História geral da civilização brasileira. Tomo II O Brasil monárquico. Volume 3. O processo de emancipação. (citação)

“Em torno de D. Pedro soldara-se um bloco de representantes de diversas tendências; nada mais expressivo do que a atitude do velho rebelde bahiano Cipriano Barata, ‘breve no corpo e resoluto de espírito’ como a si mesmo se definia, sempre suspeito de republicanismo, e que desde julho manifesta sua simpatia pelo Príncipe no estilo direto e zombeteiro que lhe é peculiar. As notícias do Brasil indicam que D. Pedro pusera-se à frente da libertação nacional; enquanto em Lisboa se confirma a decisão de sujeitar a portugueses as armas provinciais, no Rio chama-se Labatut para comandar o exército que vai socorrer a Bahia; prepara-se a convocação de um legislativo brasileiro; Barata só tem motivos de contentamento. E os regeneradores ainda insistem na volta do Príncipe... ‘Minhas opiniões, Sr. Presidente, são muito diferentes: estou persuadido de que Sua Alteza só voltará por sua vontade (...) Suponhamos que o mandam vir e que ele diz não quero. Que se lhe dá a fazer? Eu não vejo remédio. (...) A Sua Alteza, Sr. Presidente, nada falta; tem soldados, tem marujos (...) dinheiro e socorro de braços fortes e ainda tem outros meios que eu de propósito não explico.’ Se os portugueses insistem, teremos de ir ‘defender a nossa pátria’. Naqueles ‘outros meios’ em que Barata não explicava havia talvez uma alusão ao que lhe dirá com todas as letras, causando o maior tumulto de que houve memória nas Cortes (maior do que quando, também ele, o incorrigível, sacudira pela escada abaixo um companheiro menos patriota).[...] Foi quando Barata resolveu dar por encerrado aquele diálogo de surdos: aconselhou o Congresso a não exacerbar o príncipe do Brasil, pois ele poderia atrair contra Portugal os batalhões do sogro, Imperador da Áustria, vale dizer os regimentos da reacionária Santa Aliança. ‘Foi o dia do juízo’ nas galerias e no plenário; houve deputados que fugiram da sala. Para quem esquece a rebeldia de Barata, sua resistência ao despotismo antes e depois de 22, do episódio poderia surgir a possibilidade de uma aliança entre os liberais brasileiros e as hostes do absolutismo. No entanto, além da expressão pitoresca do rompante de um jacobino original, vale apenas como indício da união que se realizará em torno do Príncipe.” (HOLANDA, 2003, p. 200-201)



Sérgio Buarque de Holanda


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