Históriador |
Desde as origens da raça humana havia aqueles que registravam os acontecimentos. Desde as pinturas rupestres, como as da Serra da Capivara, até as pirâmides astecas, temos diversos tipos de representação da vida, do trabalho e da criatividade do ser humano – inserido numa tribo na floresta ou numa civilização de classes. Em cada sociedade que se formava, em um determinado tempo e espaço, estes que registravam as atividades desempenhavam um papel específico, também determinado pelo tempo e local onde viviam. A observação atenta e científica do nosso passado aponta para a existência da História desde o início da humanidade.
Mas foi na Grécia Antiga, com Hecateu e Heródoto (nos séculos VI e V antes de nossa era) que se desenvolveu uma ideia mais próxima do que é o atual historiador. Estes dois, hoje chamados de historiadores; além de descrever o que viam, buscavam as origens – suas obras eram quase todas baseadas na origem e funcionamento do Império Aquemenida que dominou uma vasta região do mundo conhecido pelos gregos; só sendo derrotado por Alexandre, o Grande, no século IV antes de nossa era). Antes deles, porém, nomes como Homero ou Hesíodo também relatavam acontecimentos de um passado anterior a eles, mas suas obras tinham um caráter muito mais mitológico (misturando homens e deuses) do que real.
Mais ou menos no mesmo período, no continente africano, havia os griots. Os griots tinham uma função social muito importante em vastas regiões da África Ocidental que constituíam o Império Songhai. Eram os griots que guardavam histórias dos reis, tradições culturais e até medicinais; tudo isto numa tradição oral.
Ainda na África, mas já nos anos 1300/1400 na era corrente, viveu o historiador Ibn Kaldun. Kaldun pode ser considerado o verdadeiro “pai da moderna história como ciência”. Influenciado pela riqueza da cultura islâmica, Kaldun não apenas registrava e contava os fatos antigos de reis, batalhas ou impérios, mas detalhava em seus estudos questões econômicas, sociais, demográficas, culturais, filosóficas e políticas. Seu livro Mukaddimah (também conhecido pelo título grego Prolegomenas, escrito por volta de 1377) é a primeira tentativa de uma “história universal” - integrando todos os eixos temáticos descritos acima: econômico, social, filosófico.
Charge sobre Divisão Internacional do Trabalho |
Apesar dos esforços e da vasta obra de todos estes que podemos considerar historiadores (em seus respetivos tempos no qual viveram e produziram), foi somente na virada do século XVIII para o XIX que uma verdadeira ciência da história se solidificou. Isto não foi por acaso. Neste período dois fenômenos muito importantes ocorreram para que não apenas a forma de contar história se modificasse, mas também a sociedade como um todo: a Revolução Industrial e as ideias políticas que influenciaram a Independência das Treze Colônias (1776), a Revolução Francesa (1789) e as Independências na América Latina (1806-1825). A partir destes eventos o mundo passou a se integrar cada vez mais num sistema capitalista e norteado pela Divisão Internacional do Trabalho. O capitalismo jogou milhares de pessoas, ao redor do mundo, na mais terrível miséria. A fome chegou a pontos onde antes havia fartura – num momento onde a produção de alimentos em escala industrial crescia cada vez mais e os trabalhadores deixavam de serem servos ou escravos para tornarem-se livres de todo meio de produção, ou seja, assalariados. Tamanhas contradições levaram a história a um patamar de ativismo político. A história para entender o mundo apenas não bastava, era preciso transformar este mundo desigual, produto de uma história. É neste sentido que as contribuições dos filósofos Karl Marx e Friedrich Engels para a história são fundamentais. Eles juntos desenvolveram um método de interpretação histórica que agora tornou-se parte de uma tradição intelectual universal: o materialismo histórico dialético.
Obviamente, a reação a esta história que se propunha a transformar a realidade veio com muita força. Na segunda metade do século XIX, as novas descobertas nas áreas da física, química e engenharia, estavam sendo aplicadas para o desenvolvimento do capitalismo e para novos desdobramentos da Revolução Industrial. Neste contexto, o positivismo ganhou uma pequena influência em restritos círculos acadêmicos – não tanta influência quanto se imagina. E ao mesmo tempo, se impôs um cientificismo academicista, que primava pelo rigor metodológico e desprezava qualquer tipo de influência ideológica. Isto chegou nas universidades europeias, principalmente nas alemãs. Era uma ótima forma de manter os jovens afastados da militância política e passar para eles que a ciência é “neutra”.
Como podemos ver, ao longo dos séculos, os historiadores tiveram grande importância, seja na manutenção de uma sociedade ou na sua transformação. Já no século XX, em diversos países do mundo, ser historiador é uma profissão que atua em diversos setores: desde professores em escolas e universidades, passando por órgãos públicos e empresas, até mesmo junto ao turismo. Mas aqui no Brasil a profissão ainda não é regulamentada; ou seja, praticamente não existe. Nossos profissionais da história estão restritos às pesquisas acadêmicas e as salas de aula – não que isto seja ruim, mas dado as possibilidades nais quais um historiador com todo seu conhecimento pode atuar é um espaço ainda limitado. Atualmente o PL 4699/2012, de autoria do senador Paulo Paim (PT-RS) regulamenta a profissão, mas ainda não foi aprovado no senado. Ver:
Fábio Melo: Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Pesquisa sobre História Social da América e Educação na América (América Latina e Estados Unidos). Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na rádio A Voz do Morro. Tem diversos textos escritos sobre educação, cultura e política.
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Rafael da Silva Freitas: Nasceu no dia 29 de dezembro de 1982 em Santa Maria, RS. Historiador. Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na rádio A Voz do Morro. Colunista no Jornal de Viamão.
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