Texto publicado originalmente no Jornal de Viamão (http://www.jornaldeviamao.com.br/) e disponível em http://coluna-do-rafael-freitas.blogspot.com.br/search/label/9%20-%20Um%20elogio%20ainda%20que%20simplista%20da%20civiliza%C3%A7%C3%A3o%20dos%20Palmares
Zumbi foi o Espártaco negro da América Latina |
Toda a vez que o ser humano torna-se uma posse de outro ser humano, há uma situação de escravidão. Durante a vigência do regime colonial entre nós, aconteceu algo inédito, uma escravidão racial, justificada pelo dogma religioso europeu. A exploração que os negros foram vitimados foi algo indizível, sem igual. Os nossos esforços inauditos para receber um salário que não é o necessário para exercer nossos direitos, configuram algo que desumaniza cada trabalhador, mas que não é a mesma coisa que ser torturado legalmente por puro capricho sádico do senhor, do proprietário de gente.
Com o tráfico de trabalhadores negros africanos ao Brasil, a vinculação do negro com o trabalho foi consolidando a depreciação de ambos. O negro ao resistir a sua escravização foi considerado vagabundo, insolente; o trabalho cada vez mais usado para intermediar a exploração do homem pelo outro homem em um regime colonial, fez parecer o trabalho ainda tripalho, um instrumento de tortura medieval. Esta forma de relação entre quem mandava e quem obedecia, tornou a escravidão algo notório. E, somente agora, ou o fruto deste racismo ancestral, ou os limites do conhecimento histórico, nos colocam uma barreira quase intransponível, como se fosse uma muralha entre quem busca o conhecimento e a realidade concreta, ou o que de fato aconteceu.
A única revolução social ocorrida na História do Brasil e a primeira que aconteceu na América Latina, foi Palmares. Os haitianos vieram depois. A “revolução de 30” colocou um latifundiário no poder, o povo aparece somente nas fotografias nas ruas. Como no natal hoje populares enchem as ruas para fazer suas compras de lembranças aos seus amigos e familiares. No Estado Novo quem defendia o ponto de vista dos trabalhadores era perseguido, torturado, morto. A “revolução de 64” foi assim chamada pelos inimigos da democracia. Para entender a revolução palmarina devemos rebentar a invenção do anacronismo, para perceber que houve uma consciência de classe unindo diversas etnias, quando negros, indígenas, brancos pobres, resistiram bravamente a holandeses e portugueses. Num espaço nordestino, surgiu um novo regime, com novas relações sociais, construído por quem produzia. Somente após entender Palmares, será possível conceituar, caracterizar, definir, falar um pouco sobre o que verdadeiramente é uma revolução, no modo mais completo da palavra.
Rafael da Silva Freitas: Nasceu no dia 29 de dezembro de 1982 em Santa Maria, RS. Historiador. Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na web rádio La Integracion. Colunista no Jornal de Viamão.
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Lacrado.
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