O GENOCÍDIO INDÍGENA NO BRASIL DURANTE A PANDEMIA DO NOVO CORONAVÍRUS


A reunião de Jair Bolsonaro com seus ministros, no dia 22 de abril é chocante, muito mais pelo seu conteúdo do que pelo palavreado chulo e grotesco utilizado. Um dos relatos foi o do “ministro” do meio ambiente Ricardo Salles. Segundo ele “Nós temos apossibilidade neste momento, que a atenção da imprensa está voltada quase queexclusivamente para covid-19... A oportunidade que nós temos, que a imprensaestá nos dando um pouco de alívio nos outros temas, é passar as reformas infralegais de desregulamentação, simplificação, todas as reformas que o mundointeiro cobrou”. Essa fala só traz os verdadeiros objetivos do “ministro do meio ambiente”: destruir o meio ambiente! Por mais contraditório que seja, é isso que ele quer. Mas, mais que destruir o meio ambiente, o governo está sendo responsável pra mais um genocídio indígena no Brasil.


Sônia Guajajara em protesto contra política de demarcação de terras do governo Jair Bolsonaro

Em 2019, houve grande comoçãopública devido às queimadas na Amazônia. Em 2020, o número de queimadas nãoparou de crescer. Em paralelo à destruição da Amazônia, há o GENOCÍDIO INDÍGENA, que só cresceu nos anos de governo Bolsonaro, desde antes do surgimento da pandemia do novo Coronavirus. Só no ano de 2019 houve um triste recorde de mortes de lideranças indígenas. Para piorar a situação dos povos originários, a pandemia de COVID-19 também mata. “A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil(APIB) conta que 2.390 indígenas adoeceram de covid-19 e desses 236 morreram.Já foram 93 povos atingidos em um total de 305 no país.”

Um dos primeiros casos de indígena infectado no Brasil, aconteceu em Santo Antônio do Içá (Amazonas), na região do Alto Solimões. Foi uma indígena de 20 anos, etnia kokama, e nessa oportunidade também testaram positivo a sua mãe, o seu filho e primo, por que ela recebeu cuidado de um médico infectado pelo novo Coronavírus. Uma das primeiras mortes de indígena por COVID 19, aconteceu em 19 de março, na Vila Alter do Chão, em Santarém, a vítima foi uma senhora de etnia borari, de 87 anos que teve contato com pessoas que vieram de fora do Pará. A melhor forma de prevenção para as dezenas de comunidades indígenas isoladas dos não indígenas é se manter confinados em suas aldeias, já que o COVID-19 e demais doenças que mataram os povos originais tiveram como vetor de contágio os não indígenas. Entre os não indígenas também estão os madeireiros, narcotraficantes, e outros invasores das aldeias, que podem ser vetores e serem causadores do genocídio.

Em Rondônia, um indígena de etnia karitana, morreu de COVID-19, no dia 25 de maio, ele foi o primeiro indígena a falecer dessa doença nesse estado. No sul da Bahia, a primeira morte de indígena por COVID-19 aconteceu no dia 17 de maio, na aldeia Tupinambá de Olivença, na cidade de Ilhéus. O homem era um idoso de cerca de 80 anos, e infectou pelo menos treze pessoas em sua aldeia. No Distrito Federal, a primeira pessoa a morrer de COVID-19 foi um indígena da etnia Pareci, chamava-se Israel Tiago Martins, tinha 46 anos e não vivia em uma aldeia.

Estes fatos, são mais um episódio do histórico genocídio indígena. O desmatamento que aumentou após a vitória eleitoral do fascista Jair Bolsonaro, durante a pandemia essa prática cresce cada vez mais. Invasões de garimpeiros às aldeias indígenas também só aumentam. Os indígenas convivem com assistência médica precária, faltas de leitos e respiradores. Bolsonaro vetou itens importantes do Projeto de Lei 1141/2020, de autoria da deputada federal Joenia Wapichani (REDE-RR), que estabelecia um plano de enfrentamento do Coronavírus pelos povos originais. “O presidente Jair Bolsonaro vetou itens que obrigavam ogoverno a garantir a esses povos o acesso à água potável; a distribuirgratuitamente materiais de higiene, limpeza e de desinfecção; a ofertaremergencialmente leitos hospitalares e de terapia intensiva; e a comprar ventiladorese máquinas de oxigenação sanguínea”. Um governo que veta acesso à água, higiene e hospital pode ser chamado do que? Genocida é a única palavra cabível neste contexto.

Além dessa situação terrível, muitos indígenas são obrigados a atravessarem longas distâncias para obterem assistência dos governos, como bolsa família ou auxílio emergencial, em lugares tão distantes de suas aldeias e que são palco de tantas aglomerações. Há etnias que sofrem risco de desaparecer, se esse descaso da sociedade e dos governos aos indígenas permanecer vigente. Em março, o governoBolsonaro já tinha sido denunciado na ONU por risco de genocídio indígena; mas ao que parece a ONU está mais preocupada em resgatar o neoliberalismo da falência do que a vida dos povos originais do Brasil.

Os modos de vida coletivistas de muitos povos originários no Brasil criam uma exposição maior às doenças infecciosas, por viverem de modo distinto das pessoas não indígenas. Grande parte dos povos indígenas vive em casas coletivas, compartilham utensílios domésticos e outros objetos, favorecendo as situações de contágio. Para o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, os indígenas contaminados têm 98% a mais de chances de morrer do que indivíduos de cor branca. Ou seja, perigo de um genocídio está presente, hoje mais uma doença é trazida pelo homem branco aos povos indígenas.

Quando Jair Bolsonaro era deputado federal, afirmava: “se eu chegar lá, não haverá mais um centímetro demarcado de terras para indígenas”. E ele “chegou lá”, ocupou o cargo de presidente da república, está indo além do que prometeu, está viabilizando novo genocídio indígena. O governo Bolsonaro expressa na atualidade como funciona um estado tomado pelo racismo estrutural. Bolsonaro e seus ministros estão fazendo de tudo para acabar com aquilo que deveriam zelar. É como se um Papa lutasse para destruir a Igreja Católica.



Sobre o autor:

Rafael Freitas: Nasceu no dia 29 de dezembro de 1982 em Santa Maria, RS. Historiador. Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Produtor e radialista do programa "História em Pauta", que já passou por várias rádios comunitárias de Porto Alegre e Alvorada e atualmente é transmitido na rádio web 3W. Colunista no Jornal de Opinião (do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Alvorada-SIMA) e no Jornal de Viamão.







Sobre o autor:

Fábio Melo: Nasceu em Porto Alegre, RS. Historiador. Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Pesquisa sobre História Social da América e Educação na América (América Latina e Estados Unidos). Produtor e radialista do programa "História em Pauta", que já passou por várias rádios comunitárias de Porto Alegre e Alvorada e atualmente é transmitido na rádio web 3W. Professor de História e Geografia. Tem diversos textos escritos sobre educação, cultura e política.





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