Um olhar à esquerda. A utopia tenentista na construção do pensamento marxista de Nelson Werneck Sodré (resenha)




Nome: Um olhar à esquerda. A utopia tenentista na construção do pensamento marxista de Nelson Werneck Sodré
Autor: Paulo Ribeiro da Cunha 
Editoras: Revan; FAPESP
Ano: 2002


Resenha

Com referenciais teóricos de autores como Lukács, José Paulo Netto, Leandro Konder e Michael Lowy, Paulo Ribeiro da Cunha transformou a sua dissertação de mestrado em obra bibiográfica. A pesquisa foi realizada em 2001 sob a orientação da professora Élide Rugai Bastos, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), nos oferecendo diversas análises importantes e divulgações de idéias de Nelson Werneck Sodré desconhecidas, como suas críticas em artigos contra o patriarcado, contra o racismo e interpretando os problemas alimentares do proletariado como uma questão social.

Cunha, professor de ciência política da Universidade Estadual Paulista (Unesp), acabou pecando ao apresentar um texto com elementos de literatura, pois defendeu uma tese nunca admitida por Sodré publicamente, admitindo no último parágrafo, que tudo não passaria de uma especulação. Ora, sem base documental, qual a razão de apresentá-la como uma hipótese científica? A tese de que Nelson Werneck Sodré faria parte do PCB e de seu “braço armado” chamado Antimil, não foram sustentadas no livro de Cunha. Mas este deslize não invalida a obra por completo.

Através de análises críticas de artigos, cartas, entrevistas, livros e roteiros de cursos de Sodré, Cunha buscou as pistas da mediação política que aparecem dissimuladas nas componentes vocacionais do historiador: enquanto um militar, intelectual e militante. Ao interpretar a construção do pensamento político de Sodré, aferiu duas etapas na sua concepção teórica. Haveria um Sodré jovem, e um Sodré maduro, desde sua politização iniciada ao acompanhar a revolta dos Dezoito do Forte de Copacabana em 5 de julho de 1922 e depois aprofundada quando esteve em Salvador, na terra de Cipriano Barata. A ênfase foi dada às publicações entre 1938 e 1945, que Sodré não achava dignas de reedição. 

Há uma excelente descrição político-biográfica de Nelson Werneck Sodré, analisando profundamente as suas diversas influências, que foram nesta fase juvenil, de Azevedo Amaral, Vilfredo Pareto, Oliveira Viana, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Fernando Azevedo e seu inesquecível professor Isnard Dantas Barreto. A rotação e evolução ideológica do tenentismo ao marxismo em um percurso conturbado e contraditório está contemplada em Um olhar à esquerda.

Nos cinco capítulos que totalizam a obra, Cunha demonstrou as mudanças no pensamento de Sodré referentes a temas polêmicos, como o feudalismo brasileiro, o 13 de maio de 1888, a Era Vargas, e nos brindou com verdadeiros achados como as categorias da heterocronia e de alforria intelectual. Poucos sabiam, até agora que Sodré se reconhecia como um positivista e era reticente em criticar o integralismo, quando ele participava da babel teórica que era o debate socialista entre nós no período em que o jovem Sodré escrevia. Em 1971, ele afirmava: “Sob muitos aspectos permaneço fiel ao pensamento durkheimiano”.


Sobre o Autor:
Rafael Freitas
Rafael da Silva Freitas: Nasceu no dia 29 de dezembro de 1982 em Santa Maria, RS. Historiador. Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na web rádio La Integracion. Colunista no Jornal de Viamão.

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