Nome: O marxismo na batalha das ideias
Autor: Leandro Konder
Editora: Expressão Popular
Ano: 2009
Resenha
Certamente o caro ou cara leitora tenha ao menos ouvido falar que o marxismo é um determinismo econômico, e por esta razão concorde com Paul Lafargue, mesmo sem ter lido o que ele escreveu sobre seu sogro. E, em uma visão marxista, pense que é impossível abordar temas sobre antropologia, prazer, amor, homossexualidade, arquitetura, ecologia, feminismo, epistemologia, pois o marxismo é limitado ao estudo sobre o capitalismo. Ou restrito a Europa, e portanto um ponto de vista marxista sobre, por exemplo, as cidades na América Latina, seja algo impensável, no mínimo incoerente. Como o comunismo não foi explicado por Marx, como defender a implantação de algo não descrito anteriormente? Talvez alguns pensem que dizer-se comunista a partir de Marx e Engels, equivalha a assinar documentos escritos em mandarim, quando se reside na Nicarágua e se fale no idioma pátrio!
Trata-se, sim, de um livro polemista de Leandro Konder. A obra demonstra que ele não temia o debate (ou batalha) de ideias, e, em artigos jornalísticos, palestras, ensaios, introduções a livros, abordou criativamente os assuntos acima citados, além de muitos outros. Em sua bibliografia há publicações sobre alienação, Kafka, fascismo, Barão de Itararé, o indivíduo, educação!
O marxismo na batalha das ideias foi lançado em sua primeira edição em 1984, e em 2009 a editora Expressão Popular o relançou. Konder não era afeito a revisar seus livros, provavelmente por saber que toda escrita é datada e expressão de um contexto único. Dados biográficos deste intelectual militante foram mencionados na Apresentação de João Pedro Stedile, que, entretanto, não demonstrou ter lido a obra de Konder, devido às tão breves considerações elaboradas acerca do conteúdo do livro. Quando citou o texto denominado “A concepção de história em Marx”, limitou-se a dizer que ali, Konder “discorre sobre como o filósofo alemão abordou esse tema em sua obra”.
O mérito de Konder é provocar uma auto crítica dentro do marxismo, em que ele também compõe, coerente com sua ideia de “curriculum mortis”, apontando o que ele considerou de positivo e de negativo nas ideias de outros intelectuais, à esquerda e à direita. Elogiou a coerência e rebeldia de Nietzsche, para após confrontá-lo, enquanto uma antí-tese de Marx, quanto a concepção de história.
Enquanto para o autor de Aurora todos os acontecimentos na história provocam o retorno de todas as coisas, para um dos criadores do marxismo originário, o núcleo de sua concepção de história era a “criatividade concreta do ser humano”. Sempre algo novo foi e será criado pela humanidade! Sendo este processo no qual ainda vivemos, por ele chamado de “comunismo”. Para seguir este pensamento marxiano, a luta comunista em nosso tempo e em nosso lugar (na América Latina), deverá diferenciar-se em diversos elementos da luta praticada por Marx. Konder cita as novidades hodiernas, desconhecidas por Marx em seu contexto, em “Ainda tem sentido, atualmente, defender a concepção de comunismo em Marx?”.
Os limites de Leandro Konder, em sua visão de Marx, estão presentes neste livro. Um deles é a sua religiosidade, que provocou um esforço de aproximação entre cristianismo e marxismo. Para Konder o marxista deve aprender a arrepender-se para amadurecer, e o materialismo não é um elemento essencial da filosofia da práxis. Isso é um sintoma da heterodoxia, que é nuclear em Leandro Konder.
Apenas lendo Konder “em primeira mão”, para definir se ele é um marxista antidogmático ou um filósofo eclético e bastante politizado em sua erudição. Enquanto um militante marxista, discutiu muito pouco assuntos concernentes a realidade concreta, fixando-se em demasia na luta de ideias. As informações contidas são, em sua maior parte, referentes a detalhes biográficos curiosos, como os sobre Marx e sobre Rosa Luxemburg.
Pode-se discutir também se o presente, em si, existe, se o tempo não pára? O presente, instável, sempre nos escapando, ou nunca existindo? Está, como sugeriu Konder, o presente na realidade humana ou em abstração? Entremeado a elogios ao ponto de vista conservador, Konder analisou em “A importância do passado”, a importância de pensar o futuro, a partir da empiria, das experiências do passado. Sendo assim, ao seu modo, Leandro Konder matou a charada, pois não há marxismo sem empirismo!
Rafael Freitas. Graduado em História na FAPA, Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Tem interesse de pesquisa em História Social da América e Tendências Pedagógicas Contra-hegemônicas. Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na web rádio La Integracion. Colunista no jornal "A Folha" de Alvorada, RS.
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