Modo de produção plantacionista latifundiário (verbete)

Jacob Gorender foi um baiano que participou da Força Expedicionária Brasileira na segunda etapa da Grande Guerra. Em 1942, através de recrutamento de Mauro Alves (que foi assassinado pela ditadura civil-militar de 1° de abril de 1964, conforme Gorender no Roda Viva em 16/01/2006) passa a militar no Partido Comunista Brasileiro, optando por sair do curso superior em Direito, para insatisfação dos seus pais. Após quase trinta anos participa ativamente do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário; antes de militar no Partido dos Trabalhadores a partir do início dos anos 1990, aonde permaneceu por um brevíssimo período.

Em 1971 é preso, permanecendo no cárcere por cerca de dois anos. Passa a pesquisar e escrever a sua obra considerada a mais importante para a historiografia brasileira: “O escravismo colonial”, lançada em 1978. A sua cela tornou-se um centro de difusão do conhecimento, um lugar aonde um grupo reunia-se para estudar os problemas brasileiros. Gorender então passa a ministrar um curso de História Econômica do Brasil toda segunda feira a noite, ganhando grande importância como um professor, mesmo encarcerado.

Enquanto Nelson Werneck Sodré em seu livro monumental “Formação histórica do Brasil”, lançado em 1962, afirmava que o Brasil passou pelos mesmos modos de produção e na mesma ordem, que marcou a História Econômica europeia, a saber: comunidade primitiva, escravismo, feudalismo, até chegar ao capitalismo; Jacob Gorender foi, ao contrário, no mesmo caminho de historiadores como o argentino e chileno Luis Vitale. O Brasil, parte integrante da América Latina, não passou pelos mesmos modos de produção, e nem pelas mesmas etapas de transição entre um modo e outro. Por isso, Mário Maestri, considerou Gorender um revolucionário na nossa historiografia. Mas, por outro lado, após a experiência no cárcere, Gorender nunca mais se envolveu na militância política, somente em estudos e teorizações sobre a realidade histórica brasileira.

Jacob Gorender, em 1988. Foto: Alfredo Izzutti/Estadão
Para Gorender, na América colonizada pela coroa espanhola havia apenas bolsões escravistas. Ao contrário do Brasil, aonde a escravidão negra existia em todos os cantos. A escravidão foi a principal força a manter a unidade territorial brasileira. Enfatizando a importância da escravidão para a História do Brasil, Gorender através do livro “O escravismo colonial” participa do debate sobre a formação do nosso capitalismo. Confrontando quatro teses anteriores e criando duas categorias de modo de produção absolutamente novas.

As quatro teses, variavam em torno das seguintes origens para o capitalismo nacional:existência do feudalismo que deveria ser liquidado para avançarem as forças produtivas no sentido de hegemonia das relações burguesas, capitalistas; início do capitalismo com a colonização portuguesa; a teoria da dependência; e, começando após a superação do escravismo, que seria semelhante ao sistema escravista europeu, greco-romano, considerado como clássico. Gorender afirma o modo de produção escravista colonial, negando todas as quatro teses anteriores. 

Mas Gorender chama também a atenção para o uso do método marxista para compreender o advento de nosso capitalismo. Aqui existiu capital, assalariamento, e a cumulação primitiva ou originária de capital no Brasil antes do capitalismo. Entre o escravismo colonial e o capitalismo existiu outro modo produtivo predominante, que Gorender deu o nome de plantacionista latifundiário.

O modo de produção plantacionista latifundiário existiu durante a República Velha ou Primeira República, tornando o capitalismo incipiente ainda subordinado ao domínio da terra, durante a República Oligárquica recém criada. Este modo de produção existiu entre os anos 1894 e 1930, pois com a Lei Áurea continuou predominando a plantagem exportadora, que era um estabelecimento mercantil (portanto, não capitalista), coexistindo com o latifúndio pecuário, aonde a remuneração ainda era apenas parcialmente monetarizada.

O modo de produção dos pequenos cultivadores não escravistas ou modo de produção plantacionista latifundiário, apoiado em formas camponesas dependentes, foi a forma através da qual Jacob Gorender buscou explicitar as peculiaridades históricas brasileiras, enfrentando principalmente a tese de feudalismo brasileiro. Se Nelson Werneck Sodré de modo severo criticou a tese de escravismo colonial, o próprio Jacob Gorender acabou abandonando corajosamente a teoria de modo de produção da plantagem e do latifúndio.



Sobre o Autor:
Rafael Freitas
Rafael da Silva Freitas: Nasceu no dia 29 de dezembro de 1982 em Santa Maria, RS. Historiador. Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na web rádio La Integracion. Colunista no Jornal de Viamão.

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