A 4ª REVOLUÇÃO INDUSTRIAL


Uma nova etapa no processo de produção de mercadorias, serviços e tecnologias está sem desenvolvendo neste início do século XXI. Esta nova etapa é conhecida como Quarta Revolução Industrial (ou Revolução 4.0). O termo foi criado pelo economista alemão Klaus Schwab, um dos idealizadores do Fórum Econômico Mundial de Davos. Para Schwab: “Estamos a bordo de uma revolução tecnológica que transformará fundamentalmente a forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos. Em sua escala, alcance e complexidade, a transformação será diferente de qualquer coisa que o ser humano tenha experimentado antes”[1]

A revolução 4.0 acontece após três processos históricos anteriores. A “primeira revolução industrial” foi marcada pela mecanização da produção, entre 1760 e 1830. A segunda, por volta de 1850, trouxe a eletricidade, o petróleo e permitiu a manufatura em massa. E a terceira, no século 20, foi marcada pela tecnologia da informação, as telecomunicações e a tecnologia aeroespacial.

Agora, a quarta mudança traz consigo uma tendência à automatização total – ou seja, máquinas que controlam máquinas.

A revolução 4.0 afeta diretamente as relações de trabalho. Primeiro, porque as máquinas já estão tirando os postos de trabalho de homens e mulheres. Segundo, só vai conseguir acesso a um bom trabalho aqueles que têm condições de manter estudos e acesso a altas tecnologias e informações. Terceiro, os trabalhadores de países subdesenvolvidos vão perder (já estão perdendo, como no caso do Brasil, desde a aprovação do desmonte da CLT em 2017) direitos trabalhistas históricos para se adequar as regras do mercado de trabalho: que vai exigir mais horas de trabalho e salários menores – também maior qualificação do trabalhador –; além da tendência ao “trabalho autônomo”, sem qualquer vínculo formal com uma empresa ou corporação. O trabalho assalariado passou por diversas transformações, desde a primeira revolução industrial, passando pelos modelos fordista e toyotista[2].

Prestadores de serviço

“O que se verifica, pois, no capitalismo contemporâneo, é a precarização das relações de trabalho. Os novos postos de trabalho que surgem em virtude da divisão internacional do trabalho e das inovações tecnológicas não mais oferecem, na sua grande maioria, as garantias sociais e trabalhistas, conquistadas pelos trabalhadores ao longo de anos de luta operária. Isto porque, decorrente da estratégia empresarial de eliminar o ócio do trabalhador, introduziu-se a flexibilidade da organização produtiva e, por consequência, do próprio trabalhador. Outrora, a empresa contratava o empregado. Hoje, ela contrata a prestação de serviços, forçando os antigos operários a jogarem-se na arriscada tarefa de constituírem pequenas empresas prestadoras de serviços. Com esta estratégia, as empresas diminuem o custo do trabalho, porquanto não têm de pagar o tempo morto e, ao mesmo tempo, aumentam a produtividade, pois os prestadores de serviço, em razão da competitividade, trabalham à exaustão para atrair a clientela. Os ex-empregadores, nesse contexto, só obtêm vantagens, enquanto que o ex-empregado perde a segurança que antes possuía”[3].

A precarização do trabalho também é uma exigência da globalização[4] , que defende a irracionalidade da competitividade entre países. Ou seja, o país que tem trabalhadores com salários mais baixos e com maior carga horária diária de trabalho é alvo das multinacionais e dos fluxos internacionais de capitais.

Ainda há a questão dos países subdesenvolvidos. Historicamente exportadores de matérias-primas, eles vão importar cada vez mais tecnologias estrangeiras para extrair essas matérias-primas. A dependência dos países desenvolvidos vai ficar mais forte – a não ser que os governos e empresas dos países subdesenvolvidos se juntem para criar postos de trabalho e comecem a valorizar o capital intelectual e educacional das pessoas.

Alguns processos históricos são irreversíveis. Os governos e as corporações acreditam que não se deve perder o “trem da história”. Os avanços tecnológicos fazem a 4ª etapa da revolução industrial se acelerar cada vez mais. Os governos e a sociedade civil necessitam pensar na imensa massa trabalhadora dispensada do processo produtivo. Homens e mulheres que não vão encontrar postos de trabalho em lugar nenhum, pois as máquinas tomam seus lugares e produzem lucro sem ter exigências de salário, ou aposentadorias dignas. Se por um lado, a revolução 4.0 tem seus resultados perversos, ela pode abrir espaço para, talvez, as grandes questões do século XXI: como construir um Estado de bem-estar social para todos diante dos avanços tecnológicos que geram desemprego? Como acabar com as desigualdades sociais e econômicas em tempos de concentração de riqueza? Será que o trabalho como o enxergamos atualmente será ressignificado? O que fazer com o crescente aumento do desemprego? Os recursos naturais vão acabar? O planeta é capaz de sobreviver ao capitalismo? A raça humana vai sobreviver ao capitalismo?


Notas:

1 https://www.bbc.com/portuguese/geral-37658309
2 Para saber mais acesse: http://geaciprianobarata.blogspot.com/2017/06/fordismo-e-toyotismo.html
3 http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.phpn_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=1756
4 http://geaciprianobarata.blogspot.com/2017/11/a-globalizacao.html



Sobre o Autor:
Fábio Melo
Fábio Melo: Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Pesquisa sobre História Social da América e Educação na América (América Latina e Estados Unidos). Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na rádio A Voz do Morro. Tem diversos textos escritos sobre educação, cultura e política. 

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