VOTO CONSCIENTE: Como o fazer quando não temos opções para isso?

Justamente porque não estamos em tempos de eleição que eu acho que essa conversa fica mais autêntica. Sobre essa velha máxima do voto consciente. E que só é lembrada exaustivamente com a chegada de um novo pleito.

Quando só então voltam à tona discursos como: “Vote consciente!” “Não vote nos maus políticos!” “Não jogue seu voto fora!” “Analise as melhores propostas”. O que é bom ser dito. Mas que também esbarra num problema que há tempos reflito.

E que até agora nunca vi ninguém ter coragem de tentar solucioná-lo: Como votar consciente quando vemos que não temos nenhuma boa opção para isso? Quando muito só restando eleger ao que pode ser o “menos pior”.

Ou estaria eu sendo exagerado? Não! A menos que você nunca tenha passado pelo dilema de se deparar com uma longa oferta de candidatos em que é difícil achar pelo menos um que tenha uma boa proposta de trabalho. Isso quando o cenário já não é mais grave: o candidato que lhe agrada tem um passado que o desabona. Ou até bem pior ainda. Bem mais mesmo: o candidato não tem proposta, só discurso e, além disso, o seu passado não faz ele nem um pouco confiável para a função.

No primeiro caso, candidatos de discurso vazio, em que não se comprometem com nada. Em que a sua fala pode variar entre criticar vagamente os maus políticos, dizer que vai trabalhar pelo povo, repetir o discurso de não jogar (e nem vender) seu voto fora, apelar à emoção de seu eleitorado, etc, etc.

Potencial candidato a não fazer nada de significativo depois que se elege. Isso se ele já não foi eleito anteriormente e ainda assim não tem nenhum trabalho sério para monstra. Porque daí não há nenhum risco de ele não fazer nada. Não mesmo. Daí já é certeza absoluta que ele não faz nada, a não ser para si. Isso sem contar da desonestidade que é cada vez mais comum. 

Certo! Mas como então votar consciente quando não há opções? Justamente aí chegamos ao ponto em questão: quando não há nenhuma alternativa à vista, então se faz o terreno propício para várias delas surgirem. Isso se você assim o quiser. Já que qualquer um, até mesmo VOCÊ que está lendo este texto, pode ser essa opção. 

Você ser o candidato. Você se filiar a um partido. Você lutar por uma causa e convencer a outros dela. Claro que, por outro lado, não adiantará nada se você apenas se lançar a algo, unicamente esperando ganhar uma eleição e então ficar a querer só aproveitar as benesse de um cargo politico. Pois daí fica elas por elas. 

Portanto, quando digo de VOCÊ SER A OPÇÃO, só se você puder ser diferente destes que tanto lamentamos. E mais: tenha certeza de que as pessoas ao verem uma escolha em que elas sintam confiança, elas votarão nela sim. 

Pois não tenha dúvida de que a maioria está desesperada por bons políticos. Por mais que o senso comum diga o contrário. O que exponho não para atiçar a ambição de muitos com a política, mas sim a grande responsabilidade disso. 

Pelo menos se queremos ser políticos no sentido de sermos cidadãos. Pessoas que contribuem de todos os modos, viáveis, para o bem da sua coletividade e exigem que cada um faça o mesmo. Sendo que isso se aplica a políticos e não a politiqueiros. 

Sendo politiqueiros quaisquer homens e mulheres que querem apenas o benefício pessoal à custa de um cargo politico. Por mais que, hoje, o eterno senso comum dê a entender que politica acima de tudo é só um trampolim para poder se dar bem e o resto é só o resto. Essa visão de que qualquer um uma vez no poder, se fizer algo de bom pelo coletivo, por mais mínimo que seja; já vai ser lucro. E o pior: a maioria das pessoas encara isso com naturalidade, com conformismo.

Só que se assim agimos, daí não tem jeito: vamos continuar patinando no mesmo problema. Sofrendo, lamentando e não admitindo o que também é a nossa responsabilidade. Pois se nós estamos numa democracia, ainda somos nós que temos o poder de escolha. O poder de decidir o que é o melhor para nós. Porém, se não há o que escolher, nós temos também que resolver essa dificuldade. 

Inclusive assumindo a responsabilidade pela má politica que adoramos falar que ela é só sujeira. Nisso, para VOCÊ querer ser um bom politico, eu listo o que considero cinco exigências. Todas bem óbvias, mas que nem todos as percebem.

Primeiro: compreender que escolher alguém ou se candidatar a um cargo é igual em qualquer situação. Seja se candidatar para a vaga de gerente de loja, para ser eleito vereador, para o emprego de babá ou se oferecer para ser um cuidador de idosos. Você escolhe aquele que lhe cria a confiança de ser apto para a função. 

Você não contrata um cuidador que sabe que é impaciente e, por isso, ainda vai bater no idoso. Nem contrata um gerente que se sabe que vai roubar o seu caixa.

Mas na politica as pessoas não enxergam igual. E elegem corruptos, ladrões, incompetentes, dentre outros. Sem perceber, por exemplo, que o salário do funcionário municipal ou estadual que este reclama estar atrasado, é por causa da corrupção ou incompetência deste que ele pode ter ajudado a eleger. Ou a rua em que você mora está se abrindo constantemente em buracos porque o prefeito e vereadores de sua cidade não estão nem aí com essa população que os elegeu.

Em suma: se não queremos ver isso, somos tão culpados quanto os administradores que colocamos lá. O que doí muito a gente de ter de admitir, mas não tem outro jeito. Somos nós que, muitas vezes, criamos o problema que lamentamos. Desde o momento em que nós fazemos nossa escolha por assim dizer “na louca”.

Charge sobre o voto no Brasil.

Claro que se todas as opções são ruins como eu já mencionei, então fica mais complicado. O caminho das pedras nesse caso começa se conscientizando e conscientizando aos outros em seu redor sobre o que e como fazer. O que exigirá inclusive querer aprender como funcionam leis, burocracia, etc. Trabalhoso, mas que evita tanto que nos enganemos como nos deixemos enganar.

E tem mais: tendo essa vontade e a pondo em ação, você inclusive já está preenchendo a segunda exigência que entendo num politico (não politiqueiro): ter justamente essa disposição, anseio em fazer alguma coisa pelo coletivo, não apenas por você. Querer, sinceramente, legar, contribuir com algo de bom. 

Igual um cuidador de idoso que tem que gostar de trabalhar como pessoas velhas, apesar de que isso nem sempre ser um oficio prazeroso. Mas você o faz porque lhe faz bem servir aos outros, tanto quanto também gostamos de ser servidos. 

Portanto, reforço: querer e crer em poder fazer algo de melhor pela sua comunidade, seu grupo. Não interessa se uma vila, uma cidade, um estado ou um país. Claro que todos numa eleição dizem querer fazer algo, mas aí não é difícil perceber que a fala da maioria dos candidatos é vazia. Uma vez que, fazer algo realmente, exige vontade, desejo de fazer acima de tudo.

Nisso, se eu estou falando em ser a diferença, então o ponto em questão é: VOCÊ está indignado com a situação que o país, o seu estado, sua cidade, seu bairro vive? Se sim, o que pensa em fazer ou prefere apenas reclamar e ficar de braços cruzados esperando algo acontecer, sem você precisar se envolver? 

Questão que se entendida torna fácil agora a compreensão da terceira exigência que julgo essencial: quem quer trabalhar pela sua coletividade, não precisa esperar ganhar uma eleição para fazer algo. 

Inúmeros trabalhos: seja numa ONG (organização não governamental), num trabalho voluntário esporádico, numa ação continua na sua igreja, na sua associação de moradores, criando ou colaborando em uma mídia que ajude a informar e formar as pessoas, atuando num sindicato, criando um grupo para limpeza das ruas, ajudando uma ou mais creches, etc, etc, etc.

O que não deve ter a intenção de apenas querer se mostrar aos outros para depois conseguir algo para si. Não, não. Proibido ser um trampolim. Pois do contrário isso já esbarra na segunda exigência: fazer pensando no coletivo e não em si. Afinal, se você crê no que faz, você se importa unicamente em fazer e não mostrar o fazer. 

O que por sua vez nos convida a observar e desconfiar das pessoas que se engajam em algo e logo em seguida usam isso para tentar ajudar elas próprias a se eleger num cargo de vereador, deputado, prefeito, etc. Sendo que se pararmos a ver, quem quer trabalhar trabalha e não usa isso para obter vantagens em seguida. 

Então, como saber se você deve ir além ou não, em disputar um cargo politico, ao longo do seu trabalho pela comunidade que não é remunerado pelo contribuinte? Fácil: quando as pessoas, sinceras (e não agentes de partidos políticos) lhe sugerirem isso. Dizerem que você pode fazer algo mais do que já está fazendo agora.

Porém, há um quarto ponto. Que muitos podem discordar, mas que não vejo diferença entre ser politico (e não politiqueiro, como tanto insisto em enfatizar) sem saber como a politica funciona e ser motorista sem saber dirigir, por exemplo. Isso mesmo! Digo estudar e aprender sobre as atribuições do cargo que venha a disputar. 

Não interessa que o eleitor não se percebe como é importante você saber desde já o que terá de fazer e se preparar. Mas sim que tua pessoa quer fazer o melhor. Até porque a despeito do conhecimento que adquira, sempre será difícil a caminhada nesse sentido. E por quê? Obvio: terá sempre, sempre de trabalhar junto com diferentes pessoas e que nem sempre querem o mesmo que você quer.

Creio que todos têm noção de como é complicado convencer aos outros a ir numa direção. Muito mais se você for um novato no meio de veteranos que o vejam com desconfiança por isso. Logo, se com conhecimento é difícil, imaginem sem ele. 

Claro que pode se citar exemplos de pessoas praticamente sem instrução, como o caso do palhaço Tiririca que se elegeram. Contudo, não estou falando em ganhar eleições. Não falo em politicagem, querer apenas chegar lá. Digo sim fazer uma ação construtiva, prática, de fato benéfica para a sua coletividade. O que exige querer se aprender para melhor promover esse bem que só o idealizar não basta.

Um motorista de ônibus não aprende a dirigir praticando de primeira com os passageiros dentro. Por isso, defendo o aprender das noções mais básicas e não necessariamente a experiencia prática. Digo apenas ter noção do que se propõe a fazer. Ainda mais com a facilidade de obtermos informações hoje.

Tanto que com a internet é fácil saber as atribuições de um vereador, como funcionam votações, realizações de projetos, etc, etc. E mais: pode se buscar aprender isso com outras pessoas, oportunizando isso a elas. Não ter vergonha em querer saber, muito menos sobre política. 

Ter base assim para criar um planejamento de gestão, igual você planeja as despesas de sua casa, igual traça o roteiro de uma viagem de férias, etc. O que nos leva ao último aspecto: seu discurso. Mas não pensando no eleitor, mas na noção que você tem da responsabilidade que irá assumir. 

Pensar principalmente no que critica e nas soluções que propõe. Por exemplo: hoje não há casos em que um seguidor do PT (esquerda) repudie a tudo que um seguidor do PSDB (direita) proponha apenas por causa de suas ideologias diferentes, assim como um militante do PSDB pode fazer igual em relação a um militante do PT?

Daí a questão: somente se fechar a sua visão ou também ceder ao que o momento mais exige? Ver primeiro o benefício de uma proposta sem ver o autor ou ver somente ao autor sem estudar as melhorias vindas dessa ideia? Sim, um pragmatismo politico para um país como o nosso que não entende bem que a verdadeira democracia está acima das paixões partidário-ideológicas. Tanto esquerda como direita resistem em ver isso: o bem coletivo acima da ideologia. 

Logo, a verdadeira politica para o bem comum é uma via de mão dupla. Onde, por exemplo, igual quero que cedam, também tenho que dar minha contrapartida. E deste modo vai. Sendo que é claro que isso não deve se confundir com o ceder apenas visando a um projeto de poder.

Como, aliás, muito já se criticou de políticos de esquerda terem renegado a tudo o que defenderam antes, visando somente continuar aonde enfim chegaram. E junto com esse poder as benesses já mencionadas. Isso sem falar em ridículos sacrifícios ao povo, mas não aos nossos políticos, como muitos tem defendido agora.

Logo, o que quero dizer é: olhar o bem coletivo de modo que a busca deste objetivo é evidente. Não o apego ao poder, picuinhas ideológicas ou fisiologismos.

Mas ao que achar toda essa minha longa fala complicada demais, posso assim resumir o que espero de um bom politico: dever fazer só ao que sabe que nunca, nunca mesmo, sentirá vergonha de admitir ter feito, nem você e nem seus próximos.

Romantisco de minha parte? Ainda vendo política como algo a manter distância. Ou apenas disposto a discutir ela sem nela muito se envolver diretamente. Se este foi seu caso, então só lhe resta refletir sobre este dizer que segue abaixo:

Frase Platão

Ou seja: Quanto mais reclamamos da política que vivenciamos, mais nos cabe fazer algo sobre isso. Não só criticando, pois isso é fácil demais. Logo, propondo e trabalhando para que este proposto, de fato aconteça. Ou do contrário, o inferior (obviamente o mau político) por mais que falemos mal dele, continuará a determinar nossos destinos.

Que eu diga do Brasil desta atual década (de 2010), em que as pessoas cada vez mais sentem revolta com administradores e legisladores que as governam, em sua maioria, pensando somente neles próprios. Cada vez menos se importando com os sacrifícios constantes que estão impondo ao nosso povo. 

Por mais que estes políticos sempre tenham desculpas para justificar a pesada conta sobre a população em geral pelo “oba-oba” que reservam apenas para si. Problema que, aliás, não se restringe ao nosso país. Mas é em nosso Brasil que temos que resolver esse dilema que nos afeta no dia-a-dia, querendo nós perceber isso ou não.

Solução que NÃO É APENAS votando e fazendo protestos. Mas TAMBÉM ASSUMINDO ESSA RESPONSABILIDADE de administrarmos, aceitarmos o risco de igualmente sermos criticados pelos nossos atos e aprendermos com isso. 

Sermos políticos votando, protestando, apoiando, cobrando, acompanhando e fiscalizando ao que é feito, colaborando e também assumindo cargos junto com a responsabilidade de fazermos algo ou sermos punidos por nossa omissão.

Tal como achamos ser certo acontecer aos que falham nessa tarefa. Para tanto igualmente gerando, de fato, meios para esse punir acontecer. Ao invés de ficarmos a criar ou aceitar justificativas para erros que não devem ser justificados ao se ser um mau gestor do interesse público.

Portanto, sejam políticos, não politiqueiros! Ou do contrário, tenham certeza: nada vai mudar. É isso o que queremos?


Sobre o Autor:
LUIS MARCELO SANTOS: é professor de História da Rede Pública Estadual do estado do Paraná, Escritor e Historiador. Especialista em ensino de História e Geografia, já publicou artigos para jornais como o Diário da Manhã e o Diário dos Campos (de Ponta Grossa) e Gazeta do Povo (de Curitiba), assim como a obra local (em parceria com Isolde Maria Waldmann) “A Saga do Veterano: um pouco dos 100 anos (1905-2005) em que o Clube Democrata marcou Ponta Grossa e os Campos Gerais”.

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