A evolução das ironias no Brasil e o Amor Fati


A bandeira da informação livre passa pela atualização sobre o que os mais hodiernos debatem, mesmo fechados em seus casulos, pois são posteriores aos modernos, e marcados mais por uma fuga da realidade do que por uma interpretação, mesmo que contemplativa, do Brasil. São os pós modernos, que vivem na modernidade, não se sentindo parte dela, negam a realidade do presente e da verdade. Tudo depende do ponto de vista. Se atravessar uma rua, depende do ponto de vista, se pode seguir adiante ou não. Talvez este pós modernismo deve conter acidentes no trânsito. Afinal, o automóvel está lá na frente, dependendo da iluminação, desaparece quando não é visto. Através de palavras a riqueza do real nunca aparece, nem algum dia será revelada.

Na evolução do confessionário no Brasil, as obrigações de envergonhar-se dos pecados cometidos, variou quanto a periodicidade. De uma vez por mês para uma vez por semana. O condutor das confissões fazia a pessoa produzir verdade sobre si mesma. E regularmente, continuadamente, exaustivamente, nas etapas da História do confessionário no Brasil, o lugar mudou de dentro das igrejas, para dentro dos computadores e celulares por meio do facebook. Vivemos em uma sociedade do confessionário. Dependendo do ponto de vista. Sim, antes os pecados eram uma vergonha, para hoje transformarem-se em motivos para orgulho. Nas linhas de tempo, os donos dos perfis agem como se estivessem em sua propriedade privada, dentro de seus pontos de vista, dentro do facebook, que é nada menos que uma empresa. E sobre ela, os mais hodiernos já discutiram em livros e em seus círculos herméticos. Descobriram que mesmo deletando as conversas privadas , envolvendo infidelidade por exemplo, os dados não são excluídos do servidor. Mas a ignorância como ponto de vista, criou sua verdade, historicamente nova e com leis tendenciais nunca antes vistas, na ânsia de postagens numerosas, para viver em um latifúndio digital.

E em largos elogios ao nosso subdesenvolvimento, os mais hodiernos também discutem sobre o eurocentrismo, que deve ser superado. A forma europeia, considerada velha, caduca. E copiando, errou-se sempre, ao estarmos presos sempre a ideias prontas, o que é uma forma de metafísica, ou inversão do real. É preciso deixar o modelo europeu para trás, para afirmar a nós mesmos, para começar a amar o que se passou. Por que assim foi. Reafirmar o passado comum, e negar o ressentimento. A tarefa que está posta é somar aos projetos americanistas de Jose Marti, de Simon Bolivar, de Simon Rodriguez, de Che Guevara, ao Amor Fati. Afirmar a História americana e negar toda calúnia, pela valorização integral de Nossa América. Toda acusação contra ela deve ser respondida com novos ensinamentos. Sem resignação, a lição de que o lugar dos Mapuche, dos ayllus, dos zapatistas, sempre foi ativo e nunca terra onde a covardia teve predominância. A América não abaixou a cabeça aceitando as colonizações e não virou a outra face diante das relações burguesas. Dilma foi reeleita aqui no Brasil. Amor Fati, para os americanos começarem a amar a nossa realidade, por que tudo estará na História. Vontade de estar em si. América artesã dela mesma. Paradoxos e contradições devido a sua riqueza e complexidade. Lugar de luta, revolta e insubmissão. Não houve ex escravos lutando contra Palmares. Afirmação até mesmo do erro, que afinal de contas é uma etapa essencial do acerto. Caio Prado Junior negou o feudalismo para defender junto de Sodré a revolução brasileira democrática e nacional, trabalhista. Nada foi como é: se quis desta forma. Não se pode criticar o passado, mas amar o nosso subdesenvolvimento social!


Sobre o Autor:
Rafael Freitas
Rafael da Silva Freitas: Nasceu no dia 29 de dezembro de 1982 em Santa Maria, RS. Historiador. Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na web rádio La Integracion. Colunista no Jornal de Viamão.

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