ESBOÇO DE RETROSPECTIVA E UMA SUGESTÃO DE MÚSICA PARA USO EM SALA DE AULA SOBRE A POLÍCIA MILITAR

Em setembro deste ano, 2017, havia apoio popular à greve dos professores e funcionários de escolas estaduais em Alvorada. As pessoas colavam cartazes em apoio aos grevistas nas casas e lojas comerciais, principalmente no bairro Piratini: estavam unificados comunidade, professores, funcionários e estudantes. Pode ser considerado o ápice dessa movimentação, quando, no dia sete de setembro, pela primeira vez na história de Alvorada, um grupo conseguiu fazer uma manifestação durante o desfile cívico, pelo lado de fora. Enquanto, no lado de dentro, também teve faixas críticas ao descaso dos governos pela educação escolar.

Apoio dos moradores do bairro Piratini à greve dos professores e funcionários das escolas estaduais.










Eu participei no lado de fora, segurando um cartaz com uma frase de Emiliano Zapata – Se não há justiça para o povo, que não haja paz para o governo. Também cuidava da segurança dos manifestantes estudantes durante o protesto contra o parcelamento dos salários dos professores e funcionários das escolas estaduais, mas, no calor do momento, sobraram gritos contra Appolo, Sartori, Temer e todo o PMDB.

Logo em seguida, quando avistei senhores sendo “indelicados” com alunas, intercedi, ficando entre eles, bem no meio, o que resultou em deboches dos funcionários da prefeitura. Durante a manifestação, havia olhares ameaçadores do prefeito e ao menos duas pessoas que faziam outras provocações, falando sandices, pela volta dos militares ao governo federal e contra o “comunismo” do PT.

Como se não bastasse, houve encenação e dissimulação por parte de quem era contra o protesto, tais como a tentativa de fazer parecer que os manifestantes representavam alguma ameaça ao bem estar dos presentes. Enquanto eu conversava com um trabalhador da Brigada Militar, levei três socos na cabeça e pontapés, todos pelas costas. O agressor resistiu à prisão e apenas um meio de informação divulgou os fatos. Desse modo, quais as razões do desinteresse pela imprensa em geral?

Durante as audiências, na primeira o réu não compareceu, apresentando um atestado duvidoso. Na segunda, afirmou que foi empurrado: parecendo ignorar que mentir em juízo é crime também. Logo, o fato mostra como o governo municipal se incomoda com a democracia acontecendo no dia a dia, ali na sua frente. 

Nesse sentindo, a Brigada Militar, que outrora apoiou o Movimento da Legalidade, abortando o golpe que aconteceria anos depois, em 1º de abril de 1964, tem um histórico que deprecia a instituição. Contudo, algo muito mais grave aconteceu dias depois, em Porto Alegre, no mesmo mês.

Um sargento que servia no 24 ° Batalhão da Brigada Militar de Alvorada comemorou seu aniversário assassinando sua ex-companheira com vários tiros e se suicidando logo depois. Não foi um caso isolado, pois é muito comum atos de violência contra, principalmente, as mulheres e o povo negro, pelos policiais militares. Ainda, no dia 10 de dezembro, em São Paulo, um policial militar mataria sua companheira, também da PM, com tiros no peito. 

Durante o Mês da Consciência Negra, em Alvorada, a Brigada Militar ajudou a despejar diversas famílias da Ocupação Alto da Colina. O autoritarismo foi tão grande, que o advogado da Ocupação foi detido enquanto a reintegração de posse acontecia. O motivo: estava trabalhando. Sim, para a BM, algumas vezes trabalhar é crime. 

Assim, a prefeitura de Alvorada, além de ser responsável pela agressão de um manifestante no dia sete de setembro, visto que o agressor é um CC, que estava em horário de serviço; também, no mês de novembro, fez quase nada, praticamente expulsando as famílias de baixa renda de Alvorada, para a Ilha da Pintada em Porto Alegre.

Brigada Militar em serviço, desalojando famílias na Ocupação Alto da Colina.

Foi muito incomum a Brigada Militar ter agido contra o agressor do dia sete de setembro (ou a aparência foi muito bem fabricada). No Brasil, a BM e PM matam várias pessoas todos os dias e forjam provas para criminalizar os mais pobres, como aconteceu com Rafael Braga, única pessoa presa por conta das manifestações de 2013. 

Os policiais primeiro mudaram o conteúdo da garrafa de detergente Pinho Sol, colocando um pano na sua entrada, para parecer um coquetel Molotov. Depois disso, prenderam-no pela segunda vez, de acordo com o advogado de defesa, inserindo drogas e um rojão como provas para sua prisão- há denúncias também de agressão, tortura e tentativa de estupro- sob a tutela da Lei Antiterrorismo da presidenta Dilma Roussef. 

Portanto, mesmo que as polícias militares do Brasil tenham suas contradições, fazem parte do todo, de algo maior, do Estado brasileiro, que funciona favorecendo os privilegiados (como os donos de madeireiras). Graças à Polícia Militar, que forjou as provas para a detenção de Rafael Braga, ontem o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, decidiu pela manutenção da sua pena.

Se esse pequeno texto servir como um esboço de uma retrospectiva do ano de 2017, em Alvorada e em outros lugares do Brasil, sobre casos envolvendo a Brigada Militar e a Polícia Militar, é possível a sugestão de uma música para trabalhar nas salas de aula, em disciplinas como Sociologia, História ou Língua Portuguesa; sempre levando em conta que Se a aparência e a essência das coisas coincidissem, a ciência seria desnecessária.

Abaixo, a letra e um vídeo com a poesia ritmada: 

Polícia Militar
(O levante)

Sempre nos abordam com aspereza
A máquina antipobreza nunca foi problema para quem tem renda
Em qualquer lugar tem policial a venda
Se tiver dinheiro compre, se não tiver, se defenda
Porque se você for pobre, eles não têm piedade
Abuso de autoridade herdado da impunidade
Que contemplou os covardes agentes da ditadura
Que perseguiram, praticaram tortura, mataram
Pra bom leitor um pingo é letra.
O recado foi dado
E compreendido por quem hoje tá fardado
Os tribunais coniventes garantem a liberdade
Caminho aberto pra todo tipo de atrocidade
Tiro pra tudo que é lado, os morador alvejado
Flagrantes forjado, local do crime alterado
Glória e honra aos heróis do carro branco e azul
Desde que nada aconteça no asfalto da Zona Sul
Ku Klux Klan fardada, algoz do proletariado
Braço armado desse Estado Burguês
Com os impostos de vocês tem licença pra matar
Ela é a polícia, e ainda por cima militar
Ku Klux Klan fardada, algoz do proletariado
Braço armado desse Estado Burguês
Com os ou sem as UPPs tem licença pra matar
Ela é a polícia, e ainda por cima militar
1880 a família real
Foge da agressão francesa contra Portugal
Vem pra capital do país Rio de Janeiro
Pequena África em pleno território brasileiro
No país inteiro, as revolta explodindo
Os escravos fugindo, escravos se aquilombando
Resgate nas senzalas e os engenhos queimando
Em toda parte, em cada canto, negros se rebelando
O fantasma da revolução negra do Haiti
Ainda assombrava os escravocratas daqui
Pra garantir a segurança do colonizador
No ano seguinte criaram um órgão repressor
Ela foi fundada como Guarda Real
Pra reprimir, pra oprimir, prender e matar os pretos
Mesmo como nome novo
manteve a função original
PM, cão de guarda da burguesia, terror do gueto
Ku Klux Klan fardada, algoz do proletariado
Braço armado desse Estado Burguês
Com os impostos de vocês tem licença pra matar
Ela é a polícia, e ainda por cima militar
Ku Klux Klan fardada, algoz do proletariado
Braço armado desse Estado Burguês
Com os ou sem as UPPs tem licença pra matar
Ela é a polícia, e ainda por cima militar
Os Amarildo infelizmente não são exceção
Pra quem aluga caveirão pra guerra de facção
Praqueles que até estupraram no Jacaré
Sem qualquer distinção, mulher, homem ou criança
A matança atinge índice descomunal
Na favela ela mata dia e noite, noite e dia
Sua alça de mira tem alvo preferencial
Máquina de moer preto que assombra as periferia
Pra cada mil assassinados por esses desgraçados
702 são descendentes de escravos
Não se iluda com a cor do predador fardado
Porque preta também era a cor do capitão do mato
Ela te faz ajoelhar e levantar as mãos pro alto
Mesmo assim vai te atirar e te arrastar pelo asfalto
Pela Claudia e por todas as vítimas de execução
Da polícia, que O Levante agora canta esse refrão
Ku Klux Klan fardada, algoz do proletariado
Braço armado desse Estado Burguês
Com os impostos de vocês tem licença pra matar
Ela é a polícia, e ainda por cima militar
Ku Klux Klan fardada, algoz do proletariado
Braço armado desse Estado Burguês
Com os ou sem as UPPs tem licença pra matar
Ela é a polícia, e ainda por cima militar
Órgão de repressão, instituição racista
Pra manutenção da ordem capitalista
Se tu é grevista ela está preparada
Pra dissolver seu piquete a poder de porrada
Tem serviço reservado com P2 infiltrado
Aquele mandado pra provocar a confusão
Quando tu pensa que não as bombas vão estourando
E a matilha dispersando a manifestação
Não falta agressão nem pra os jornalistas
Se morre um cinegrafista eles culpam um manifestante
Muito atuantes nas reintegrações de posse
Contra os sem-terra e os sem-tetos eles avançam ferozes
O gás de pimenta de deixam de olhos fechados
A pistola taser te deixa paralisado
Mas pra acabar de uma vez com todo esse sofrimento
É preciso abrir os olhos e se por em movimento.
Ku Klux Klan fardada, algoz do proletariado
Braço armado desse Estado Burguês
Com os impostos de vocês tem licença pra matar
Ela é a polícia, e ainda por cima militar
Ku Klux Klan fardada, algoz do proletariado
Braço armado desse Estado Burguês
Com os ou sem as UPPs tem licença pra matar
Ela é a polícia, e ainda por cima militar





Sobre o Autor:
Rafael Freitas
Rafael da Silva Freitas: Nasceu no dia 29 de dezembro de 1982 em Santa Maria, RS. Historiador. Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na rádio A Voz do Morro. Colunista no Jornal de Viamão.

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