre o homem, não o seu legado. Que não se perpetuou apenas em parcos documentos sobre a sua ousadia invadindo fazendas e engenhos e a dificuldade de lhe conter. Pois as historias repassadas pelo “boca a boca” também têm seu peso. Independente do fato que nada se sabe até que ponto há a realidade ou a fantasia nestes relatos que são como o vento: não se sabe de onde vieram. Pois o que importa é a sua marca na história, de todo incontestável de um homem que lutou contra o seu destino e, de certa forma, o venceu.
Quem nasce no Piauí, é denominado Piauiense e não Piauense como consta no texto.
ResponderExcluirQuem nasce no Piauí, é denominado Piauiense e não Piauense como consta no texto.
ResponderExcluirPeço desculpas pelo erro na digitação que cometi e não percebi em tempo hábil a omissão da letra i na palavra, ficando por isso escrito "piauense" por causa deste descuido. Novamente reiterando minhas mais sinceras desculpas.
ExcluirPeço desculpas pelo erro na digitação que cometi e não percebi em tempo hábil a omissão da letra i na palavra, ficando por isso escrito "piauense" por causa deste descuido. Novamente reiterando minhas mais sinceras desculpas.
ExcluirPArabéns por lembrarem de nossos ancestrais
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