Estátua de Roberto Drummond. |
Escrever esse verbete sobre Roberto Drummond, escritor hoje praticamente esquecido, traz, para mim, um sério problema: não se trata de apenas escrever sobre um tema distante, mas sobre alguém de quem eu me lembro de sempre ver na cantina da faculdade de Letras da UFMG, alguém cuja estátua vive perambulando ali perto do Café com Letras.
Ele contava papo na mídia falando que a filha, fã de Madonna que estudava Letras, estava estudando Shakespeare em inglês, mas todos os alunos estavam estudando. Era corrente no currículo do curso que ela fazia.
Creio que Roberto teve só quatro livros aceitáveis, na realidade: A Morte de D. J. em Paris, Sangue de Coca-Cola e Quando Ernest Hemingway Morreu Crucificado, Quando Fui Morto em Cuba, romances em que ele fazia uma crítica ao domínio das multinacionais no Brasil, cheios de signos liberais de civilizações colonizadoras. Contou também com o talento de um grande ilustrador, Elifas Andreato. O impacto de seus livros perdeu muito sem o visual das belas capas de Andreato, com o fim da parceria dos dois. Seus demais livros descambam para o kitsch e naufragam em clichês. Inês é Morta, texto constituído de reescrita de outros romances do autor, parece ter um título autoexplicativo.
Em sua fase experimental, lançou na mídia o rótulo de literatura pop e com ele foi vendido. No entanto, muito do que ele experimenta ali está presente em Deus da Chuva e da Morte, de Jorge Mautner, assim como em Lugar Público e Panamérica, de José Agrippino de Paula. O que ele fez foi bom, realmente, foi até saudado por Glauber Rocha, que imaginou que Roberto Drummond estivesse fazendo romance anti-imperialista, enquanto Roberto estava apenas registrando, num balanço conivente, a nossa “eskyzofrenya dependente”. Let it be.
Foi um bom autor apenas em sua fase experimental. Depois passou a produzir xaropadas de uma breguice inenarrável sobre o Clube Atlético Mineiro em jornais, produzindo insuportável crônica esportiva. Os romances também passaram a ser apenas a diluição dos anteriores. A morte lhe foi leve, pois, em 2002, era, enquanto escritor, apenas uma sombra de si mesmo. Mas permanecia uma pessoa bondosa, ainda que um tanto quanto tola.
Depois passou a ser apenas uma figura useira e vezeira em colunas sociais, só mais um jornalista tucano que apoiava Fernando Henrique Cardoso. Pode-se dizer que ter sangue de Coca-Cola, para ele, então, passou a ser muito mais do que uma metáfora e sim uma realidade. A partir daí, ele passou a produzir folhetins de gosto duvidoso e, não por acaso, um de seus livros, versando sobre Hilda Furacão, vulgo “Hilda Buracão”, uma puta ilustre, virou uma minissérie da Rede Globo. Obviamente Hilda que inspirou a narrativa nada tinha a ver com a bela e excelente atriz Ana Paula Arósio, que foi quem impulsionou essa série para o sucesso nacional.
Como resultado do seu sucesso, sempre patético, Roberto saiu distribuindo rosas para as prostitutas, suas musas inspiradoras, na região da baixa boemia de Belo Horizonte.
Áudio e Vídeo
Lúcio Junior Espírito Santo. Graduado em Filosofia. Mestre em Estudos Literários/UFMG. Blog: revistacidadesol.blogspot.com). Bom Despacho, Minas Gerais. Nascido em Uberaba, 1974.
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Nossa que texto duro!
ResponderExcluirNão houve nenhuma condescendência para com a memória do Roberto Drumond.
Faz parecer que houve muito mais do simples encontros furtivos na cantina da UFMG entre Drumond e o Lúcio Júnior.
E que a estátua perto do Café das Letras incomoda muito ao autor.