BRASIL SÉCULO XXI – colônia de exploração

Industria  de roupa

Por muitas décadas, historiadores e livros didáticos criaram a ideia de “colônias de exploração” para justificar o subdesenvolvimento dos países da América Latina – entre eles o Brasil. De acordo com esta ideia/tese, os países latino-americanos seriam atrasados e desiguais porque seu modelo colonial foi diferente do modelo colonial dos Estados Unidos e Canadá. Estes seriam “colônias de povoamento”, onde os colonos chegaram para povoar; ou seja, fazer fortuna e permanecer nas colônias. Enquanto que, no caso das “colônias de exploração” (países da América Latina), os colonos vinham enriquecer para mandar a sua riqueza para a metrópole. A metrópole fica rica, enquanto a colônia se torna cada vez mais pobre e dependente.

Essa dualidade exploração/povoamento está entrando em desuso. Talvez seja usado algumas vezes como “transposição didática”. O fato é que colônias são colônias! O que quer dizer que: não existem modelos preestabelecidos, mas todo colono tem por objetivo explorar sua área colonial, a intensidade e a finalidade da exploração que podem se diferenciar em cada lugar e época.

Passando dos séculos XVII e XVIII para o século XXI. Nos dias atuais, tudo indica que o Brasil está se tornado, de fato, uma colônia de exploração!

Exploração do trabalho!

Com a nova lei trabalhista de 2017 o que vale é o “negociado acima do trabalhado”. Em outras palavras, o que vale é a vontade do capitalista, que agora está, legalmente, acima das leis. Desde que a CLT foi decretada em 1943, os capitalistas brasileiros (acanhados e submissos frente ao capitalismo internacional) nunca aceitaram que o trabalhador tivesse direitos sociais. A mentalidade escravista domina a mente do capitalista brasileiro: prefere um escravo a um trabalhador que tenha jornadas justas de trabalho, salários dignos e férias remuneradas. Não é a toa que desde 1943 a CLT foi mutilada (principalmente no período da ditadura militar de 1964 a 1988 e nos anos 1990 e 2000, na vigência dos governos petistas[1]).

Para piorar foi criado pela direita o falso discurso de que “o trabalhador é muito oneroso para o empresário”. Ora, se há impostos sobre os empresários, porque eles não pressionam a elaboração de leis que beneficiem seu trabalhador e ao mesmo tempo lhes garantam lucros? É muito mais plausível e inteligente do que alimentar essa ideia de que o trabalhador é “muito caro”. Sem falar que o salário-mínimo no Brasil deveria passar dos 4 mil reais – e hoje não chega aos 1 mil. A grande causa da relação capital-trabalho no Brasil deveria ser garantir boas condições de vida para o trabalhador e bons negócios para o empresário (esta ideia é muito mais de um Estado de Bem Estar social de cunho reformista do que socialista ou comunista).

O desmonte trabalhista jogou milhões no brutal dilema: ou se sujeita a trabalhar muito para ganhar pouco (afinal o trabalhador não é mais um trabalhador é um “colaborador”), ou amarga o desemprego. E bem sabemos que quanto mais desempregados, maior as chances das pessoas toparem qualquer coisa por dinheiro. E até agora o desemprego continua em níveis alarmantes e desumanos[2]

Diante disso, o governo neoliberal entreguista/golpista pretende atrair investimentos para o Brasil. O que quer dizer: o governo quer que as multinacionais venham para nosso país e encontrem uma massa marginalizada de desempregados dispostos a tudo para trabalhar!

E é só o início da exploração. Se o desmonte a previdência pública foi aprovado, é possível que voltemos a chamar o trabalhador de “escravizados livres” (será que já não era?).

O Brasil, assim como os demais países BRICS estão se tornando mercados abertos para mão de obra barata, disponível e dócil para as multinacionais estrangeiras explorar[3]

Exploração de recursos naturais

Exploração dos nossos recursos naturais!

O Brasil é um país rico naturalmente. Isto atraí a cobiça do imperialismo parasita – que não se contenta em destruir os recursos naturais de seus países e agora busca esses recursos em outros. Neste sentido, a água será o bem em disputa no século XXI – tal como o petróleo tem sido no século XX. O Brasil tem em seu território uma riqueza inestimável: o Aquífero Guarani. “Considerado o maior reservatório subterrâneo de água doce do planeta, o Aquífero Guarani possui cerca de 1,2 milhão de quilômetros quadrados, estendendo-se desde a Bacia Sedimentar do Paraná até a Bacia do Chaco–Paraná, estando presente em quatro países da América do Sul: Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina. No Brasil, esse aquífero se estende pelo subsolo de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Não se sabe com precisão a quantidade de água armazenada no Aquífero Guarani, no entanto, conforme a Agência Nacional de Águas (ANA), as reservas permanentes de água são da ordem de 45 mil quilômetros cúbicos, sendo que aproximadamente 65% desse total está localizado no território brasileiro.[4]

Além disso, estima-se que no Brasil está cerca de 9% de todas as reservas minerais do mundo! Petróleo, carvão mineral, diamante, minério de ferro, bauxita (usada na produção de cimento), cobre, estanho (usado na indústria automobilística e em condutores), manganês (usado na produção de aço e de moedas), níquel (usado na odontologia, em ímãs e na fabricação de cordas para instrumentos musicais), ouro, nióbio (usado na produção de instrumentos cirúrgicos, supercondutores e produção de aço); estes são apenas alguns dos minerais encontrados em nosso território.

O avanço do capitalismo neoliberal, colocado em prática por seus lacaios nas esferas políticas, vem explorando o nosso país das mais diversas formas. E só tende a piorar, caso mais projetos como estes entrem na pauta política.

Se o avanço desta colonização do século XXI continuar, vamos virar colônias das grandes corporações internacionais; que já não se concentram em apenas um país (ao contrário, usa as estruturas de certos países para manter seu controle nas mais diversas partes do mundo). Hoje, não é apenas os Estados Unidos e seu imperialismo que está a todo custo tentando submeter os mais diversos países. A China, com sua política estranha (socialismo de mercado? Capitalismo Socialismo?), vem crescendo e aqui no Brasil já se mostra interesse no nosso potencial energético.

Ou nos submetemos ou resistimos!



Notas:

[1] Para tirar a prova acesse: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm
[2] Desemprego fica em 12,2% em janeiro de 2018 e atinge 12,7 milhões de pessoas:
https://g1.globo.com/economia/concursos-e-emprego/noticia/desemprego-fica-em-122-em-janeiro-de-2018.ghtml
[3] Para saber mais leia “Lumpemproletarização do Trabalhador Brasileiro”, disponível em:
http://geaciprianobarata.blogspot.com.br/2018/02/lumpemproletarizacao-do-trabalhador.html
[4] http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/aquifero-guarani.htm


Sobre o Autor:
Fábio Melo
Fábio Melo: Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Pesquisa sobre História Social da América e Educação na América (América Latina e Estados Unidos). Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na rádio A Voz do Morro. Tem diversos textos escritos sobre educação, cultura e política. 

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