Depois da Revolução, Chaves não terá mais graça.

Montagem com Kiko usando um keep comunista.

Chaves é um sucesso não só no Brasil, mas em toda américa latina. No entanto, não teve o mesmo desempenho em países desenvolvidos. E isso não é um acaso, tão pouco se deve a proximidade linguística, mas sim a proximidade de realidades. Todos os problemas sociais encenados no seriado podem ser relacionados de uma forma ou de outra com a vida de qualquer latino-americano. A precarização generalizada e o forte contraste das desigualdades sociais são marca registrada do capitalismo dependente existente nesses países. E é por isso que, em uma sociedade diferente, ele não terá mais a mesma graça!

Em uma sociedade socialista, o desemprego já não será mais um problema para o Seu Madruga (Don Rámon), retratado na série muitas vezes como um vagabundo, mas que na verdade coleciona um extenso leque de habilidades e anseios pessoais, se estendendo da construção e marcenaria até a aptidão para a música e o esporte. Com os trabalhadores gerindo coletivamente os meios de produção, provavelmente ele teria um uso social para todas essas habilidades, e terá tempo de desenvolvê-las, já que o tempo necessário para produção seria reduzido pela automação e divisão de diversas tarefas, coisas que hoje tiram emprego e priorizam principalmente a população menos privilegiada, da qual certamente o personagem faz parte.

Em uma sociedade socialista, o garoto Chaves não andará dormindo a noite em barris pelo bairro, sem saber se teria o que comer no café da manhã, se sujeitando a situações humilhantes por um sanduíche de presunto. Temos um belo exemplo disso aqui mesmo na América Latina. Em uma sociedade mais solidária e construída para atender as necessidades básicas e sociais de todos, as nossas crianças teriam toda assistência necessária para crescerem livres, saudáveis e felizes, com um teto sobre suas cabeças e alimentação garantida. Não faz o menor sentido que tenhamos tanto abrigo vazio com pessoas precisando de um lugar pra se abrigar. Não faz o menor sentido que as prateleiras do supermercado sejam repostas constantemente para aparentarem estar cheias enquanto milhões ficam privados do consumo desses itens já produzidos.

Em uma sociedade socialista, as pessoas não se acharão melhor que as outras por sua renda ou posição social. As pessoas serão valorizadas pela simples fato de existirem enquanto seres humanos, serão enaltecidas pelo seu talento, pela contribuição que fizerem ao coletivo. No socialismo não haverá mais espaço para a “gentalha”, não haverá mais espaço para o estamento social marginalizado, espezinhado, desprezado. O socialismo não se baseia na exclusão, não cresce com a exploração e nem precisa que exista gente na miséria. Pelo contrário. Uma sociedade socialista é mais rica, inclusiva e próspera na medida em que todos os seus membros se enriquecem e desenvolvem a si mesmos. No socialismo, a liberdade de um não limita a do outro, mas a estende.

Em uma sociedade socialista, o Chaves não terá mais graça pois as pessoas não mais se identificarão nas situações encenadas ali. Não fará mais sentido para além da mera curiosidade historiográfica a existência de pessoas cheias de capacidades e desempregadas. A fome e o abandono infantil serão apenas um registro de período sombrio na história da humanidade. Talvez, nessa sociedade, o programa seja visto com outros olhos. Olhos curiosos de uma geração que não mais conviveu com as mazelas do capitalismo. Mas não terá mais graça, assim como muitas coisas que antes eram motivo de chacota e piada, para nós hoje soa ofensivo e de mal gosto.

É por este tipo de sociedade que eu luto.

Por uma sociedade onde Chaves saia do ar não por causa de brigas contratuais entre oligarcas da mídia, mas porque ele não fará mais sentido.


Sobre o Autor:
Luiz Paulo Lindenmaier: é morador de Alvorada-RS, trabalhador do setor de tecnologia da informação, militante do Partido Comunista Brasileiro e Unidade Classista.


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