Em resposta a publicação:
Reflexões sobre o caráter histórico das esquerdas e das direitas na América Latina.
A PROVA DE QUE A DIREITA TEM CORAÇÃO.
A Social Democracia é reivindicada pela esquerda como prova de que já produziu alguma experiência de governo virtuosa. É reivindicada também pela direita como prova de que tem coração.
Isto indica que se trata de um modelo a ser bem observado, no mínimo. Mas quem tem razão quanto a esta “posse”político-filosófica?
Vamos definir alguns parâmetros.
Existe uma diferença fundamental em incorporar certas reinvindicações da esquerda e SER de esquerda. A Social Democracia tem uma característica que a exclui, por definição, deste posicionamento teórico: todas as experiências que mostraram bons resultados ocorreram e ocorrem dentro de democraciasliberais e conseguiram superar as pressões da esquerda para radicalizar e abandonar este caminho. O caso mais emblemático foi o da Suécia sob o governo de Olof Palme.
Mas por quea preservação da democracia liberal é tão importante nesta discussão?
Simples: ela é o belzebu da esquerda, é o mal encarnado, é o inimigo a ser destruído, é parte da superestrutura que dá suporte à permanente evolução de uma sociedade que reconhece o valor da liberdade individual, matriz do direito à vida, à liberdade, à propriedade (inclusive dos meios de produção) e à igualdade perante a lei.
Quem é realmente de esquerda tem como objetivo a superação da democracia liberal e a expansão do controle estatal na economia até a extinção da propriedade privada dos meios de produção.
Marx, Engels, Lênin e Mao-TséTung são os grandes teóricos das experiências socialistas. Os dois primeiros como idealizadores e os dois últimos como intelectuais que teorizaram à luz de experiência concretas.
Tudo que a esquerda produziu do final do século XIX para cá tem influência de pelo menos dois destes nomes e os quatro estão de acordo quanto à necessidade de destruir a democracia “burguesa” e acabar com a propriedade privada dos meios de produção, o que se dá, exclusivamente, sob totalitarismos.
Há quem diga que não é bem assim, mas não consegue dar substância a seus argumentos.
Um dos casos mais famosos é o de Deleuze que define “ser de esquerda” como ser continuamente minoria e preocupar-se antes com o todo do que com o núcleo centrado no indivíduo ou em si mesmo(tese do código postal: a atenção deve ir do macro para o micro, primeiro o país, depois o estado, depois a cidade, depois o bairro, a rua e finalmente a casa e o indivíduo).É uma ideia até charmosa, mas choca-se com a própria liberdade que Deleuze defende para as pulsões sexuais, homossexuais e demais desejos que exigem liberdade para se realizar, e que se realizam no indivíduo antes que no coletivo.
Outros falam da Escola de Frankfurt que, bem antes de Deleuze, na primeira metade do século XX, teceu sua “Teoria Crítica”, de caráter multidisciplinar, que incluía intelectuais como Theodor Adorno, Max Horkheimer, Herbert Marcuse e Walter Benjamim. A produção destes pensadores é importante de diversas maneiras e faz uma crítica relevante às experiências socialistas reais e, de certa maneira, ao próprio marxismo, mas não conseguiu dar o passo seguinte, que seria reconhecer o fato do marxismo ser um erro persistente. Faltou reconhecer que o grande acerto de Marx foi a formulação do trabalho humano como transformador da natureza e da realidade, mas que a parte famosa de sua obra, a projeção do socialismo como uma evolução racional e científica da sociedade, prova diariamente ser uma fantasia de caráter messiânico.
Como curiosidade, faço um pequeno desvio para chamar a atenção para a complementariedade entre os conceitos de “indústria cultural” da Escola de Frankfurt (que destaca a capacidade do capitalismo para transformar tudo em produto de massas e lucrar com isso) e a chamada “revolução cultural gramsciana” (que através da dominação da produção cultural conquistaria corações e mentes das massas, preparando o terreno para a revolução). Mas voltemos ao nosso tema central.
A Social Democracia nasceu como um movimento de esquerdabaseado na doutrina marxista, para lutar contra a burguesia, por uma democracia social,o que inclusive deuorigem ao seu nome.Quando deixou o viés revolucionário e adotou o reformista, migrou para a direita.
Ou, como disse João Amazonas, importante e ativomarxista brasileiro:
Até hoje não encontrei fundamento teórico que desminta este postulado de João Amazonas.
Assim, é conceitualmente coerente concluir quequerer uma sociedade mais justa e com menos desigualdade, desejar o fim da pobreza, lutar por educação e saúde de qualidade para todos não significa ser de esquerda. Significa ser humanista, o que é uma formulação dos filósofos iluministas, representantes da burguesia.
Ser de esquerda é também desejar igualdade e justiça, mas por outro caminho que não a conquista paulatina de direitos que ocorre nas democracias. É negar a democracia liberal e a propriedade privada dos meios de produção e estar disposto a abrir mão da liberdade individual, a abdicar do direito de escolher livremente o que pensar,o que fazer e para onde ir, em nome de um estado provedor autoritário e condutor de almas.
Marx disse que a História humana é a História da luta de classes e que, quando a ditadura do proletariado eliminasse a burguesia, esta História chegaria ao fim (e teria início outra).
Quando o muro de Berlim caiu em 1989 e o império soviético se esfacelou em 1991, Francis Fukuyama não perdeu a piada e publicou o livro “O Fim da História”. Foi uma gritaria geral, mas ele apenas explorava o final não previsto por Marx.
O capitalismo certamente não é o fim da História. Aliás, acho que está precisando de uma reciclada. Estamos nos aproximando de uma nova "destruição criativa" do capitalismo, em que se buscará um novo padrão de produção e consumo, com redução da geração e lixo, questionamento das embalagens descartáveis, necessidade de maior durabilidade dos produtos e sua adequação à reciclagem etc.
O consumo consciente é o próximo horizonte (não que esteja próximo) e certamente a Social Democracia estará no centro desta discussão, em todos os sentidos.
Paulo Falcão é formado em Comunicação pela FAAP – Fundação Armando Penteado e autodidata em Teoria Política. Atua na área de criação e planejamento publicitário e gestão de empresas. É sócio da FCP Publicidade e participa da diretoria do Beira Rio Supermercado em Gurupi – TO. Mantém o blog www.questoesrelevantes.wordpre
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Buenas. Este texto há algumas incorreções, ou nele há ideias com as quais eu discordo. A democracia liberal nem sempre é contraditória as lutas de esquerda. Temos os exemplos das lutas aonde socialistas apóiam pela igualdade entre homem e mulher, contra a homofobia, pela reforma agrária já que os EUA foram uns dos pioneiros na reforma agrária no nosso continente. Em lugares aonde há atraso produtivo ou político a democracia liberal é um avanço, como no Maranhão, aonde há o mais médicos dos professores. Uma das primeiras medidas burguesas após suas revoluções foi democratizar a educação escolar. Logo discordo desta frase: [a democracia liberal] "é o belzebu da esquerda, é o mal encarnado, é o inimigo a ser destruído". Pois vejo aí inexistir qualquer dialética, será o inimigo dependendo da estratégia e da tática. Aqui considero um erro grave, apesar de comum, e está no preconceito nas esquerdas e direitas contra Marx. E basta ler um livrinho anti Marx chamado Amor e Capital para acabar com tal preconceito:"Marx, Engels, Lênin e Mao-TséTung são os grandes teóricos das experiências socialistas. Os dois primeiros como idealizadores e os dois últimos como intelectuais que teorizaram à luz de experiência concretas." Todos eles teorizaram a luz de suas experiências políticas concretas. Prrincipalmente Engels. Que foi o referencial teórico maior de Marx, alguns dizem ter convertido ele ao comunismo. Ambos se ajudavam financeiramente. Te convido a analisar as nossas produções sobre a Revolução Sandinista para contrariar tua colocação como marxismo sinônimo de totalitarismo. Basta tu leres e depois concluir ideias no lugar de ter ideias prontas e depois ler e considerar verdadeiro apenas o que te convém, o resto sendo argumentos fracos. Algo que noto em teus textos é o uso da expressão "socialismo real", por que somente o socialismo tem sua expressão na realidade diferente da expressão teórica? Tuas análises seriam muito mais ricas e os seus títulos mais hilariantes se levasse em consideração que isso ocorre também com a democracia liberal, ao ponto de o mérito estar apenas nas vontades, jamais nas democracias liberais reais. Repetes que o marxismo originário possui caráter messiânico, mas nunca citastes Marx, Engels, para mostrar aonde isso se encontra, mesmo em não dito de ambos. Isso caracteriza uma argumentação sua não concreta, pouco preenchida, quiçá vazia. Quando citastes João Amazonas faltou dizer sobre qual momento ele se referia, pois toda escrita é datada. Tu generalizastes algo particular. Concluo diferente de ti este parágrafo: "Assim, é conceitualmente coerente concluir quequerer uma sociedade mais justa e com menos desigualdade, desejar o fim da pobreza, lutar por educação e saúde de qualidade para todos não significa ser de esquerda. Significa ser humanista, o que é uma formulação dos filósofos iluministas, representantes da burguesia." A burguesia historicamente esteve na esquerda, e depois migrou para o retrocesso social. Quando afirmas que o capitalismo nao é o fim da História, fechamos todas. E tenho certeza, as ocupações de prédios públicos por pessoas que foram abandonadas pelo Estado, as ocupações de escolas em SP, quiçá as de RJ também o sejam, a empresa operária Flaskô, este nosso debate me colocam a pulga atrás da orelha quanto a esta forma de exploração do homem e de nossos recursos naturais. Adelante!!
ResponderExcluirRafael, em um dos primeiros artigos que escrevi para o blog, "Teoria das Gavetas", inicio esclarecendo que o significado de esquerda e direita já não encontrava mais correlação com sua origem, a revolução francesa: "Se em sua origem, na revolução francesa, fez sentido, certamente tal sentido se perdeu e há necessidade premente de redefini-las à luz dos sóis ideológicos, pondo tudo às claras, dentro dos marcos teóricos que definem cada uma das principais categorias do espectro político." Quer você queira, quer não, no século XX esquerda passou a se definir a partir das influências de pelo menos dois destes nomes: Marx, Engels, Lênin e Mao. Isto se deu porquê o fim da propriedade privada dos meios de produção veio para o centro da questão - e não deixou mais a cena. Defendo em vários artigos, e neste também, que a democracia liberal é inclusiva e incorpora demandas socialistas. Nunca disse o contrário. O que afirmo e reafirmo é que todos que têm como objetivo o fim da propriedade privada dos meios de produção usam a democracia liberal como instrumento político, mas não a consideram fundamental. Mais um ponto: para Marx, o fim da propriedade privada dos meios de produção passa necessariamente pela destruição da democracia liberal e sua substituição pela ditadura do proletariado. O que minhas análises procuram ressaltar é que estes dois principais objetivos da esquerda pós Marx só podem ocorrer sob ditaduras, sob totalitarismos. Esta é uma evidência teórica e empírica. Quanto ao caráter messiânico de Marx, ele salta aos olhos, tanto que Eça de Queiroz o enxergou em 1880. O messianismo de Marx está na previsão do comunismo que viria após a ditadura do proletariado. Este é o truque. Aliás, o Caetano Veloso tem uma música que toca nesta questão, como observei aqui:DO SOCIALISMO AO COMUNISMO: UMA QUESTÃO DE FÉ. http://wp.me/p4alqY-U
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