Breves apontamentos sobre como viviam as mulheres incas


Wira Cocha, deus criador de tudo,
o princípio ordenador , da criação,
conhecimento , ordem , sabedoria.
Divindade incaica hermafrodita,
representada com brincos e saia.
O Estado inca era chamado por sua população pelo nome Tawantinsuyo. Mesmo sem escrita, sem usar moeda, tinha uma economia planificada, ao ponto de pesquisadores ligados ao liberalismo considerarem o governante (conhecido como Inca ou Ynga) um déspota e absolutista.

Tawantinsuyo significa “Os quatro cantos do mundo”, pois o Estado administrativamente estava dividido em quatro partes, e estas eram subdivididas. A economia era planejada por especialistas, aqueles que manuseavam os quipus, objetos de cordas de diversos tamanhos e cores usados para a contabilidade do Estado, que incluía um rigoroso e constante censo populacional. Estes especialistas eram os quipucamayoc, que estavam entre as pessoas mais eruditas do Império Inca, pois dominavam algo estranho até mesmo para os governantes incaicos. Os incas construíram cidades, desenvolveram um exército intervencionista, acreditavam no deus Wira Cocha, e tudo isso aprenderam com povos mais antigos da sua região, a América Andina. A novidade que eles estavam inventando era a propriedade privada, às vésperas da vinda dos imigrantes europeus.Tawantinsuyo existiu por cerca de um século, e em seu auge, atingiu os lugares aonde hoje são os países do Perú, Bolivia, Chile, Colombia, Equador e parte da Argentina. Em um momento de nossas vidas viamonenses em que louvamos uma falsa epopeia contra-revolucionária tida como exemplo para toda a terra, cuja democracia era ainda mais restrita do que a ateniense clássica, chamo a atenção para Tawantinsuyo. 

Nesta terra vivia-se em uma espécie de Estado de bem estar, de bem viver, de altruísmo social, um welfare state incaico. Um autor chamado Artur E. Morgan afirmou que seguramente o livro Utopia de Sir Thomas Morus baseava-se no modelo inca. Foi um viajante quem descreveu a maravilhosa justiça social que imperava nos Andes ao combativo parlamentar da Câmara dos Comuns inglesa, o viandante era português e chegou a Tawantinsuyo antes da chegada de Pizarro. Esse sim deveria ser o modelo para toda a terra, Tawantinsuyo foi uma façanha, aonde as mulheres quem mandavam. Provavelmente seguindo o modelo incaico, Thomas Morus tenha dado igual educação aos seus filhos e suas filhas.Hoje temos, na América Latina e Caribe, 3 dos 18 países do mundo que não restringem através da lei a igualdade econômica entre mulheres e homens. Um desses três é um país aonde surgiram os incas, o Perú. Os outros são os Estados Unidos Mexicanos e República Dominicana. São várias as restrições legais que impedem as mulheres de alcançarem seu potencial econômico. Por exemplo, na Bolívia, a lei determina que as mulheres casadas somente poderão ter emprego formal se o marido autorizar. Em Honduras e Colômbia há profissões proibidas para as mulheres.

Na Jamaica as mulheres não podem exercer seus ofícios à noite. Algumas leis protegem as mulheres, ao mesmo tempo que as inferiorizam economicamente, as submetendo aos homens. Impedem que delas sejam extraídas mais valia. No Perú, outrora o lugar do Estado Inca, leis semelhantes não vigoram. Em Tawantinsuyo, as mulheres, ao lado dos homens, definiam a moralidade e as normas do império.Quando os espanhóis chegaram em Tawantinsuyo, encontraram mulheres sacerdotisas e governadoras. Eram as deusas huaca, sacerdotisas do sol e da lua, mulheres que combatiam em conflitos armados, senhoras cápacs, proprietárias de terras e águas, nomes como Mama Huaco e Mama Ocllo. O poder exercido pelas mulheres incas era sobretudo religioso. Em uma sociedade teocrática, aonde a religião era o Estado as “mulheres escolhidas” ou “sacerdotisas do Sol”, tinham a sua importância. Os primeiros cronistas europeus diziam só em Cuzco existir aproximadamente 4.000 sacerdotisas. Possivelmente elas faziam a diferença. O legado incaico também é o de poder feminino.


Sobre o Autor:
Rafael Freitas
Rafael da Silva Freitas: Nasceu no dia 29 de dezembro de 1982 em Santa Maria, RS. Historiador. Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na web rádio La Integracion. Colunista no Jornal de Viamão.

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