A autonomia do Banco Central e o silêncio da esquerda

O caso da Mariana Ferrer é preocupante, uma vez que esse julgamento do caso como "estupro culposo" abre precedentes para que outros casos sejam julgados da mesma maneira, inocentando estupradores, especialmente aqueles revestidos do poder financeiro ou vindos de famílias influentes.

 

Outra coisa gravemente preocupante aconteceu no mesmo dia: a votação no Senado sobre a autonomia do Banco Central, a qual foi aprovada pelo Senado e irá para a Câmara. Caso seja aprovada e sancionada, o presidente do BC atuará por mandatos de quatro anos, infelizmente de forma não paralela ao governo federal eleito. Ou seja, poderão, a partir disso, existir governos populares eleitos convivendo com gestões neoliberais e até ultraliberais do BC sem que o Presidente da República, sua equipe ou o Congresso possam fazer absolutamente nada, estando reféns.



Sede do Banco Central, em Brasília. 

 

O "estupro culposo" ocupou e vem ocupando os "trending topics", seguido pela eleição estadunidense. Quanto à autonomia do Banco Central, o caso está tão apagado que pouco tem havido discussão a respeito. No dia da votação, o único que vi movimentar o assunto foi Ciro Gomes juntamente ao PDT e sua militância trabalhista. Dias atrás, Roberto Requião e Haddad também estavam discutindo a respeito.

 

Fica minha dúvida: o pós-modernismo se tornou hegemônico a ponto de acabar com qualquer hierarquia que possa haver entre os problemas e pautas ou simplesmente qualquer pauta de caráter econômico/classista/nacional está definitivamente fora da ordem do dia? Tenho percebido isso nos episódios da tentativa de venda da Embraer, nos leilões do Pré-Sal e em todos os demais casos que envolvem a espoliação do patrimônio nacional e outras formas graves de avanço do capital estrangeiro sobre nosso país. Em todos esses casos, os trabalhistas tem sido os poucos que tenho visto se manifestar, enquanto os demais, na maioria das vezes, seguem mortos, tanto militância, quanto líderes e páginas dos partidos.

 

Me espanta o quanto nós nos tornamos inofensivos até mesmo na internet. Nos deixamos levar pelos algoritmos, surfamos nas ondas do momento, vamos com as outras...

 

Sim, concordo, os senadores foram pilantras em marcar essa votação bem para o dia da eleição estadunidense, sabendo que todos estaríamos compenetrados nela. No entanto me espanta o quanto os estamos ajudando sendo trouxas. Ou será que lá no fundo, bem no fundo, o imperialismo e o capital deixaram de ser ameaças faz tempo? Será que não estamos bem contentes com esse papel de "esquerda dos costumes" à moda estadunidense?


SOBRE O AUTOR:




Thomaz Joezer Herler:
 Nascido no Rio de Janeiro/RJ em 1989. Licenciado em História no ano de 2012 pela UFMS/Campus do Pantanal. Mestre em História pela Unioeste/Campus de Marechal Candido Rondon, com dissertação defendida em 2015. Tem como objetos de estudo a Ditadura Empresarial-Militar brasileira, organizações armadas revolucionárias e resistentes e a revolução brasileira.

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