Obama, o encantador e o imperialismo norte­americano

Texto publicado originalmente em  http://connuestraamerica.blogspot.com.br 

Por Rafael Cuevas Molina*

Tradução: Marcito Luz


Obama é a face benevolente de um aparato de um aparato magro e faminto que vem abrindo caminho, e dele é embaixador de luxo.

A notícia da semana na América Latina tem sido a ida de Barack Obama por Cuba e Argentina. Encantador com seu passo de gazela, seu sorriso sedutor, seus dotes de dançarino de tango e consumada contraparte do cômico Pánfilo em Cuba. Não há quem se salve de sua sedução; é exatamente o que necessitavam os Estados Unidos nesta conjuntura precisa, quando as opções nacional ­progressistas da América Latina não atravessam seu melhor momento.

Barack Obama dançando tango

Depois de vários anos de lamentações da direita latino­americana, enfim temos a atenção que tanto pediram, e aí está Obama encabeçando a ofensiva soft da qual tem se revelado especialista. Observando, é de se perguntar como pode o presidente da principal potência do mundo contemporâneo ter tempo, enquanto Bashar al Ásad está a ponto de reconquistar Palmira e há atentados na Bélgica, para aprender a dizer “que bomba!”, e fazer como quem aprende a jogar dominó numa tela de televisão enquanto comenta o que achou do sabor dos patacones ao visitar Havana (1).

Tudo é um exemplo da diplomacia do século XXI, na qual nos dá uma lição do uso da imagem para obter os fins que se perseguem. Nisto, Obama e sua equipe são especialistas. A campanha que o levou à presidência de seu país se estuda hoje em todas as escolas de comunicação e está em publicações de qualquer universidade que se respeite; o uso que em seu marco se fez das redes sociais marcaram um antes e depois da estratégia midiática na política.

A estratégia de encantador de serpentes nunca tinha sido utilizada com tanta habilidade pelos Estados Unidos para a América Latina. Ronald Reagan pode ter sido muito sedutor para os Estados Unidos, por exemplo, mas para nós nunca nos moveu um fio de cabelo; Clinton pode ter sido muito amável, mas sua clássica pinta de gringo lo ALEJABA de nós, e de Bush é melhor nem falar. Mas Obama é outra coisa, sai até com a sogra, sua filha traduz do espanhol e é negro, o que não é pouca coisa nestes lares. Quase que até queríamos um presidente assim nestes paizinhos cheios (llenos) de ridículos e mafiosos.

Obama é, sem dúvida, a face benevolente de um aparato magro e faminto que vem abrindo caminho, e dele que é o embaixador de luxo. Pouco importa que em seus discursos fale sobre democracia, convivência entre sistemas de naturezas distintas e de ver rumo ao futuro pedindo, inclusive, desculpas por aquilo que o seu país nos fez no passado, o que verdadeiramente interessa ao aparato do qual faz parte, é que ele é peça central, é encontrar a forma de abrir caminho para os capitais transnacionais de seu país. E estes capitais não têm alterado a sua natureza predatória, apesar de que Obama seja simpático e suas filhas, encantadoras. O que temos vivido no passado, já vivemos hoje e assim será no futuro.

Querem colocar Cuba nessa trama; não há outro motivo para tanta doçura, tanto sorriso, tantos parabéns. O discurso da democracia, do reconhecimento dos lucros da Revolução, do elogio de sua férrea dignidade é o canto das sereias. Se para se apoderar dela pudessem ter feito de outra forma, com outros métodos, sem tanto sorriso, já teriam feito. E mais, já tentaram, mas não puderam. Agora Obama, sua mulher, suas filhas e sua sogra, jogam o anzol para ver se os cubanos mordem a isca. Se não funcionar, como diz a própria Doutrina Obama, sempre há tempo para voltar atrás e tentar por outro caminho.

Nestas estão provando, por aqui e por ali: agora com Obama e seu sorriso de anúncio de creme dental, amanhã declarando a algum país ameaça para sua segurança nacional. Depende de nos deixarmos bajular.


Notas:

[1]https://www.youtube.com/watchtime_continue=109&v=jOwa5ie­K5Q




Sobre o Autor:

Rafael Cuevas Molina: Presidente de Asociación por la Unidad de Nuestra América (AUNA – Costa Rica),.

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