Análise da música Metrô Linha 743 - Raul Seixas

A música Metrô Linha 743, nos relata um pouco sobre a Ditadura Civil-Militar ocorrida no Brasil. De forma bastante indireta podemos compreender muitas características desse período conturbado da nossa história.


Raul Seixas
Metrô Linha 743




Ele ia andando pela rua meio apressado
Ele sabia que tava sendo vigiado
Cheguei para ele e disse: Ei amigo, você pode me ceder um cigarro?
Ele disse: Eu dou, mas vá fumar lá do outro lado
Dois homens fumando juntos pode ser muito arriscado!!
Disse: O prato mais caro do melhor banquete é
O que se come cabeça de gente
Que pensa e os canibais de cabeça descobrem aqueles que pensam
Porque quem pensa, pensa melhor parado!
Desculpe minha pressa, fingindo atrasado
Trabalho em cartório mas sou escritor,
Perdi minha pena nem sei qual foi o mês
Metrô linha 743!!

O trecho da música está nos retratando a perseguição sofrida por parte da população pela Ditadura Militar, tendo como principal órgão de repressão o DOPS. Nessa época da nossa história só o fato de duas ou mais pessoas estarem conversando na rua durante a noite já podia ser visto como insurgência por parte dos órgãos de repressão do Estado. A repressão afetava principalmente os intelectuais e artistas do país como nos mostra à música no trecho do cidadão que é "escritor mas trabalha em cartório" . Esse trecho nos mostra que o personagem da música teve que buscar um trabalho mais seguro e burocrático para poder viver.

O homem apressado me deixou e saiu voando
Aí eu me encostei num poste e fiquei fumando
Três outros chegaram com pistolas na mão, 
Um gritou: Mão na cabeça malandro, se não quiser levar chumbo quente nos cornos 
Eu disse: Claro, pois não, mas o que é que eu fiz? 
Se é documento eu tenho aqui... 
Outro disse: Não interessa, pouco importa, fique aí! 
Eu quero saber o que você estava pensando 
Eu avalio o preço me baseando no nível mental 
Que você anda por aí usando 
E aí eu lhe digo o preço que sua cabeça agora está custando 
Minha cabeça caída, solta no chão 
Eu vi meu corpo sem ela pela primeira e última vez Metrô linha 743

A maior repressão da Ditadura Civil-Militar no país era a repressão intelectual, controlar a informação e consequentemente o pensamento das pessoas era visto como fator fundamental para o funcionamento da ditadura. Quanto mais informado for o cidadão mais perigoso ele se tornava. 

Jogaram minha cabeça oca no lixo da cozinha
Eu era agora um cérebro, um cérebro vivo à vinagrete
Meu cérebro logo pensou: que seja, mas nunca fui tiéte 
Fui posto à mesa com mais dois 
E eram três pratos raros, e foi o maitre que pôs 
Senti horror ao ser comido com desejo por um senhor alinhado 
Meu último pedaço, antes de ser engolido ainda pensou grilado: 
Quem será este desgraçado dono desta zorra toda? 
Já ta tudo armado, o jogo dos caçadores canibais 
Mas o negócio é que da muito bandeira da bandeira demais meu Deus 
Cuidado brother, cuidado sábio senhor 
É um conselho sério pra vocês 
Eu morri e nem sei mesmo qual foi aquele mês 
Metrô linha 743!!!!

Comer o cérebro na música representa a perda do pensar e expor sua opinião à respeito do que estava acontecendo no país. Essa perda de de opinião levou boa parte da população brasileira a se alienar dos problemas ocorridos no Brasil.



Sobre o Autor:
Felipe Carreira
Felipe Carreira. Historiador e técnico em informática. Especialista em uso de mídias e tecnologias em educação. Estuda sobre a pirataria no Atlântico com ênfase no século XVII e XVIII. Criador deste espaço virtual para o GEACB. Produz vídeos e documentários sobre a História da América,.

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