Entrevista com Mario Dutra do Jornal de Viamão/RS.


Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata- Inicio nossa conversa com uma frase de François Rabelais que bem poderia ser considerada uma abordagem sobre o nosso tempo presente: "Conheço muitos que não fizeram, quando deviam, por que não quiseram, quando podiam". Concordas? 

Mario Dutra- Concordo plenamente, essa frase tem tudo a ver com a corrupção de muitos de nossos políticos que hoje ocupam o poder, que ao invés de nos servir, se servem de nós, um exemplo é em nossa cidade aonde um grupo de políticos do PT dominou a cidade por 16 anos, e pouco fizeram, veja alguns exemplos: não fizeram a licitação do transporte, não fizeram uma creche sequer, não criaram oportunidades de empregos, não melhoraram a saúde do município, pelo contrário foi um caos a gestão da saúde. Bom, eu completaria a frase do pensador dizendo, “não fizeram porque não quiseram, porque tempo eles tiveram”. 

GEACB- Como vem sendo seu trabalho com o Jornal de Viamão nesta época de polarização pró e anti PT? 

MD- O Jornal de Viamão nasceu da indignação de amigos e moradores de Viamão com o descaso do governo do PT, aonde ao longo de 16 anos coisas absurdas aconteciam, e não eram noticiadas, porque todos os jornais da cidade de alguma forma já estavam na lista de benefícios institucionais, aqui não é diferente do resto do Brasil. Podemos afirmar que muitos políticos de Viamão entraram pobres na politica e saíram ricos, não é mera semelhança com a situação atual do governo PT a nível nacional, aqui também houve propinas, enriquecimentos ilícitos e polícia invadindo prefeitura. Portanto o Jornal é imparcial e sempre será até a segunda vírgula, aonde termina o fato e entra a nossa opinião, regida por uma conduta ética. Nesta época de polarização, o jornal continua noticiando apenas fatos concretos, mas confesso que uma queda deste governo corrupto para nós seria a última edição de uma obra que foi idealizada nas comunidades carentes e sem voz, que viviam uma enganação, uma falsa ilusão que estavam sendo acolhidas. Aqui eles, PT, já foram, agora falta o Brasil se livrar da sujeira. O que vem depois é outra coisa. Talvez uma nova luta, porque também não acredito no ser humano que opera a politica na grande maioria das vezes para se servir.

GEACB- Quais os obstáculos que tu enfrentaste para iniciar a caminhada com o Jornal? 

MD- De todo tipo, criticas, perseguição, violência física, mas o pior de tudo, no começo e por um longo período foi o isolamento dos (hoje ) companheiros da mídia e instituições tradicionais. Como por exemplo, associações de grande porte por onde a classe burguesa da cidade passeia. Mas tudo foi superado, estes mesmos hoje atravessam a rua para falar comigo, na esperança de aparecerem no jornal ou não serem citados negativamente.

Mario Dutra do Jornal de Viamão/RS

GEACB- Como tu relacionas a história do Jornal com a história da cidade de Viamão? 

MD- Sem fatos não sai o jornal, eles contam a história da cidade, seja uma visão de esquerda ou de direita, o fato fica registrado. O Jornal de Viamão tem tudo a ver com a história recente da cidade. Acredito que escrevemos e deixamos nosso registro nesta cidade, quando fizemos lutas históricas junto com a comunidade e até tiro de borracha levamos para passar a informação, ali nós também fizemos parte da história e vamos continuar contando até que as cortinas se fechem. 

GEACB- O Jornal de Viamão é neutro ou possui alguma posição política? 

MD- Quando começamos o jornal de Viamão, não sabíamos o que era direita, o que era esquerda, nem como se fazia jornalismo, mas de um coisa nós sabíamos, alguma coisa precisava ser feita, foi preciso muito estudo e dedicação para compreender melhor a engenharia por trás das ideologias e posições politicas. Hoje o jornal é considerado de direita porque lutou contra a esquerda. Mas não concordo, para mim o jornal sempre foi de esquerda, lutando contra a própria esquerda que se perdeu.

GEACB- Quais as reportagens do Jornal mais marcantes? 

MD- São muitas as que marcaram, poderia citar algumas que chegaram a mídia nacional, mas acredito que as que marcaram mesmo são aquelas mais simples e que mudaram as vidas de pessoas humildes e necessitadas, como a construção de um ponte a partir de uma denúncia, aonde as crianças molhavam os pés para ir na escola, ou aquela que denunciaram os maus tratos a idosos e cadeirantes que eram vítimas de funcionários sem escrúpulos, essas matérias até hoje me emocionam e são as que fazem a minha adrenalina enlouquecer. 

GEACB- Devido a popularidade de mídias eletrônicas como rádio, TV e Internet, o jornal impresso está com os dias contados, aproximando-se de seu fim entre nós? 

MD- Também já pensei nisto, acredito que os grandes jornais estão condenados sim, pela dificuldade e manutenção de sua estrutura, mas os jornais de bairros e jornais do interior ainda estão sendo escritos a luz de velas, porque ainda há leitores que apreciam o jornal, o impresso por aqui terá uma sobre vida, convivendo com as novas tecnologias.

GEACB- Quais as atividades que envolvem o Jornal de Viamão e comente sobre a equipe atual? 

MD- O jornal participa de várias atividades, é colaborador e apoiador de vários projetos artísticos e culturais, já tivemos 25 pessoas envolvidas diretamente com o jornal, hoje nossa equipe não passa de seis pessoas mais familiares e alguns colaboradores (que são escolhidos e aceitos raramente). Confesso que as pessoas continuam firmes no propósito de ajudar e colaborar no jornal, e se depender delas eu não paro, nem para dormir, é quase 24 horas no ar envolvido em alguma coisa e quem não aguenta sou eu, por isso há algum tempo tive que diminuir as atividades e liberar a equipe pelo menos por um tempo. 

GEACB- Quais os planos para o futuro? 

MD- Sinceramente, queria que outros jornais surgissem ao estilo do Jornal de Viamão, espero que surjam, novas lideranças, lutadores e sonhadores, porque o show não pode acabar. Já não tenho a mesma força e vigor para correr por aí, acho que está na hora de passar o bastão.

Acredito que em breve vou lutar contra o que acho errado de dentro do sistema para fora, incorporei de Nietzsche a "vontade de poder". É isso mesmo, sem o poder não dá para mudar muita coisa, se gasta muito papel e muita caminhada, posso fazer do poder uma arma dentro de algum partido que seja alinhado com o meus ideais e pensamentos, sem coligações, sem acordos e sem maracutaias, pode ser mais uma utopia, achar um partido assim, como querer ter um jornal imparcial, mas vou seguir tentando fazer a coisa certa. 

GEACB- Palavras finais?

MD- Misturei os assuntos e fiz uma salada de pensamentos, mas fui honesto. Obrigado.


Sobre o Autor:
Rafael Freitas
Rafael da Silva Freitas: Nasceu no dia 29 de dezembro de 1982 em Santa Maria, RS. Historiador. Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na web rádio La Integracion. Colunista no Jornal de Viamão.

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