A Coluna Prestes. Análise e depoimentos. (resenha)


Nome: A Coluna Prestes. Análise e depoimentos.
Autor:Nelson Werneck Sodré
Editora: Círculo do Livro
Ano: sem informação na obra



Resenha

O ilustre militar, professor, crítico literário e um esforçado e persistente pesquisador da História brasileira lançou esta obra poucos anos após ser cassado pelo regime iniciado no Brasil em primeiro de abril de 1964. Nascido no Rio de Janeiro, em 1911, foi um historiador sem formação acadêmica e, além disso, um ativista político. Asseverou em carta a Acir da Cruz Camargo em 01/08/1992: “Posso lhe assegurar, de mim, que estou, mais do que nunca, aferrado ao socialismo e ao marxismo, fora dos quais não vejo saída para a sociedade humana e para a brasileira em particular”. Poucos anos depois, faleceu em Itu/SP, deixando uma vasta bibliografia, infelizmente deixada de lado, ou “exterminada” pela academia, usando termos de sua filha Olga Sodré. 

O livro A Coluna Prestes divide-se em duas partes: “Análise” e “Depoimentos”. Apesar de demonstrar alguns dos limites do movimento ao qual a Coluna fez parte, o autor teve como objetivo geral provar que a Coluna Prestes foi um agrupamento anti-imperialista, que realizou diversos feitos que constituíram-se em episódios políticos e militares heroicos. Basicamente, aqui Sodré expôs o seu orgulho de ser um militar de carreira, evidenciando as suas influências do positivismo. Embora NWS tenha sido um difusor no Brasil de José Carlos Mariátegui La Chira- um escritor, jornalista, sociólogo e militante comunista peruano - para o autor de A Coluna Prestes, era impensável criar novas categorias para interpretar nossa realidade, conforme reiterou em sua crítica ácida a Jacob Gorender em “Desventuras da marxologia”. 

A situação internacional, na época do Tenentismo, era de divisão do mundo em três grupos: o grupo dos países capitalistas, dos países dependentes e dos países coloniais. O Brasil localizava-se no segundo grupo, e tinha regiões aonde “predominavam absolutas as relações feudais”. A Coluna Prestes foi expressão maior da vanguarda pequeno-burguesa armada que ficou conhecida na História como Tenentismo. 

Com a força militar do latifúndio em oposição aos revolucionários tenentistas, configurou-se uma luta entre a força do atraso, do conformismo, ou do feudalismo, contra a força do avanço, do inconformismo, ou do capitalismo. NWS situou a Coluna Prestes na Revolução Brasileira, burguesa, embora ressaltando: “já em condições e características muito diferentes da revolução burguesa clássica”. Afirmou, de fato, a especificidade brasileira, mas a criação de categorias novas, como fizeram Jacob Gorender e Mariátegui, NWS não se permitiu. 

Não há, portanto, muita originalidade em A Coluna Prestes, sim diversas descrições e informações, e faltou um aprofundamento analítico. São abundantes as citações sem qualquer análise, as páginas que mais podem ser consideradas resumos de uma única obra do que uma escrita autoral, e as reafirmações de ideias presentes em livros seus anteriores. 

Nelson Werneck Sodré foi um cientista social e militante político como poucos foram em nosso país e com sua peculiar humildade, em vida assumia as suas limitações. Apenas repetia o que foi escrito até o seu tempo, conforme suas palavras. Não há como discordar do general da História e da cultura, ao ler criticamente A Coluna Prestes. 


Sobre o Autor:
Rafael Freitas
Rafael da Silva Freitas: Nasceu no dia 29 de dezembro de 1982 em Santa Maria, RS. Historiador. Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na web rádio La Integracion. Colunista no Jornal de Viamão.

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