“A GEOGRAFIA constituiu-se, separando-se de ciências com as quais permaneceu afim, na fase em que o capitalismo se preparava para entrar na etapa imperialista, isto é, a última, a que assinalaria, com o crescimento de sua exploração, o início da decadência. Antecedera essa fase, e se alongaria com ela, o colonialismo. A expansão colonial, que alimentou a acumulação capitalista, armou-se ideologicamente. Nesse arsenal ideológico, justificatório da espoliação de numerosas massas humanas, na Ásia, África e América Latina, vamos encontrar algumas das teses que, acolhidas pela Geografia na infância, se constituirão em notórias falsidades. Ela herda, por exemplo, o mito da superioridade racial. Colonialismo e racismo são irmãos xifópagos. O fascismo acolheu, entusiasticamente, a noção de desigualdade racial, que lhe permitiria fundamentar suas teorias. O que o racismo não podia esconder era o conjunto terrível de desigualdades sociais que pretendia cobrir e justificar. A Geografia, para seu prejuízo, acolheu- e acolhe ainda, embora de maneira disfarçada- esse acervo de falsidades, ligado às diferenças de características físicas apresentadas pelos grupos humanos. na medida, pois, em que define o seu campo e se liberta das ciências de que foi auxiliar, a Geografia recebe esse cabedal pretensamente científico. de sorte que a falsidade, que armou o colonialismo ideologicamente, chegou até os nossos dias e a Geografia foi um de seus veículos.” (SODRÉ, 1984, p. 119)
Nelson Werneck Sodré
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