Canga era a parte de cima que os bois levavam e os mantinha
presos uns nos outros para puxarem as carroças. Gangaceiro fazia alusão aos
bandidos que levavam grandes "cangas" nas costas ou presas no corpo:
armas, munição, facas, sacos de moedas, alimentos, etc.
Lampião não foi o criador do cangaço, esse era um fenômeno
que acontecia desde 1840 no nordeste. Resultado da miséria do sertão e a
violência dos coronéis, a brutalidade dos cangaceiros surgiu em meio a catinga
como um pesadelo gerado à sombra da desigualdade social.
Lampião e Maria Bonita |
Virgulino Ferreira da Silva (1898-1938), teria ficado
conhecido pelo apelido de Lampião pela sua habilidade em atirar com a
espingarda. Seria tão rápido no manejo que o espaço entre um tiro e outro
chegava a iluminar a escuridão. Entrou para o cangaço em 1918 após uma briga
entre famílias onde seu pai acabou morto por um policial.
Lampião liderava bandos de 80 homens divididos em sub
grupos, usavam armas como a espingarda mauser e pistolas automáticas alemãs.
Suas atividades consistiam em sobreviver de roubos, sequestros e extorsões. O
bando atuou por 20 anos e utilizava o terror amplamente.
Ficou tão conhecido que em 1930 até foi noticiado no New
York Times e mais tarde o jornalista Benjamin Abrahão Motta iria fazer um
grande trabalho sobre ele, inclusive com
fotos e filmagens.
O capitão, como seus subordinados o chamavam, levava um
grande punhal que guardava na cintura, era utilizando perfurando a vítima no
espaço vazio entre o pescoço e o peito. Lampião gostava de dar exemplos de força
através de atos públicos de violência extrema.
Contam que ao invadir um povoado fez um casal acusado de
traição ficar nu e andar a cavalo pela comunidade, depois de convocar todas as
pessoas para ver, sangrou com o punhal o
marido que urrava de dor enquanto desferia uma surra de facão na esposa
grávida. Em outra ocasião após vencer em combate após árduo tiroteio, ordenou
que abrissem a barriga de um dos inimigos mortos, que era mais obeso, para lhe
tirarem a gordura que serviria para lubrificar as armas como óleo.
Em outra feita,
Lampião invadiu uma cidade,
aprisionou as autoridades e 7 policias.
Foi almoçar e depois ao cinema,
fez um baile e no final libertou todo os presos matando um por um dos
policiais. Antes de ir embora estuprou a
esposa de um latifundiário da região e a matou. Quem ele não matava servia para
levar sua fama, portanto lhe agradava
marcar com ferro de gado o rosto de mulheres,
castrar e tirar os olhos dos homens.
Era devoto do padre Cícero,
e conseguiu o encontrar no ano de 1926.
O padre, que era considerado
santo na região, lhe pediu para combater
a coluna Prestes, que andava pela
região. Assim recebeu munição e
rifles, bem como até mesmo apoio do
governador.
A coluna Prestes tinha 600 homens aproximadamente, Lampião já havia enfrentado um efetivo de 400
soldados da volante, força policial que
combatia o cangaço. Jamais encontrou o
cavaleiro da esperança e mais tarde desistiu da empreitada.
Lampião foi assassinado em 1938 durante uma emboscada em
Angicos liderada pelo Tenente João Bezerra.
O capitão e a sua esposa Maria Bonita,
mais os companheiros foram decapitados e tiveram as cabeças expostas em
um cortejo macabro que passou por algumas cidades as mostrando como troféus.
A história do Brasil é marcada por violência e desigualdade
social. O surgimento de mitos populares
como Lampião, expressava um pouco do anseio e desespero perante a
impotência que o povo do sertão sentia em sua submissão às duras condições do
nordeste.
Sobre o autor:
Everton Santos: Natural de São Borja. Graduado em História na UNIASSELVI- IERGS. Organizador do Ensaio de Rua e Ensaio de Todos. Autor do livro "O sol dos malditos".
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