IVAN MARQUETTI (Verbete)

Referências a inspirar caminhos diversos no sentido de ousar, criar, descobrir, inovar, melhorar, superar, acrescentar. Mostrar que não há o impossível quando se trata de querer deixar a sua marca junto a tantas outras grandes pegadas da vida. Exemplos que permitam a outros verem que se pode ser mais do que meramente “só mais uma 'reles' formiga comum dentro de um vasto formigueiro”.

É disso que constantemente precisam as novas gerações e futuras gerações. De modelos a lhes instigarem em ousar igual, no sentido de acrescentarem algo a este mundo em que vivemos. Modelos que precisam ser mostrados, divulgados, e debatidos sobre o que fizeram de bom, tanto quanto ao que eles possam ter sido falhos. Ideal que creio estar dia a dia se concretizando a cada nova publicação neste blog.

Com resgates variados já feitos a políticos (como Nilo Peçanha, em outubro de 2015), escritores (como Roberto Drummond, em fevereiro de 2016), inventores (como Roberto Landell de Moura, em agosto de 2015), educadores (como Simón Rodriguez, em dezembro de 2015), líderes populares de passado humilde (como o índio Mandu Ladino, em julho de 2015), dentre outros. 

Em especial destacando àqueles de pouca divulgação, entre nós, sobre os seus méritos. Como foi o caso deste agora pouco citado Simón Rodriguez. Um dos primeiros grandes educadores latino-americanos. Figura destacada atualmente em sua terra natal, a Venezuela, contudo, pouco comentada, por exemplo, em nosso país, o Brasil. 

Lacuna esta já um tanto preenchida pelos historiadores Fábio Melo e Rafael Freitas em mais um artigo. Destacando a importância deste pensador que, assim se soma à lista de outros nomes que nos mostram que temos o nosso lugar no mundo. (Nós latino-americanos) Também criamos sistemas de ideias, lançamos obras literárias e intentamos projetos científicos. 

Ao longo de séculos igualmente produzimos música e fizemos artes. E assim,... Ora! Ora! Esperem um pouco! Nisso me parece uma boa oportunidade para começar a tratar um pouco de nossas artes plásticas. Disto que tanto enfeita a nossa realidade com a poesia das cores e das formas. Dentro da qual, grandes nomes não faltam a escolher. Portanto, por qual começar? Vejamos! Que tal Tarsília do Amaral, por exemplo? Ou então Di Cavalcanti?

Bem, acho que de início qualquer nome vastamente conhecido, claramente destacado seria fácil demais analisar. Talvez sendo melhor, primeiramente ampliar esta lista com outros grandes nomes, todavia, relativamente pouco conhecidos pela maioria. Nomes que firmaram amplamente o seu espaço na crítica, contudo, não na história, de modo geral.

Pelo menos, não como mereciam. Como é o caso do expressionista Ivan Marquetti (1941-2004). Artista, cuja obra fez com que o renomado poeta e compositor, Vinícius de Moraes o encarasse como “o pintor mais importante aparecido nos últimos dez anos” (em um depoimento feito em 05 de abril de 1966).

Persona cuja obra, além das cores fortes, próprias do estilo que ele adotou, o expressionista, se torna ainda mais interessante pela técnica que, comumente não é muito usual na pintura: com espátulas em vez de pinceis, conferindo aos seus trabalhos um verdadeiro mosaico de pequenos fragmentos de camadas de tintas justapostas. 

Em jerarquias de textura grossa, acentuadas pela força das cores que para Ivan era a alma de seu trabalho, ao concluir este que “Não é o desenho que dá caráter à pintura, e sim, a cor que dá a expressividade”. Ainda que estas, a meu ver, não bastam para resumir a sua obra que em muito chamou a atenção de outros destacados nomes nas artes plásticas que o acompanharam de perto.

Cenários e retratos que fizeram o pintor e escultor Carlos Bracher (nascido em 1940) declarar que a obra de seu colega Ivan “(…) concretiza o sagrado cântico de uma obra insigne, demarcada pela transparência e a eternidade de um artista universal”. Uma dentre tantas outras impressões sobre a sua obra que se fazem carregadas de elogios, desde que ele se revelou para o público, ainda em sua terra natal, o Rio de Janeiro, em 1961.

Quando, aos vinte anos, organizou sua primeira exposição no Salão Nacional de Arte Moderna. Sendo que o sucesso desta, logo em seguida, lhe abriu a oportunidade de um espaço na Petite Galerie (também no Rio de Janeiro). A mesma “pequena galeria” (significado deste seu nome francês) que em sua vasta trajetória de 1953 a 1988, abrigou trabalhos de incontestáveis mestres nas artes visuais, como Alfredo Volpi, Franz Krajcberg e até Di Cavalcanti.

Mas, enfim, o que melhor dizer sobre a sua vasta produção? Possivelmente que ela era o reflexo de um espirito aventureiro, desbravador, que precisava compartilhar as emoções de cada novo cenário que ele vislumbrava. 

Por isso fazendo das cenas que vivenciara em suas andanças por Olinda (PE), Alcântara (MA), Paris (na França), pelas nascentes do Rio Negro (dentro da região Amazônica) e, em especial em Ouro Preto (a cidade histórica mineira em que ele viveu boa parte de sua vida até o seu falecimento) temas recorrentes em seus quadros, como “Morro do Cão I” (1966), “Janela em Alcântara” (1988), “Vitória Régia, Amazônia Revisitada” (1991).

Ivan Marquetti na cidade de Ouro Preto - MG

Do mesmo modo que amizades e frequentemente a religiosidade igualmente tomaram forma em suas telas como “Interior e Igreja de São Francisco ao Fundo” (em 1960), “Retrato de D. Hilda Vaz de Carvalho” (1966), “Igreja do Rosário” (1970), “Convento de São Francisco” (1984), “Igreja Nossa Senhora da Conceição e Casario” (2002). 

Grandes cenários e também a intimidade do espaço privado, como um atelier vazio ou uma natureza morta. Sempre demarcados pelas camadas sobrepostas com a sua espátula, sem o uso de etapas preliminares. Um desafio que poucos o provocam. 

Nisso, de acordo com o curador e professor de arte da IFMG, Haroldo de Paiva Pereira, em 2008, “Seu estilo foi único no Brasil. Ivan não usava praticamente linhas. Pintava direito”. O que não é de se estranhar diante da liberdade que o instigava retratar em seus trabalhos. Não somente na escolha de temas ou no desenhar destes meramente com as tintas. 

Dado que “Sua pintura não se prendia a estilos e modismos”, na opinião de Marcos Andrade Jr, em seu blog “Sala Ouro Preto”, publicado em agosto de 2011. Todavia, é este nome, Ivan Marquetti, é mencionado em aulas ou livros de artes que se façam acessíveis às pessoas em geral? 

Sabemos que não. Por outro lado, é claro que não é somente este Ivan Marquetti que sofre dada invisibilidade perante os olhos leigos. 

Dado que outros como Carlos Scliar (primo do escritor Moacyr Scliar), Inimá de Paula e o próprio Carlos Bracher, apesar de suas criações serem presenças constantes em incontáveis exposições em todo o país (e dos vários comentários sobre seus trabalhos em revistas e jornais), são igualmente desconhecidos para a maioria das pessoas. E deste modo o continuarão se caso não provocarmos aos que temos acesso para que os descubram. 

Podendo aos que estão lendo estas minhas palavras, então até firmarem suas próprias conclusões se definições, como a que escreveu o renomado romancista baiano Jorge Amado (autor de clássicos como “Gabriela, Cravo e Canela”, dentre outros), em 1977, dizendo que “Todo louvor é insuficiente para essa coleção de Ivan Marquetti. Ela é um ato de amor”; não seriam um pouco exageradas, ou de fato, estamos sendo débeis em não buscar contemplar ao que poucos têm sido privilegiados em olhar e enxergar. Por assim o quererem olhar e enxergar. 

Querer buscar conhecer, arriscar contemplar e, quem sabe, deixar se surpreender. Belezas a nos inspirar, seja pelo imitar num caminho igual a querer trilhar ou meramente a ambição em ousar. Algo a esta nossa realidade acrescentar, benesses legar. Sendo que por si só, até o simples e despretensioso alegrar com o belo, sem quaisquer outras intenções, mais do que muito, já nos vale a pena dele se maravilhar.


Sobre o Autor:
LUIS MARCELO SANTOS: é professor de História da Rede Pública Estadual do estado do Paraná, Escritor e Historiador. Especialista em ensino de História e Geografia, já publicou artigos para jornais como o Diário da Manhã e o Diário dos Campos (de Ponta Grossa) e Gazeta do Povo (de Curitiba), assim como a obra local (em parceria com Isolde Maria Waldmann) “A Saga do Veterano: um pouco dos 100 anos (1905-2005) em que o Clube Democrata marcou Ponta Grossa e os Campos Gerais”.

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